O Estado de S. Paulo

Temperatur­a elevada na primeira série italiana

‘Suburra: Sangue em Roma’, estreia das produções feitas na Itália da Netflix, traz a tríade que costuma render ótimos roteiros: fé, política e máfia

- Pedro Venceslau

Suburra: Sangue em Roma, a primeira série italiana original da plataforma Netflix, reuniu no mesmo pacote três elementos que costumam render ótimos roteiros para o cinema e a TV: fé, política e máfia.

O ritmo lembra muito Gomorra, a sequência de três temporadas que mostrou a máfia sem smoking. Já a estética bebe na fonte da Marseille, a primeira série original francesa da Netflix que apresentou a cidade como personagem principal.

No caso de Suburra, a série leva a uma imersão em Roma e seu entorno, além de mostrar os corredores do Vaticano. A sequência de 10 episódios começa com um padre que integra a cúpula burocrátic­a da Igreja Católica cruzando a cidade até chegar a uma mansão onde foi recebido por prostituta­s e cocaína, muita cocaína.

A farra introduz a trama que move a série: o Vaticano vai vender dois lotes de terra em uma cidade costeira próxima a Roma. O negócio interessa a máfia, que mobiliza seus políticos de plantão.

O cardápio de personagen­s é saboroso e muito bem construído. Tem um vereador progressis­ta, idealista e ambicioso que flerta com a corrupção, mas sofre com isso, um cruel e calculista Capo di tutti capi da Máfia que detesta ostentação, anda sem escolta, dirige um carro popular e pode ser confundido com um vendedor de seguros e uma família de ciganos ricos e criminosos que é um capítulo à parte.

Da língua “secreta” falada em casa aos tapetes que ornam a mansão do clã, passando pelo Mercedes dourado na garagem, os ciganos formam uma espécie de universo paralelo na selva da metrópole.

Há em Suburra também um núcleo de mulheres poderosas que roubam a cena. A mais interessan­te delas é uma senhora de cabelos brancos que se veste como uma diva da moda, mas opera nas sombras com os gângsteres do mercado e da política.

A série também tem a estratégia bem sucedida que consagrou Damages (e foi usada em Bloodline), que é apresentar no início do episódio o desfecho dele e depois retroceder aos dias ou horas anteriores.

Por fim, a série não tem gordura. São dez episódios que esquadrinh­am 20 dias tensos entre o pedido de demissão do prefeito e a sua saída do cargo. Um rastro de sangue cruza esse caminho.

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NETFLIX Prostituta­s e cocaína. Personagen­s bem construído­s

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