Prefeitos fogem da Venezuela
Segundo analistas, forçar opositores a sair da Venezuela é uma estratégia de Maduro para escolher seus adversários políticos
Seis prefeitos eleitos pela oposição em 2013 saíram da Venezuela entre julho e agosto para escapar da perseguição do governo de Nicolás Maduro. Outros cinco estão presos.
Omar Lares disse que conseguiu fugir pela porta dos fundos de sua casa quando viu dezenas de policiais chegarem ao local no dia 30 de julho, data da eleição da Assembleia Constituinte venezuelana convocada por Nicolás Maduro e contestada pela oposição. Prefeito do município Campos Elías, em Mérida, ele havia se recusado a cumprir a ordem federal de proibir protestos contra a votação.
Mas seu filho mais velho, Juan Pedro, foi pego e está há 98 dias em uma prisão em Caracas. Lares sustenta que ele está “sequestrado”, porque não aparece em nenhuma lista oficial de detidos nem é alvo de uma acusação formal do Estado. Dois dias depois da invasão de sua casa, o prefeito conseguiu cruzar a fronteira com a Colômbia e passou a integrar a lista opositores transformados em exilados políticos.
Lares faz parte de um grupo de seis prefeitos eleitos pela oposição que fugiram da Venezuela entre julho e agosto para escapar da perseguição de Maduro. Dos chefes municipais eleitos em 2013, como ele, quatro estão na prisão ou em detenção domiciliar, entre os quais Antonio Ledezma, de Caracas.
“Pela primeira vez em meus 47 anos de vida eu me encontro em um limbo, sem saber o que acontecerá. Minha prioridade é a libertação do meu filho”, afirmou Lares, que está na Colômbia.
Destituído do cargo pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo governo, o prefeito de Diego Bautista Urbaneja, Gustavo Marcano, disse que passou um mês na clandestinidade. Fugiu do país por via marítima. Em 2 de agosto chegou aos EUA, onde passou a viver com a mulher e os filhos de 7 e 9 anos. “O mais duro é começar uma vida do zero e deixar para trás os amigos, os vizinhos e a família”, afirmou. Marcano prepara documentos para pedir asilo político nos EUA. Até lá, não pode trabalhar legalmente.
Coordenador nacional do opositor Vontade Popular, Carlos Vecchio fugiu da Venezuela em 2014, depois de passar três meses na clandestinidade. Em fevereiro daquele ano, foi condenado à prisão sob as mesmas acusações imputadas ao líder de seu partido, Leopoldo López, em razão do apoio às manifestações contra Maduro. Entre elas, danos à propriedade e incêndio intencional.
Sua mulher, Ana Victoria, estava no sexto mês de gravidez quando Vecchio iniciou sua fuga. O parto ocorreu cerca de 30 dias depois de ambos se reencontrarem nos EUA. Hoje, o casal vive em Miami com o filho Sebastián, de 3 anos. Vecchio nunca mais voltou à Venezuela. “Eu não me sinto livre, porque não quero estar aqui.”
A ofensiva contra quadros da oposição afeta sua capacidade de organização e a habilidade de se contrapor a Maduro, afirmou Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas. “Essa é uma depuração intencional do sistema político promovida pelo governo. É difícil a oposição ser efetiva se muitos dos que integram a sua espinha dorsal estão detidos ou no exílio.”
Desde o agravamento da crise, quase 2 milhões de venezuelanos deixaram seu país em direção aos EUA, Brasil, Espanha e outros países. No ano passado,
eles lideraram os pedidos de asilo nos EUA e na Espanha.
“A oposição é perseguida e opera em condições muito precárias”, disse Michael Penfold, professor do Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA), de Caracas. De seus quatro potenciais candidatos à eleição presidencial de 2018, dois foram impedidos de se apresentar e um terceiro perdeu a eleição para governador. “Maduro também quer escolher seu opositor na disputa.”