Granbio tenta novo aporte do BNDES
Aporte. Protagonista de um dos maiores litígios empresariais do País, família criou projeto de etanol em 2011, após deixar o dia a dia da Odebrecht; negócio, que tem o banco como sócio e já consumiu recursos de R$ 1 bi, tenta novo aporte para conseguir da
Usina de etanol da família Gradin, sócia de 20% da Odebrecht, quer novo aporte de R$ 250 milhões do governo. Empresa já custou R$ 1 bilhão e vende energia em vez de etanol.
Cinco anos após investir cerca de R$ 1 bilhão em um projeto de etanol de segunda geração – que usa resíduos da cana-de-açúcar em sua produção –, a família Gradin ainda tenta fazer deslanchar o negócio, sua principal aposta para superar a saída tumultuada do dia a dia do grupo Odebrecht, no qual até hoje detém fatia de 20,6%. A briga entre os Gradin e os Odebrecht é uma das maiores disputas societárias em curso no País.
Batizada de GranBio, a empresa, que produz combustível a partir da palha da cana, sofreu reveses em série, que incluíram a paralisação da fábrica, incêndio no estoque de matéria-prima e briga com fornecedores. O projeto atrasou e agora precisa de mais dinheiro.
Para isso, no entanto, os Gradin precisarão da boa vontade do governo. Está prevista para a próxima quinta-feira uma assembleia para discutir com o BNDESPar, braço de participações do BNDES, novo aporte de R$ 250 milhões na empresa. O banco é o maior investidor no projeto: pagou R$ 600 milhões por 15% da GranBio em 2013. Os Gradin investiram R$ 400 milhões. Mas convencer o BNDES a colocar mais dinheiro na empresa não será fácil, afirmam fontes próximas ao banco. Procurado, o BNDES admitiu que novo aporte é necessário, mas disse não ter tomado decisão sobre o tema.
Tecnologia. Ao fundar a GranBio em 2011, Bernardo Gradin, ex-presidente da petroquímica Braskem, fechou parceria tecnológica com a italiana Mossi Ghisolfi (MG), um dos mais importantes grupos petroquímicos do mundo. Os italianos forneceriam maquinário para a usina em Alagoas. Em setembro de 2014, a fábrica começou a rodar. Mas não tardou para ficar claro que a solução vendida não funcionava. A usina só conseguia operar por poucos dias até precisar parar para reparos.
Os Gradin tentaram negociar diretamente com os donos da MG o ressarcimento, mas acabaram, segundo apurou o Estado, apelando para arbitragem na Corte de Londres após a morte de Guido Ghisolfi, em 2015. Um dos herdeiros da MG, ele era o principal interlocutor dos brasileiros. Paralelamente à disputa, os Gradin abriram processo na Justiça de Alagoas para produzir provas e mostrar que a tecnologia dos italianos não funciona.
Para piorar, a MG, com dívida de quase US$ 1 bilhão, entrou em outubro com pedido de concordata na Itália e nos EUA. O episódio reduz as chances de os Gradin serem indenizados pelos prejuízos à GranBio, que somam cerca de R$ 200 milhões, apurou o Estado.
Procurada, a MG não respondeu. A GranBio disse esperar uma solução viável com a MG e que vê a recuperação judicial do grupo como oportunidade. A empresa não confirmou se há arbitragem em curso.
Projeto de etanol hoje sobrevive com venda de energia
Os problemas enfrentados pela família Gradin atrasaram em pelo menos três anos o plano de uma segunda usina do grupo GranBio, anunciada inicialmente para 2016. E a meta de produzir 1 bilhão de litros de etanol foi jogada de 2020 para, ao menos, 2030.
Neste ano, a empresa decidiu suspender a produção do etanol de segunda geração em sua fábrica e colocá-la para gerar energia. Erguida em São Miguel dos Campos (AL), a primeira usina de etanol dos Gradin foi projetada para produzir 38 milhões de litros de etanol por ano. Com a medida, produziu só 5 milhões de litros em 2017.
A ideia era retomar a produção do biocombustível no início da safra, em setembro. Mas, diante dos atrasos e do prejuízo acumulado, Bernardo Gradin, presidente da GranBio, colocou a palha de cana colhida para produzir energia, aproveitando os altos preços pagos pela eletricidade no sistema Nordeste, que enfrenta seca histórica.
“A GranBio tomou uma decisão empresarial apropriada para o momento”, afirma Plinio Nastari, da Datagro, uma das mais importantes consultorias do setor sucroalcooleiro.
Segundo ele, o etanol de primeira e de segunda geração tem
forte potencial para avançar no País. O setor ainda tenta se recuperar da forte crise que se abateu sobre as usinas a partir de 2010. A falta de competitividade levou uma série delas à recuperação judicial.
A produção de etanol na usina de Alagoas, mesmo que restrita, só é possível hoje porque os Gradin decidiram investir no desenvolvimento de tecnologias que substituíssem a solução vendida pela italiana Beta Renewables, do grupo Mossi Ghisolfi. Apostaram em patentes próprias por meio de sua subsidiária americana, a API, na qual detém 25%.
Colocando a usina para gerar energia, a GranBio deve faturar cerca de R$ 90 milhões neste ano, valor que espera elevar para R$ 200 milhões até 2019, quando acredita que enfim dará lucro, segundo fontes a par das projeções da companhia. Os Gradin, porém, já não se fiam no plano original da empresa. A ideia era erguer dez plantas, por R$ 4 bilhões. Agora, o objetivo é iniciar a construção da segunda usina e então checar se é possível colocar de pé as demais.
Grupo. Enquanto a GranBio tenta decolar, outros negócios da família Gradin que estão sob o guarda-chuva da GranInvestimentos avançam. O grupo foi criado com a saída de Bernardo e seu irmão, Miguel, da Odebrecht, no final de 2010, onde comandavam a petroquímica Braskem e a Odebrecht Óleo e Gás, respectivamente.
A GranEnergia, braço liderado por Miguel, é dona de empresas de apoio à indústria offshore que, juntas, devem faturar R$ 400 milhões neste ano.
Procurada, a GranBio afirmou que trajetória de pioneirismo é sempre mais difícil e que, após refazer vários desenhos de rota, está confiante de que o projeto seguirá com sucesso.