Venezuela dá calote em dívida de US$ 28 milhões
Financeira do Delaware diz que empresa elétrica do governo chavista não pagou juros de dívida no valor de US$ 28 mi e agrava temores
Em meio à incerteza sobre o pagamento de títulos da dívida da estatal do petróleo PDVSA, o governo da Venezuela deixou de pagar ontem juros de um compromisso de menor valor, contraído pela estatal do setor elétrico, com a financeira americana Wilmington Trust, informou a empresa com sede no Estado do Delaware.
Segundo o fundo, a empresa estatal elétrica da Venezuela deu calote no pagamento de juros de uma dívida avaliada em US$ 650 milhões. Os juros, de US$ 28 milhões, teriam de ter sido pagos até a quinta-feira. A antiga Eletricidad de Caracas tornou-se a Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) depois de ter sido nacionalizada em 2007 pelo presidente Hugo Chávez. “O descumprimento do pagamento dos juros constitui quebra de contrato”, disse a empresa.
Diante do calote, a estatal venezuelana pode ser processada desde que 25% dos detentores de títulos de sua dívida concordem com uma ação judicial. A empresa não se pronunciou ontem.
O calote ocorre a três dias de uma reunião em Caracas convocada pelo presidente Nicolás Maduro com detentores da dívida pública venezuelana. Pressionado pela má gestão econômica e pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, o chavismo quer “renegociar e reestruturar” a dívida, sem deixar claro se haverá ou não um default. Estima-se que a dívida total do país seja de US$ 150 milhões.
Tensão. Ainda ontem, a PDVSA deveria pagar US$ 81 milhões de dólares de um bônus para não cair em moratória. As agências Fitch, Standard and Poor’s e Moody’s rebaixaram a classificação da dívida em virtude de investidores não terem recebido US$ 1,161 bilhão de títulos 2017 da PDVSA, que o governo disse ter começado a pagar na sexta-feira passada.
A pedido dos credores, um comitê de sociedades financeiras se reuniria ontem com a Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA) em Nova York para analisar o não
pagamento do bônus 2017. “Estamos no fim do jogo e agora se tornou uma questão de dias, não semanas, até que se confirme o não pagamento”, avaliou a consultoria Capital Economics. O governo deverá pagar, na segunda-feira, outros US$ 200 milhões, além dos juros. Ao todo, deve quitar entre US$ 1,47 bilhão e US$ 1,7 bilhão em juros dos bônus até o fim deste ano. “A renegociação e reestruturação” da dívida tem muitos obstáculos. O cenário mais possível é uma eventual moratória”, comentou Andrea Saldarriaga, analista para América Latina do centro Atlantic Council.
As sanções que os Estados Unidos impuseram à Venezuela em agosto impedem que o governo recorra a fontes externas de capital e proíbem que investidores americanos negociem a dívida venezuelana.
“Isso dificulta chegar a um acordo com seus credores”, opinou Saldarriaga. Cerca de 70% dos credores de bônus são americanos e canadenses. “A isso se soma a falta de liquidez da Venezuela”, acrescentou.
Com a economia devastada e reservas internacionais de apenas US$ 9,7 bilhões, Caracas terá de pagar, em 2018, cerca de US$ 8 bilhões. Outro obstáculo é que Maduro designou como principal negociador o vice-presidente Tareck El Aissami, que Washington incluiu em uma lista de funcionários venezuelanos sancionados.