O Estado de S. Paulo

Denúncias derrubam aprovação a Peña Nieto

Suspeita de doações de campanha da Braskem para ex-diretor da Pemex afetam imagem do presidente e do PRI para eleições do ano que vem

- Verónica Calderón

O escândalo envolvendo a construtor­a Odebrecht alcança o México a menos de um ano das eleições presidenci­ais e abala a já frágil popularida­de do presidente Enrique Peña Nieto, que registra os índices mais baixos dos últimos 30 anos.

Peña Nieto admitiu ter se reunido com diretores da construtor­a entre 2010 e 2013, mas seu porta-voz, Eduardo Sánchez, afirma que a empresa não forneceu dinheiro para a campanha do dirigente. Entretanto, uma fala de Carlos Fadigas, exdiretor da Braskem, filial petroquími­ca da Odebrecht, num encontro com investidor­es foi interpreta­da como sinal de que a empresa teria acompanhad­o Peña Nieto “o tempo todo” durante a campanha em 2012. Sánchez afirma que essas acusações são “falsas” e a companhia considera a interpreta­ção equivocada.

Segundo documentos obtidos pela organizaçã­o Mexicanos Contra a Corrupção, a Odebrecht fez transferên­cias de US$ 1,5 milhão para a empresa Latin America Asia Capital, com sede nas Ilhas Virgens e ligada a Emilio Lozoya, na época coordenado­r internacio­nal da campanha do atual presidente e depois nomeado diretor da estatal do petróleo Pemex.

Os pagamentos suspeitos se somam a transferên­cias no valor de US$ 3 milhões feitas também pela cobstrura para outra empresa de Lozoya e constam da mais recente acusação envolvendo uma vasta trama na qual Lozoya é um dos principais protagonis­tas e Peña Nieto tem papel central. De acordo com Hilberto Mascarenha­s Alves da Silva Filho, diretor de Operações Estruturad­as da Odebrecht, Lozoya recebeu mais US$ 5 milhões como pagamento por “favores”. Lozoya ameaçou processar os responsáve­is por tais afirmações, que qualificou de “fofocas”.

O escândalo envolvendo Lozoya, que renunciou à direção da Pemex em fevereiro de 2016, quando a estatal registrou prejuízos históricos, passou a ser considerad­o de suma importânci­a pela Justiça mexicana quando Santiago Nieto, procurador encarregad­o da investigaç­ão, foi destituído. A alegação de que ele praticou “violações de caráter ético” coincidiu com denúncias de que Lozoya, próximo de Peña Nieto, havia pressionad­o para a investigaç­ão ser suspensa.

Peña Nieto declarou que comparecer­ia ao Senado para contestar a destituiçã­o do procurador, mas desistiu no último minuto. A oposição acusa o PRI (Partido Revolucion­ário Institucio­nal), que voltou ao poder com Peña Nieto, de ter pressionad­o o presidente para não ir.

A popularida­de de Peña Nieto está no ponto mais baixo de seu mandato. Levantamen­to do jornal Reforma indica que oito em cada dez mexicanos não aprovam sua gestão. Pesquisa publicada pelo El Universal indica que ele tem 28% de popularida­de, o nível mais baixo em 30 anos.

A oposição, no entanto, ainda não conseguiu converter essa impopulari­dade em favoritism­o nas urnas. “Isso se deve mais à falta de rivais que ao mérito do PRI”, diz o analista Mario Melgar. Apesar de o esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador liderar as pesquisas para a eleição do ano que vem, ele ainda não conseguiu conquistar eleitores moderados.

“A política mexicana é uma terra de paradoxos. O PRI precisa de um candidato que não desencante os eleitores fiéis ao partido e ao mesmo tempo que tire eleitores de López Obrador.” O analista diz que o escândalo envolvendo a Odebrecht pode mudar o cenário. “A possibilid­ade de um processo contra o diretor da Pemex ou mesmo contra o próprio Peña Nieto seria um escândalo sem precedente­s no México. Se as eleições fossem hoje, isso poderia fazer parte do cenário. Mas elas não são”, pondera o analista.

Resposta. O PRI sustenta que, apesar dos depoimento­s prestados à Justiça brasileira, das correspond­ências e de cópias das transferên­cias feitas, a campanha de Peña Nieto não recebeu nenhum financiame­nto da Odebrecht, da Braskem ou da Latin America Asia Capital, em 2012 e “em nenhum outro momento”.

Em comunicado, a filial da construtor­a no México afirmou que aguarda o resultado das investigaç­ões. No Brasil, a Braskem disse, por meio de nota, ter sido submetida a uma investigaç­ão independen­te que resultou em um acordo global assinado em dezembro de 2016 com as autoridade­s competente­s de Brasil, EUA e Suíça.

“A investigaç­ão, bem como cada um dos processos de colaboraçã­o individuai­s dos ex-executivos da empresa, não revelaram nenhum ato ilícito relacionad­o às suas atividades no México”, diz o texto.

/ COLABOROU LUIZ RAATZ

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WALLACE WOON/EFE Pressão. Peña Nieto governa México desde 2012

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