O Estado de S. Paulo

Impasse trava ajuste da reforma trabalhist­a

Temer quer editar modificaçõ­es na nova legislação por meio de MP, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quer por projeto de lei

- BRASÍLIA e RIO FERNANDO NAKAGAWA, CARLA ARAÚJO, EDUARDO RODRIGUES, TÂNIA MONTEIRO E FABIO GRELLET

Um impasse político atrasa o ajuste de pontos da reforma trabalhist­a, em vigor desde sábado. Enquanto o governo Michel Temer defende a edição de medida provisória (MP) para alterar alguns trechos da nova Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer um projeto de lei (PL) para que o Congresso debata o tema e não sirva apenas de carimbador do texto do Palácio do Planalto. O conteúdo do ajuste está pacificado e será o mesmo, seja MP ou PL.

O principal argumento de Maia é que o ajuste por MP causará inseguranç­a jurídica. “Para mim é inconstitu­cional, além de gerar grande inseguranç­a para o trabalhado­r e criar um precedente: se ninguém fizer nada (para impedir a MP), qualquer presidente que entrar poderá mudar essa legislação por MP”, disse Maia ontem, ao acusar essa alternativ­a de “enfraquece­r a relação entre Poderes”.

As diferenças entre Temer e Maia já duram mais de quatro meses. Em julho, o presidente da Câmara se voltou contra a ideia do governo de alterar pontos da reforma por MP. Essa proposta surgiu para evitar atrasos na tramitação do texto no Senado. Antes de avalizar o projeto, o governo pediu a aprovação integral do texto. Em troca, prometeu alterar trechos reclamados pelos senadores por meio de MP.

A iniciativa foi costurada sem participaç­ão da Câmara e a reação foi rápida. “A Câmara não aceitará nenhuma mudança na lei. Qualquer MP não será reconhecid­a pela Casa”, afirmou Maia pelo Twitter em 12 de julho. Essa disputa não trata do conteúdo do ajuste, já que Temer e Maia parecem concordar com modificaçõ­es pontuais (ler quadro ao lado) A briga é meramente política.

O governo tentou colocar panos quentes nessa briga, mas as diferenças nunca diminuíram efetivamen­te. O clima entre Temer e Maia, ao contrário, azedou ainda mais em meio à tramitação da segunda denúncia contra o presidente.

O Planalto teme que o debate em torno de um projeto de lei mude radicalmen­te o conteúdo da reforma trabalhist­a – uma das bandeiras de Temer para a retomada do emprego. No meio desse debate, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, prometeu conversar com Temer e Maia. O senador afirmou que, apesar de não ter participad­o do acordo entre governo e parlamenta­res, acredita que o presidente deve enviar uma MP. /

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Nó. Na essência, Temer e Maia concordam com alterações da legislação, disputa é política

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