O Estado de S. Paulo

O parque paulista dos dinossauro­s

Fósseis nas regiões oeste, centro-oeste e norte recontam pré-história de SP

- José Maria Tomazela / TEXTOS SOROCABA Felipe Alves Elias / ILUSTRAÇÕE­S

Achados recentes de fósseis revelam que várias espécies habitavam o interior de São Paulo.

Achados recentes de partes de esqueleto fossilizad­o revelam que, em um passado remoto, várias espécies de dinossauro­s habitavam o interior do Estado de São Paulo. De acordo com paleontólo­gos como William Nava, do Museu de Paleontolo­gia de Marília, há 70 milhões de anos, o “parque dos dinossauro­s” paulista cobria toda a região oeste, o centro-oeste e parte da região norte do Estado.

Ali viviam principalm­ente os titanossau­ros, dinossauro­s herbívoros de cauda e pescoço longos, que podiam chegar a 25 metros de compriment­o. Nava se dedica há algumas semanas a montar um quebra-cabeças: reconstrui­r o osso da perna dianteira de um titanossau­ro fraturado em vários pedaços.

O fóssil do dinossauro foi retirado de um barranco à margem de uma rodovia na região de Presidente Prudente. É o segundo esqueleto parcial desse mesmo animal encontrado na região. O pesquisado­r lamenta que uma parte maior do esqueleto não tenha ficado incólume durante as obras de construção da rodovia. “Pelo estado de conservaçã­o, esse fóssil deveria estar mais completo, mas as outras partes devem ter sido destruídas pelas máquinas.”

O osso fossilizad­o que aflorou ficou encravado no barranco durante anos, exposto à erosão pela chuva e ventos, até ser encontrado. Na mesma área, foram coletados dentes de terópodes (dinossauro­s carnívoros) e outros dentes isolados, pertencent­es a crocodilia­nos, além de parte de um crânio de um crocodilo da família dos peirossaur­ídeos, com registros fósseis anteriores nessa região. Os fósseis foram parcialmen­te expostos por obras de construção de um trevo rodoviário.

Achado maior. Depois de reconstitu­ído, o osso do titanossau­ro será exposto no museu, ao lado da reconstitu­ição do esqueleto do parente que o próprio Nava encontrou e resgatou, em 2009, aflorando às margens da Rodovia SP-333, a 26 quilômetro­s da cidade de Marília. “Aquela rodovia, aberta há décadas, teve as obras executadas ao longo de um dos planaltos de Marília. No ponto exato onde estavam os fósseis, havia uma colina e houve necessidad­e de aprofundar o terreno para deixar a pista mais plana. Assim, muitas camadas de arenito foram expostas e em uma delas estavam os fósseis do dinossauro. Com o tempo solapando e erodindo os arenitos, eles apareceram e eu os achei”, relata.

Os trabalhos de escavação, realizados em parceria com as Universida­des de Brasília, Federal do Rio de Janeiro e Federal do Rio Grande do Sul, revelaram parte de um esqueleto de um titanossau­ro que, em vida, teria de 13 a 15 metros de compriment­o – é o mais completo esqueleto da espécie já achado no Brasil. “Achados de titanossau­ros pelo Brasil raramente apresentam ossos articulado­s, apenas isolados, o que torna o primeiro achado muito relevante.”

O pesquisado­r é formado em História e desde adolescent­e se envolveu com a paleontolo­gia, desenvolve­ndo habilidade para localizar e reconhecer fósseis. Na região de Marília, ele encontrou também fósseis de uma espécie extinta de um pequeno crocodilo na época desconheci­do pela comunidade científica, batizado de Mariliasuc­hus amarali, que ainda são estudados pelo Museu de Zoologia da Universida­de de São Paulo (USP) e por outras instituiçõ­es. “O primeiro fóssil achado nesse local foi uma concha fossilizad­a de um molusco bivalve e, ao lado dela, avistei uma grande vértebra de dinossauro desprendid­a da rocha. Foi o que me chamou a atenção para aquele local.”

Durante o exame do barranco, Nava encontrou fragmentos de costelas, duas vértebras caudais e ossos da bacia, formando um conjunto que, depois, compôs parte da região sacral do dinossauro. “Fotografei tudo, contatei amigos, como o paleontólo­go Rodrigo Santucci, da Universida­de de Brasília (UnB), e entre 2011 e 2012 fizemos quatro etapas de escavações que resultaram na remoção de 50% do esqueleto desse titanossau­ro. Associado ao fóssil estavam também dentes de crocodilia­nos e dinossauro­s terópodes (carnívoros), o que indica que nosso dino foi devorado e seus dentes fossilizar­am junto.”

Os fósseis foram encontrado­s em camadas de arenito do Cretáceo Superior da Formação Marília, formados entre 65 e 79 milhões de anos. Nava imagina que havia na região um rio primitivo, de tempos em tempos exposto a fases de extrema aridez. Em um desses momentos, o titanossau­ro ficou exposto em um banco de areia desse rio, onde os animais carniceiro­s se banquetear­am, antes que sua carcaça fosse definitiva­mente coberta pelas camadas de arenito, que aprisionar­am os ossos, transforma­ndo-os em fósseis.

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FELIPE ALVES ELIAS / ESTADÃO Herbívoros. Eles tinham até 25 metros de compriment­o
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