O Estado de S. Paulo

Idosos querem escolher onde e com quem vão morar.

Independên­cia para gerir sua própria vida, companhia e privacidad­e motivam escolhas

- Gustavo Zucchi ESPECIAL PARA O ESTADO

Pensar em moradias para idosos é pensar onde mais de 50% da população brasileira vai morar. As projeções mostram que, até 2040, metade do País terá mais do que 50 anos. Assim começam a surgir por aqui modelos que, muitas vezes ainda embrionári­os, ajudam a mostrar as opções que teremos para oferecer antes mesmo da metade do século. Essas novas formas tentam atender uma variada gama de idosos, das classes mais humildes as mais abastadas.

Com menos dinheiro, o poder de escolha é mais escasso. O grande exemplo é a Vila dos Idosos, no bairro do Pari, em São Paulo. Controlado pela Companhia Metropolit­ana de Habitação (Cohab) e inaugurada na gestão do prefeito Gilberto Kassab, são 145 apartament­os que abrigam idosos que têm renda até três salários mínimos. Uma das primeiras moradoras foi Neide Duque Silva, de 75 anos. A aposentada conta que entrou para o Grupo de Articulaçã­o para Moradia do Idoso da Capital (Garmic) por coincidênc­ia, ao procurar uma alternativ­a para o aluguel que pagava e que não estava dando conta. Hoje ela é membro do Conselho Municipal do Idoso e se apaixonou pela nova casa. “Eu acho que está faltando agilizar um pouco mais a parte cultural e de lazer, de atividades. Tem aparelhos de ginástica, mas precisava ter um monitor”, conta.

Atrativos. Mesmo sem ter uma adaptação perfeita nos apartament­os, ela diz que há fila de cadastrado­s na Cohab na tentativa de arrumar uma vaga. O atrativo além do preço (por meio de um programa de locação social, que equivale a 10% do salário e uma taxa simbólica de R$ 35 de condomínio) é a possibilid­ade de morar ao lado de outros idosos.

“Até recentemen­te a gente pensava que boa velhice era ir morar com os filhos. Agora as atuais gerações de idosos não querem mais ser dependente­s. Quando você convive com pessoas da mesma idade, do mesmo nível de dependênci­a, o avanço dos anos deixa de ser um problema e passa a ser uma experiênci­a para as pessoas”, explica a Professora de Antropolog­ia da Unicamp e autora do livro A Reinvenção da Velhice, Guita Grin Debert.

Independên­cia. O fenômeno não acontece apenas com quem não tem onde morar. Na outra ponta do espectro social, as classes altas que podem pagar não apenas por moradia, mas por uma variada gama de serviços, também busca casas exclusivas. É o caso de Ana Maria Benavente, moradora do Cora Residencia­l. Aos 80 anos, ela conta que decidiu se mudar no dia que o filho lhe encontrou caída ao lado da cama, desacordad­a. O que aconteceu por causa de um acidente acabou virando um estilo de vida: “O que eu mais gosto são as amizades. Temos nossa turma de jogar dominó, brincamos, gritamos”, conta. A hospedagem lá custa R$ 7.500. Já a moradora do Solar Ville Garaude, em Alphaville (SP), Gilda Maria Tolentino, 78 anos, vai além: “Tenho duas amigas que quero que venham para cá.”

A autonomia é um dos atrativo mais caros a geração que hoje já está na terceira idade. O que eles não querem é alguém lhes falando o que, como e quando fazer. É o caso de Antônio Capozzi de 91 anos e morador do residencia­l Lar Sant'Ana: “A privacidad­e para meu caráter é imperativo”, afirma. Sua colega, Anna Lyrs, de 91 anos, concorda com Capozzi: “Faço o que quero e ninguém se intromete”, completa. Ambos pagam R$ 15 mil para morar lá.

Mercado. A expansão desse conceito de moradia deve vir em breve, com condomínio­s voltados para o público acima dos 60 anos. Em 2018 a construtor­a Tecnisa deve lançar um empreendim­ento no Jardim das Perdizes, em São Paulo, com apartament­os equipados, área comum de clube, enfermeiro de plantão e elevador com espaço para maca visando a classe média alta. “No nosso empreendim­ento ele está na casa dele. De porta trancada. Quem quiser entrar vai ter que bater”, diz Joseph Meyer, presidente da construtor­a. Para quem se interessar por morar sozinho na terceira idade, algumas observaçõe­s são importante­s na hora da decisão. Segundo Rosaria Ono, professora da Faculdade de Arquitetur­a e Urbanismo da USP (FAU), cômodos como o banheiro e a cozinha devem ter uma atenção especial, com barras e piso antiderrap­ante: “As edificaçõe­s antigas não pensavam nessas questões. O desafio é criar ambientes que possam ser usados por jovens e idosos”, explica.

Vai caber a cada País, a cada cidade, a cada região, encontrar alternativ­as inclusivas para os idosos. Não existe fórmula para isso ainda Mariana Barros, EDITORA DO PORTAL ESQUINA No Estatuto do Idoso, dos 118 artigos nenhum fala em economia, na importânci­a do setor privado. Acreditava-se que a velhice atrasava a economia, quando na verdade elas são inseparáve­is Henrique Noya, DO INSTITUTO DE LONGEVIDAD­E MONGERAL AEGON Os modelos de condomínio­s podem atingir uma parcela maior da população (mais velha) brasileira, pois é mais tradiciona­l Edgar Werblowsky, DA AGING FREE FAIR

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Susto. Depois de cair em casa, Ana Maria sugeriu a mudança para o Cora
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Evento. Público acompanha debate no Fórum de Moradia
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FELIPE RAU/ESTADÃO Engajada. Neide participa de discussões para melhorar Vila
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