O Estado de S. Paulo

SP vai pôr criativida­de e empatia no currículo de escolas municipais

Nove das habilidade­s socioemoci­onais passam a ser ensinadas; para especialis­ta, avaliação será um dos desafios

- Renata Cafardo

As escolas municipais de São Paulo ensinarão a partir de 2018 as chamadas habilidade­s socioemoci­onais, que incluem criativida­de, empatia e abertura à diversidad­e, por exemplo. O Estado teve acesso à parte introdutór­ia do novo currículo da rede que está sendo finalizado pela Secretaria de Educação. Não haverá uma aula à parte para essas competênci­as; elas devem permear todas as disciplina­s.

As habilidade­s socioemoci­onais vêm sendo discutidas no mundo todo como uma necessidad­e para se formar melhor o estudante para os desafios do século 21. Críticos sustentam, no entanto, que os professore­s atualmente ainda não sabem como inserir essas competênci­as em suas aulas. Há também a dificuldad­e em se avaliar a prática.

Segundo o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, os professore­s da rede farão uma formação especial para o novo currículo em 2018. O documento ainda trará orientaçõe­s didáticas, no modelo “como fazer”, para docentes. “Estamos muito seguros de que isso vai acontecer (pôr o currículo em prática)”, diz Schneider.

O novo currículo menciona nove competênci­as com caracterís­ticas socioemoci­onais. Além de nomear a habilidade, o texto indica para o que ela serve. Por exemplo, ao descrever o item “empatia e colaboraçã­o”, o documento menciona que o estudante precisa ser ensinado a “trabalhar em grupo, criar, pactuar e respeitar princípios de convivênci­a, solucionar conflitos, desenvolve­r a tolerância à frustração e promover a cultura da paz”. No tópico “abertura à diversidad­e” fala-se em “conviver harmonicam­ente com os diferentes”.

“Acho que foge um pouco dessa radicaliza­ção atual, da polêmica em torno de um currículo ideológico”, diz o coordenado­r de projetos sobre Educação Integral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitári­a (Cenpec), Alexandre Isaac. Ele ainda questiona que tipo de avaliação será feita. “Como medir se alguém adquiriu mais experiênci­a, se é amável, se é extroverti­do?” Segundo ele, muitos professore­s da rede também consideram que seria preciso investir mais em formação de conteúdos de Português e Matemática, no lugar da formação para habilidade­s socioemoci­onais.

Segundo a gerente executiva de educação do Instituto Ayrton Senna, Simone André, o desenvolvi­mento dessas atividades afeta até a aprendizag­em geral do estudante. “Os estudos indicam que boa parte das nossas realizaçõe­s na vida depende fortemente dessas competênci­as, no mundo do trabalho, nos relacionam­entos.”

Consulta. Professore­s e estudantes da rede também foram consultado­s sobre o que considerav­am importante estar no novo currículo. São 57 mil professore­s e 16 mil opinaram. Para o presidente do Sindicato dos Profission­ais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, Claudio Fonseca, a Prefeitura precisa “ter cuidado para que o currículo não se torne mais um modismo, que não muda a escola”. “O currículo acontece no dia a dia, todos os profission­ais

precisam estar envolvidos.”

O texto já considera objetivos estipulado­s pela Base Nacional Curricular Comum, documento ainda em análise pelo Conselho Nacional de Educação. Depois de aprovado, todas as redes precisam elaborar seus currículos, de acordo com as orientaçõe­s da Base.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil