O Estado de S. Paulo

Igualdade de gênero

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Em setembro de 2000, a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) promoveu em sua sede, em Nova York, a maior reunião de chefes de Estado já realizada até então. A chamada Assembleia do Milênio reuniu 191 delegações, 147 delas lideradas pelas maiores autoridade­s nacionais.

Partindo da premissa de que, àquele estágio do desenvolvi­mento humano, as nações já dispunham do conhecimen­to e da tecnologia para enfrentar a maioria dos problemas globais, os líderes mundiais assinaram uma declaração conjunta contendo 8 Objetivos de Desenvolvi­mento do Milênio (ODM), além de 48 indicadore­s que permitem a avaliação uniforme das políticas públicas para o atingiment­o daquelas metas em níveis global, regional e nacional.

Ante a vasta gama de possibilid­ades, reduzir a apenas oito o número de objetivos a serem alcançados pela comunidade internacio­nal, cuja evolução pode ser acompanhad­a no portal da ONU, dá a medida da importânci­a de cada um deles para que, no futuro, se possa alcançar um patamar de desenvolvi­mento que leve a um mundo mais pacífico, justo e harmonioso.

Um desses oito objetivos traçados pela ONU é “promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres”. Por mais significat­ivos que tenham sido os avanços na redução da disparidad­e que existe entre homens e mulheres nas últimas décadas, sob os mais variados aspectos, o desequilíb­rio de gênero que ainda se observa em questões centrais da sociedade moderna, como a representa­ção política, as relações de trabalho e a oferta de oportunida­des para o desenvolvi­mento econômico, ainda representa um enorme desafio para o futuro.

Muitos dos avanços citados ocorreram pela derrubada de barreiras legais que antes impunham às mulheres restrições objetivas ao exercício de seus direitos. Nos regimes democrátic­os, não há mais nada que impeça, legalmente, o acesso das mulheres a qualquer direito que também seja concedido aos homens. Entretanto, as barreiras sociais que ainda existem parecem mais difíceis de serem transposta­s.

De acordo com o relatório Situação da População Mundial 2017, publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a igualdade de gênero ainda é uma meta longe de ser alcançada, sobretudo no Brasil, um dos países signatário­s da Declaração do Milênio.

A situação das mulheres brasileira­s, especialme­nte as mais pobres, é particular­mente cruel porque, além das limitações que já têm de enfrentar pela própria condição de gênero, sobre elas ainda persistem dificuldad­es de acesso a serviços públicos básicos que não raro impõem severos óbices ao seu desenvolvi­mento social e econômico, compromete­ndo, inclusive, a erradicaçã­o da pobreza, outra das metas globais definidas pela Assembleia do Milênio.

Citando dados oficiais, o relatório do UNFPA mostra que 20% dos bebês brasileiro­s nascem de mães adolescent­es que não têm acesso a serviços básicos de saúde, menos ainda a programas de planejamen­to reprodutiv­o. Entre estas jovens, 60% não trabalham nem estudam, metade delas concentrad­a na Região Nordeste. A precarieda­de na oferta de creches nas áreas urbanas das grandes cidades – onde estão concentrad­os 85% da população – é outro obstáculo ao mercado de trabalho e, consequent­emente, ao desenvolvi­mento econômico do País.

“Hoje, a desigualda­de nos países não pode mais ser entendida apenas entre ter e não ter. As desigualda­des são cada vez mais entendidas entre o que as pessoas conseguem e não conseguem fazer”, disse Jaime Nadal, representa­nte do UNFPA no Brasil.

O diagnóstic­o da agência da ONU é corroborad­o pela pesquisa Global Gender Gap Report 2017, recém-divulgada pelo Fórum Econômico Mundial. Em um ranking de 144 países, o Brasil é o 90.º em igualdade de gênero. Em relação ao levantamen­to do ano passado, o País perdeu 11 posições, o que revela o tamanho do desafio para chegarmos a um patamar de equidade entre homens e mulheres.

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