O Estado de S. Paulo

Poesia completa

Box traz os 27 livros de poesia e textos avulsos de Cecília Meireles.

- Maria Fernanda Rodrigues

Box reúne toda a obra de Cecília Meireles.

Dois volumes, 1.956 páginas, 45 anos de poesia. O box que chega agora às livrarias reúne toda a obra poética de Cecília Meireles (1901–1964) – de Espectros, sua estreia, em 1919, ao póstumo Crônica Trovada da Cidade de Sam Sebastiam. Sem contar textos dispersos descoberto­s aqui e ali.

Há cinco anos, novas edições de seus livros começaram a voltar às livrarias – muitos deles estavam esgotados e não eram reimpresso­s por causa de uma disputa entre seus herdeiros. Na virada de 2011 para 2012, a Global adquiriu os direitos de um dos lados da família. Houve mais briga, mas pelo menos hoje, cinco anos depois, o leitor encontra 45 livros desta que é uma das principais autoras brasileira­s.

A coordenaçã­o editorial do box Poesia Completa é de André Seffrin, que manteve a mesma linha da edição de 2001, feita por Antonio Carlos Secchin para a Nova Fronteira. Mas há novidades e ajustes – mais de uma centena, na fixação dos textos, conta Seffrin.

“Foi árduo, como todo trabalho de fixação de texto, embora a poesia de Cecília não apresente tantos problemas quanto a de Manuel Bandeira, por exemplo, que alterava poemas e fez isso até o fim. Em Cecília isso quase não ocorreu, mas sucessivas edições e tiragens póstumas desvirtuar­am bastante os textos originais”, explica. Datiloscri­tos da autora e estudos recentes que apontaram variações nas diferentes edições das obras serviram de base para o trabalho.

A outra novidade é que três novos poemas foram incluídos na seção Dispersos. Um deles é o Rimance às Donas de Portugal, descoberto em 2016 por Ulisses Infante, professor de literatura da Unesp de São José do Rio Preto, e antecipado com exclusivid­ade pelo Estado na época. O poema narrativo, possivelme­nte o primeiro dela, foi publicado em 31 de outubro de 1931, na revista Lusitania, da colônia portuguesa no Rio.

Os outros dois são o inédito Agrada-me o portulano, dedicado à Lélia Coelho Frota e dado por ela a Seffrin, e Pense Prossiga Pare, experiment­ação concretist­a dedicada à Flora Egídio Thomé encontrada pelo organizado­r num sebo.

É possível que outros poemas e crônicas de Cecília Meireles ainda sejam encontrado­s, acredita Seffrin. “Mal começamos a conhecer melhor a cronista Cecília, a ensaísta Cecília. Mas vivemos outros tempos e pesquisar hoje é bem mais fácil, a Hemeroteca da Biblioteca Nacional facilita tudo ou quase tudo. Certamente em breve teremos muitas novidades”, diz.

Quem assina a apresentaç­ão da obra é o poeta, ensaísta, africanist­a e imortal da Academia Brasileira de Letras Alberto da Costa e Silva, 86 anos, leitor de Cecília Meireles desde os 15. Viagem (1939) foi o primeiro que ele leu, e foi tomado de surpresa e encanto, ele escreve, porque se viu diante de uma fala que era moderna porque era antiga. “Em contraste com o que vinham fazendo os seus companheir­os de geração, Cecília Meireles valia-se de versos bem escandidos e rimas nítidas, para se procurar no mundo”, explica.

E no que ela se aproxima e se distancia de sua geração? “Digamos que ela foi o mais independen­te de nossos poetas modernos”, responde Seffrin. Ele continua: “Cecília é um dos maiores poetas de seu tempo, sem distinção geográfica ou de gênero, e só limitada pela língua portuguesa, que tanto nos isola dos grandes centros literários”.

Cecília está entre os nossos clássicos e segue sendo lida por leitores de diferentes gerações. Seus livros mais vendidos pela Global são, nesta ordem: O Menino Azul (o Itaú comprou recentemen­te nada menos que 2 milhões de exemplares para a campanha Leia para uma criança); Ou Isto ou Aquilo; Romanceiro da Inconfidên­cia ; Canção da Tarde no Campo e As Palavras Voam. Se tirarmos os infantis da lista, que costumam ser adotados em escolas, juntam-se à Romanceiro Viagem, Antologia Poética e Ilusões do Mundo.

A editora não abre detalhes sobre os números, mas informa que esses livros, com exceção do primeiro, venderam cerca de 6 mil exemplares cada um. Somada a venda de todos os títulos em catálogo, ela ultrapassa os 3 milhões de exemplares – mais de 1 milhão, então, sem contar a compra do Itaú.

Para quem quer começar a ler Cecília Meireles, André Seffrin sugere iniciar por Viagem – aquele primeiro lido por Alberto da Costa e Silva e um de seus favoritos, e que abre, como ele lembra, com o “emblemátic­o Motivo, já incorporad­o ao nosso imaginário”: “Não sou alegre nem sou triste / sou poeta”.

No box lançado agora encontramo­s alguns livros que não ganharam edições individuai­s da Global. Está ali a Cecília poeta de todos os tempos, dos volumes mais ou menos conhecidos, dos poemas de circunstân­cias e de agradecime­nto, dos grandes poemas.

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PROPRIETÁR­IOS DOS DIREITOS DE IMAGEM DE CECÍLIA MEIRELES A poeta. Obra foi construída ao longo de mais de 45 anos
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PROPRIETÁR­IOS DOS DIREITOS DE IMAGEM DE CECÍLIA MEIRELES A autora. Da estreia, com ‘Espectros’, a textos avulsos: tudo o que já foi descoberto está ali
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POESIA COMPLETA Autora: Cecília Meireles Org.: André Seffrin Editora: Global (2 volumes, 1.956 págs.; R$ 199)

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