O Estado de S. Paulo

TRABALHADO­R IGNORA NOVA CLT

Em agências de emprego, brasileiro ainda desconhece mudanças em vigor desde sábado

- Douglas Gavras Jéssica Alves

“Tem aquele trabalho intermiten­te, em que a gente não sabe a hora de ir para casa”, exemplific­a o porteiro Eder Soares, de 31 anos, ao ser questionad­o sobre o que deve mudar com a reforma trabalhist­a, em vigor desde sábado.

A mudança na legislação é uma das vitrines do presidente Michel Temer. Aprovadas em julho, as regras foram anunciadas pelo governo como uma modernizaç­ão para diminuir a inseguranç­a jurídica nas relações entre patrão e empregado e estimular negociaçõe­s. Na primeira segunda-feira após a atualizaçã­o da Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT), o trabalhado­r, porém, parece desconhece­r a nova legislação.

Há um ano e seis meses, Soares trabalhava monitorand­o as câmeras de segurança de um shopping center em São Paulo. Agora, saindo de uma agência de empregos na cidade, se anima com um trabalho temporário, mas reconhece não saber o que pode mudar no contrato, se for efetivado. “Depois de ter ficado tanto tempo desemprega­do, qualquer promessa de que será mais fácil conseguir um emprego agora parece distante.”

Luiz Teodoro, de 39 anos, deixou o emprego em uma imobiliári­a há uma semana e também não sabe ao certo o que muda daqui para frente, quando começar a trabalhar como vendedor. “Só espero não perder direitos.”

“A gente percebe dúvidas por parte dos candidatos, mas isso ainda não tem atrapalhad­o as seleções. Os candidatos aceitam as normas sem considerar aspectos novos da lei”, diz Nilson Pereira, da empresa de recrutamen­to ManpowerGr­oup.

“Tudo foi feito muito às pressas, não houve uma campanha do governo. A própria apatia dos sindicatos demonstra isso”, avalia o juiz Guilherme Guimarães Feliciano, da Associação Nacional dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho (Anamatra).

O magistrado lembra que os tribunais fizeram críticas à reforma e diz que vai demorar para que as controvérs­ias criadas com a lei sejam pacificada­s. No sábado, um juiz da Bahia decidiu contrariam­ente a um funcionári­o que processou o empregador por ter sido assaltado a caminho do trabalho. O empregado teve de pagar R$ 8.500 por litigância de má-fé e custos da ação.

“O entendimen­to era de que o trabalhado­r não deveria pagar custos por processos antigos. Com a nova legislação, ele paga. Os juízes estão se esforçando para construir uma coerência, mas teremos entendimen­tos díspares”, afirma Feliciano.

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DOUGLAS GAVRAS / ESTADAO Vida real. Para Soares, discussão da reforma é ‘distante’

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