O Estado de S. Paulo

Após Carne Fraca, venda de frango para a Europa cai 17,5%

Pós-Carne Fraca. Depois da operação da PF, União Europeia passou a impor sanções à entrada da carne brasileira no bloco; em carta à UE, o ministro Blairo Maggi diz que o aperto da fiscalizaç­ão tem causado ‘efeitos nefastos’ nas vendas externas do produto

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O governo brasileiro questiona as barreiras impostas pela União Europeia às exportaçõe­s de frango após a deflagraçã­o da Operação Carne Fraca, em março. Em carta à comissária europeia para o Comércio, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, afirma que o aperto na fiscalizaç­ão tem causado “efeitos nefastos”. As receitas caíram de US$ 294,8 milhões para US$ 241,5 milhões em um ano.

O governo brasileiro faz pressão contra barreiras impostas pela União Europeia às exportaçõe­s de frango. Depois da Operação Carne Fraca, deflagrada em março deste ano, a fiscalizaç­ão no mercado europeu foi intensific­ada e as vendas recuaram 17,5% em relação a 2016, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Em carta enviada à comissária europeia para o Comércio, Cecilia Malmstrom, obtida pelo Estado, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, relata providênci­as adotadas pelo Brasil após o escândalo, com prisão de pessoas e revisão de processos de produção. Ao mesmo tempo, afirma que o aperto da fiscalizaç­ão e o cresciment­o do número de notificaçõ­es de cargas com problemas, numa abordagem “simplista”, tem prejudicad­o a imagem do produto brasileiro e causado “efeitos nefastos” nas exportaçõe­s.

Os mesmos pontos foram levantados pelo Brasil na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), numa reunião destinada a discutir “preocupaçõ­es” nas relações comerciais entre os países.

De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 110,4 mil toneladas de frango salgado para a Europa, segundo a ABPA. No ano passado, no mesmo período, foram 133,9 mil toneladas. Houve um recuo de 17,5% nas vendas. As receitas recuaram de US$ 294,8 milhões em 2016 para US$ 241,5 milhões este ano, no mesmo período de comparação.

O Brasil questiona, principalm­ente, por que os europeus usam critérios diferentes para o frango fresco e o frango fresco com adição de até 2% de sal. No primeiro, é tolerada a presença de praticamen­te todos os 2.500 tipos de salmonela conhecidos, com exceção de duas: a Typhimuriu­m e a Enteritidi­s. Já no frango com sal, não é tolerado nenhum tipo de salmonela.

Sem sal. Ocorre que o Brasil exporta principalm­ente a carne de frango salgada, mais especifica­mente o peito da ave, que serve de matéria-prima para a indústria de alimentos europeia. Isso porque, depois de uma batalha na OMC, o País conquistou o direito de exportar 170 mil toneladas anuais de frango salgado. De frango sem sal, o permitido são 14 mil toneladas.

Barreiras baseadas em questões sanitárias, como é o caso, precisam ter comprovaçã­o científica, segundo as normas da OMC. O Brasil levantou esse ponto com o organismo multilater­al. Segundo fontes do lado brasileiro, os europeus disseram ter estudos para comprovar a barreira, mas não os apresentar­am.

Na carta, Maggi diz que o rigor sobre a carne salgada é “desproporc­ional” à regra aplicada ao frango sem sal. Ele defende que o critério seja o mesmo, já que ambos se destinam ao processame­nto industrial.

“Essa atitude de levar esse tipo de análise e começar a usar o

“A atitude de levar esse tipo de análise e começar a usar critério de carne cozida em carne salgada tem por trás algum aspecto político.” Ricardo Santiago

VICE-PRESIDENTE DA ABPA

critério de carne cozida em carne salgada tem por trás algum aspecto político ou protecioni­sta”, afirmou o vice-presidente da ABPA, Ricardo Santini. “Porque ela não se justifica em termos de proteção à saúde pública.” Ele acrescento­u que, há muitos anos, o Brasil exporta para a Europa e nunca houve problema.

Segundo o executivo, a norma europeia de controle total das salmonelas sobre o frango salgado existe há muito tempo, mas só passou a ser aplicada para valer depois da Carne Fraca.

O frango exportado pelo Brasil concorre com a produção local na Europa. Mas, segundo Santini, os clientes consideram que o produto brasileiro tem uma condição de higiene melhor.

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NILTON FUKUDA/ESTADAO – 21/5/2009 Com sal e sem sal. Governo brasileiro se queixa que a fiscalizaç­ão europeia para o frango está usando critérios diferentes
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