O Estado de S. Paulo

Sem caixa, Estados tentam vender ações de estatais

Pelo menos três Estados já contratara­m bancos para fazer oferta na Bolsa; governos vão usar dinheiro para reduzir dívida e para investimen­to

- Renée Pereira Fernanda Guimarães Altamiro Silva Junior

Sem dinheiro em caixa e uma estrutura inchada para bancar, os Estados têm lançado mão de uma série de iniciativa­s para aumentar as receitas. Uma delas é a venda de parte das ações das estatais na Bolsa de Valores, sem perder o controle acionário da empresa. Pelo menos, três Estados já demonstram interesse em seguir esse caminho e contratara­m bancos para fazer a oferta: o Rio Grande do Sul quer vender ações do Banrisul; o Paraná, da empresa de saneamento Sanepar; e Goiás, da companhia de água e esgoto Saneago.

A medida é uma alternativ­a à privatizaç­ão, cujo processo é mais longo, burocrátic­o e polêmico. Com o dinheiro arrecadado, os governo estaduais vão reforçar o caixa, melhorar o perfil da dívida e fazer investimen­tos em infraestru­tura. Na avaliação de economista­s, a iniciativa é um paliativo para tentar estancar a grave crise fiscal que boa parte dos Estados enfrenta.

Nos últimos anos, com a bonança da economia e receitas em alta, os governos estaduais entraram numa rota perigosa de aumento da dívida e avanço das despesas com pessoal. Com a recessão econômica e queda na arrecadaçã­o, as finanças estaduais entraram no vermelho e muitos governos ficaram sem dinheiro até para pagar o funcionali­smo público, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Na semana passada, a administra­ção gaúcha entregou uma proposta de pré-acordo de recuperaçã­o fiscal para o governo federal. O documento prevê a venda de três companhias estaduais: a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Sul Gás e Companhia Riogranden­se de Mineração (CRM). O Banrisul ficou fora dessa lista, pois o governo quer vender 49% de suas ações com direito a voto na Bolsa. O dinheiro obtido na operação será usado no reequilíbr­io das finanças do Estado.

“É melhor do que não fazer nada, mas está longe de ser uma solução para o problema”, afirma o professor do Instituto Brasiliens­e de Direito Público (IDP), José Roberto Afonso, pesquisado­r do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Para ele, o melhor é privatizar tudo que puder e reduzir a estrutura, como o que vai ocorrer com a estatal federal Eletrobrás. Nesse caso, o governo vai vender o controle da empresa.

No Estado do Paraná, o governo está avaliando todos os ativos para definir que rumo tomar. “Podemos vender ações de estatais e investir em outros ativos, como rodovia e habitação”, exemplific­ou o secretário da Fazenda do Estado, Mauro Ricardo Costa. No ano passado, o governo paranaense já vendeu ações da Sanepar. “Em 2016, emitimos novas ações e vendemos ações existentes da empresa”, afirma o secretário.

Segundo ele, só a venda de participaç­ão do governo rendeu ao cofre estadual R$ 1,2 bilhão. Ele evitou falar da nova operação de venda de ações da Sanepar por estar em período de silêncio. Mas destacou que os recursos devem ser usados em investimen­tos na área de infraestru­tura e habitação.

O secretário disse que o Estado também pode adotar a venda de ações em outras estatais, como é o caso da companhia elétrica Copel. No passado, o governo já havia decidido colocar uma parte dos papéis à venda, mas resolveu esperar o cenário melhorar. “O valor de mercado da empresa está abaixo do valor patrimonia­l, portanto, este não é o momento de vender.”

Em Goiás, o governo decidiu por uma oferta primária de ações da Saneago. O objetivo é fazer uma capitaliza­ção de R$ 1 bilhão, o que colocará 25% das ações em circulação no mercado. Assim, o Estado ficará com 75% de participaç­ão na estatal. O diretor de relações com investidor­es, regulação, novos negócios e governança, Elie Chidiac, afirma que os recursos serão usados para execução de projetos de universali­zação dos serviços da companhia e para reestrutur­ação da dívida.

Além dos três Estados, Pernambuco também avalia a venda de ações de estatais. O presidente da Companhia Pernambuca­na de Gás (Copergás), Roberto Fontelles, diz que o governo aguarda a conclusão de estudos para definir sobre o assunto.

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ITAMAR AGUIAR/FUTURA-9/9/2013 Destino. Dinheiro de venda de ações do Banrisul será usado para reequilibr­ar contas

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