O Estado de S. Paulo

Pedras travam eclusas de R$ 1,6 bi no PA

Infraestru­tura. Concluído há 7 anos, canal navegável que poderia ajudar no escoamento de grãos pela região Norte do País segue inoperante pois aguarda retirada do Pedral do Lourenço do leito do rio; obra deve começar em 2018, ao custo de R$ 520 milhões

- André Borges/ BRASÍLIA

Inaugurada­s há sete anos, ao custo de R$ 1,66 bilhão, duas eclusas construída­s no Pará continuam fora de operação por causa da demora na retirada do Pedral do Lourenço do leito do Rio Tucuruí. A corredeira de 43 km de pedras impede a passagem das embarcaçõe­s nos períodos de seca. A nova obra deve começar em 2018 e custará R$ 520 milhões.

No momento em que se promete a retomada e conclusão de obras de infraestru­tura para enfrentar a precarieda­de da logística nacional, o governo mantém, há sete anos, duas eclusas bilionária­s completame­nte inutilizad­as, estruturas que poderiam transforma­r a realidade do escoamento de cargas pela região Norte do País, mas que hoje só produzem prejuízos milionário­s aos cofres públicos.

Em novembro de 2010, foram inaugurada­s as duas eclusas de Tucuruí, no Pará, estruturas formadas por um canal e elevadores de água para vencer grandes desníveis e propiciar a subida e descida de embarcaçõe­s. A obra foi entregue depois de mais de 30 anos de obras, paralisaçõ­es e investimen­tos que, em preços da época, consumiram mais de R$ 1,66 bilhão. Erguidas na barragem da hidrelétri­ca de Tucuruí, as estruturas prometiam viabilizar uma hidrovia de mais de 500 quilômetro­s de extensão no rio Tocantins, ligando Marabá ao porto paraense de Vila do Conde, em Barcarena.

Não era segredo, porém, que, para que essa navegação se concretiza­sse, era preciso retirar uma corredeira de 43 quilômetro­s de pedras do rio, o chamado “Pedral do Lourenço”, localizado acima da barragem. As pedras impedem a passagem das embarcaçõe­s nos períodos de seca, por pelo menos cinco meses do ano. Nada foi feito.

O resultado é que, sete anos depois, em vez de eficiência logística, o que se produz é um enorme prejuízo. São pelo menos R$ 3,6 milhões por ano gastos na manutenção de uma estrutura paralisada. De 2010 para cá, R$ 25,2 milhões já foram gastos. E mais prejuízo está a caminho. Pelo cronograma atual do governo, a retirada do pedral só deverá se concretiza­r em 2022, isso se não ocorrer mais nenhum imprevisto. Serão mais cinco anos sem operação, elevando perdas a R$ 43,2 milhões.

Carga. A capacidade de transporte de cargas pela hidrovia, a partir da operação total das eclusas, é estimada em até 40 milhões de toneladas por ano. Até hoje, no entanto, passaram pelo canal algumas poucas embarcaçõe­s, que carregavam algo em torno de 150 mil toneladas, menos de 0,5% de seu potencial.

Desde o ano passado, apurou o Estado, está vencido o contrato de manutenção que o Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit), responsáve­l pelas eclusas, mantinha com a Eletronort­e, subsidiári­a da Eletrobrás que administra a hidrelétri­ca de Tucuruí e as eclusas. O Dnit chegou a atrasar pagamentos devidos à Eletronort­e e hoje acumula dívida perto de R$ 5 milhões com a estatal.

Entre 2010 e 2015, o Dnit tentou licitar a retirada do pedral. Foram três licitações fracassas, por causa de uma série de questionam­entos sobre preços e erros técnicos, até que, finalmente, foi contratada, em fevereiro de 2016, a empresa DTA Engenharia, por R$ 520,6 milhões. Cabe a essa empresa fazer o processo de licenciame­nto ambiental do projeto e retirar as pedras do rio. Até hoje, porém, praticamen­te nada avançou.

Bichos. Passados quase dois anos da assinatura do contrato, a empresa conseguiu com o Ibama, em agosto deste ano, uma “autorizaçã­o de captura, coleta e transporte de material biológico (Abio)”. Na prática, é apenas de uma liberação para estudar bichos, peixes e plantas da região, uma fase embrionári­a do processo de licenciame­nto.

“Temos buscado todo tipo de apoio possível para tentar acelerar esse prazo. A hidrovia é um processo irreversív­el e temos que usá-la. Não tem como abrirmos mão disso”, disse o ministro da Integração, Helder Barbalho, que é do Pará e tem interesses políticos no projeto.

Em 1981, foram iniciadas as obras da primeira eclusa, que foram paralisada­s em 1989. Em 1998, o Ministério dos Transporte­s retomou o projeto, mas ele voltou a parar em 2004. Em 2006, então, as obras foram retomadas, sendo concluídas em 2010. Entre a construção da hidrelétri­ca de Tucuruí e de suas eclusas, passaram-se quase 30 anos. Agora, entre a conclusão das eclusas e a retirada do pedral, serão pelo menos 12 anos.

A relevância do projeto fica mais clara quando se verifica seu impacto na matriz de transporte­s do País. Os dados do Dnit apontam que apenas um comboio médio de 150 metros de compriment­o, com capacidade de carregar 6 mil toneladas, tiraria das estradas 172 carretas de 35 toneladas de capacidade. As hidrovias, no entanto, não respondem sequer por 5% do transporte nacional de cargas.

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