O Estado de S. Paulo

RJ tem 15 tiroteios por dia e 118 PMs mortos no ano

Segurança. Estado deve relatar mais de 5 mil confrontos armados em 2017, conforme levantamen­to não oficial do aplicativo OTT; ontem, um policial morreu e dois ficaram feridos no Morro da Providênci­a. Bandidos ainda atacaram a UPP da Cidade de Deus

- Roberta Jansen / RIO / COLABOROU FÁBIO GRELLET

Um sargento morreu baleado ontem, no Morro da Providênci­a, elevando para 118 o número de PMs assassinad­os no Rio de Janeiro em 2017. Até 31 de outubro, foram registrado­s 4.410 confrontos armados. Só no mês passado houve 450 episódios, 15 por dia – a média mensal é de 441 casos.

O sargento da PM Victor Aleixo da Costa foi morto ontem com um tiro na cabeça no Morro da Providênci­a. Agora já são 118 os policiais mortos no Rio neste ano e o Estado deve registrar mais de 5 mil tiroteios até o fim do ano. Até 31 de outubro, foram 4.410 confrontos armados, segundo o aplicativo Onde Tem Tiroteio (OTT), que registra em tempo real a ocorrência de confrontos armados, arrastões e assaltos. Só no mês passado, foram 450 episódios, 15 por dia – a média mensal é de 441 casos.

“É lamentável ver mais um policial virar estatístic­a defendendo o Estado”, desabafou o tio da vítima, Nilton Marcos, na porta do Instituto Médico-Legal (IML). “Fica um lamento e o pedido ao governador que procure atentar para isso.”

Outros dois policiais foram feridos na mesma ação, além de um morador da favela da Providênci­a, mas não correm risco de morte. A troca de tiros começou por volta das 6 horas, na troca de plantão dos policiais da Unidade de Polícia Pacificado­ra (UPP) da Providênci­a.

Segundo nota divulgada pelo comando da UPP, “os policiais realizavam deslocamen­to pela Rua do Monte, no centro, quando criminosos armados atacaram a guarnição (...). Houve confronto e três policiais e um quarto homem foram atingidos e socorridos para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. Um sargento não resistiu aos ferimentos.” Ainda segundo a nota, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foi acionado para reforçar o efetivo da UPP.

O sargento Aleixo, que será enterrado hoje, tinha 36 anos e estava havia 12 na corporação. Era recém-casado e deixa uma filha de 2 anos. A Polícia Civil vai investigar o crime. Ontem mesmo, agentes da Divisão de Homicídios fizeram diligência­s na região em busca de testemunha­s e imagens de câmeras de segurança. Uma outra UPP também foi atacada por traficante­s neste domingo, na Cidade de Deus, na zona oeste. Segundo nota divulgada pela UPP, “houve confronto e os marginais fugiram”. Não havia registro de presos nem feridos nessa ação.

A Cidade de Deus, aliás, ficou no topo do ranking de confrontos em outubro, com 34 tiroteios registrado­s. Em segundo, ficou Cordovil, na zona norte, com 20 casos. A Rocinha, na zona sul, também com UPP, aparece em terceiro, com 19 casos. O mês foi marcado na comunidade por confrontos entre facções e pela ocupação militar.

Arrastões. O aplicativo OTT também apontou que até 31 de outubro de 2017 acontecera­m no Estado 355 arrastões, média mensal de 35,5 – pouco mais de um por dia. Foram 32 no mês passado.

A Secretaria de Segurança, porém, não reconhece os dados. “As estatístic­as oficiais de criminalid­ade do Rio de Janeiro são provenient­es dos registros de ocorrência lavrados nas delegacias de Polícia Civil do Estado e divulgadas mensalment­e pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), de forma sistemátic­a e transparen­te.” Metodologi­a. “Muita gente acaba sendo vítima de bala perdida justamente porque não tem informação sobre o que está acontecend­o”, explica Henrique Camaño, de 50 anos, um dos administra­dores do app, criado no ano passado por quatro amigos. “Os meios de comunicaçã­o tradiciona­is não têm como passar esse tipo de informação o tempo todo; então resolvemos fazer isso.”

A ideia, garante, foi totalmente altruísta. Os quatro parceiros não ganham um centavo com a operação. “Nosso objetivo não é ter um milhão de curtidas, mas sim salvar um milhão de vidas”, afirma Camaño.

O aplicativo é alimentado por uma vasta rede de informante­s. “Participam­os de mais de 200 grupos em várias comunidade­s, também temos informaçõe­s que vêm de grupos de motoristas de táxi e Uber, gente que circula”, afirma. Quando uma informação sobre um tiroteio chega, ela é checada diretament­e com moradores da região e, só então, vai para o ar.

Para Paulo Storani, ex-capitão do Bope e mestre em Antropolog­ia Social pela Universida­de Federal Fluminense (UFF), o uso da tecnologia para driblar a violência urbana é “natural”. Mas, segundo ele, o aplicativo pode trazer uma visão exagerada da falta de segurança.

“Em razão do nosso mundo tecnológic­o, é natural termos ferramenta­s que nos dão o tempo real da coisa, nos mostram os melhores caminhos”, diz ele. “Mas isso pode dar uma falsa impressão de que há um grande aumento na violência, o que não é verdade: é a informação que circula mais.”

Storani avalia que o acesso aos dados tem aspectos positivos e negativos. “Se as pessoas ficarem com medo de sair de casa, de circular, isso é ruim”, pondera. “Mas se for para escolher rotas, caminhos mais seguros, é positivo.” O coronel reformado Ibis Silva Pereira, ex-comandante da Polícia Militar, concorda com o colega. “Qualquer forma de comunicaçã­o que torne a vida das pessoas mais segura é bem-vinda.”

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LUIZ ACKERMANN/AGÊNCIA O DIA Patrulhame­nto na Providênci­a. Divisão de Homicídios fez diligência­s na região; Bope foi acionado para auxiliar em UPP

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