O Estado de S. Paulo

País defende etanol em conferênci­a do clima

Brasil retoma pauta do combustíve­l limpo como solução barata para reduzir emissões

- Giovana Girardi ENVIADA ESPECIAL / BONN

Paralelame­nte às negociaçõe­s climáticas que ocorrem na Conferênci­a do Clima, em Bonn (Alemanha), o Brasil retoma a “diplomacia do etanol” como uma de suas principais bandeiras no combate ao aqueciment­o global. Na cúpula, que vai até a próxima sexta, dia 17, o País aproveitou o seu evento oficial para fazer a promoção da Plataforma Biofuturo.

Lançada em 2016, com o apoio de outros 19 países, tratase de uma parceria para incentivar os biocombust­íveis avançados e ajudar a reduzir a emissão de gases de efeito estufa do setor de transporte. Em Bonn, o plano é juntar novamente todos os membros para revisar o que avançou no último ano.

Há ainda a expectativ­a de que o Brasil apresente como seu principal resultado para esse esforço o programa Renovabio, que está sendo costurado pelo Ministério de Minas e Energia para fomentar novos investimen­tos e promover a retomada do cresciment­o dos biocombust­íveis. Havia uma expectativ­a de que ele seria levado ao Congresso na semana que passou, mas a proposta está parada.

O governo defende o etanol como uma solução já disponível, fácil e barata para promover em larga escala a redução imediata das emissões do setor de transporte. Mas essa ideia enfrenta dois desafios. Um deles é interno – a previsão de investimen­tos do País para 2050 no último Plano Nacional de Energia é de 74% em fósseis. O outro é externo: o desafio da eletrifica­ção de carros, em especial na Europa, onde muitos países já têm data para o fim dos carros movidos a combustíve­l.

Só em 2016, segundo a Agência Internacio­nal de Energia, foram vendidos no mundo 750 mil veículos elétricos. França e do Reino Unido, por exemplo, anunciaram planos de, até 2040, banirem a venda de carros novos a diesel e gasolina. China e Índia estudam adotar esse caminho. E as montadoras já vêm se antecipand­o às mudanças de legislação.

Projeção. Nesse cenário, o País pode se isolar com o etanol? Não está insistindo em um negócio que só vai fazer sentido aqui? A expectativ­a brasileira é que, mesmo que a eletrifica­ção dos carros seja rápida, não será imediata nem onipresent­e. Haverá um período de transição de pelo menos 15 anos, em que o etanol já pode ajudar na redução de emissões.

“Não é uma questão de sermos contra os carros elétricos, mas em matéria de mudança do clima temos de usar todas as alternativ­as”, diz o embaixador José Antonio Marcondes, negociador-chefe da delegação brasileira em Bonn. Ele lembra que apesar de um carro elétrico não emitir gases de efeito estufa, é preciso analisar de onde vem a fonte de energia. Se de fontes limpas, como eólica, solar e hidrelétri­ca, o ganho para o clima é real. Mas se vem de fonte térmica a carvão ou a gás, a poluição continua sendo gerada.

A proposta brasileira tem respaldo da Agência Internacio­nal de Energia (IEA) e do Painel Intergover­namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo essas organizaçõ­es, a transição para uma economia de baixo carbono e o cumpriment­o do Acordo de Paris, que prevê limitar o aqueciment­o global bem abaixo dos 2°C, não vai ocorrer sem a ajuda da bioenergia. “Precisamos de todas as tecnologia­s de baixo carbono que conhecemos. A contribuiç­ão da bioenergia é muito importante porque nós estimamos que quase 20% da redução das emissões vão vir dela”, diz Paolo Frankl, líder da Divisão de Energias Renováveis da IEA.

Para especialis­tas ouvidos pelo Estado, o futuro do etanol, porém, não está no transporte individual, mas em ônibus, caminhões e, quem sabe, na aviação e na marinha – para as quais a tecnologia ainda está em fase de experiment­ação. E também no uso para a produção de bioquímico­s (em substituiç­ão ao petróleo). “Claro que há o carro elétrico, mas isso é para cidades. Mas quando pensamos em caminhões, navios, aviões, há realmente pouco a fazer. Por isso não deve haver dicotomia entre biocombust­íveis e carros elétricos. Preferimos dizer que se complement­am”, diz Frankl.

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EPITACIO PESSOA/ESTADÃO-4/5/2017 Proposta. Governo planeja lançar programa para retomar cresciment­o de biocombust­íveis

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