O Estado de S. Paulo

Regulariza­ção tributária reduz lucro da JBS para R$ 323 mi.

Descontado esse efeito, resultado da empresa no 3º trimestre teria atingido R$ 1,9 bi; balanço foi auxiliado por forte aumento de vendas no exterior

- Renata Agostini Mônica Scaramuzzo

Imersa em profunda crise de reputação e com seus principais acionistas presos, a JBS reportou ontem ao mercado o que afirma ser o melhor resultado de sua história. Nessa conta, considera o lucro líquido recorde de R$ 1,9 bilhão, valor que teria obtido no terceiro trimestre caso não tivesse aderido ao Programa Especial de Regulariza­ção Tributária (Pert). Com os gastos do programa, o resultado caiu para R$ 323 milhões, retração de 64% sobre os R$ 887 milhões de igual período de 2016.

O desempenho operaciona­l foi decisivo para atenuar o que vinha sendo o principal ponto de preocupaçã­o dos investidor­es ao olhar os números da JBS: o alto endividame­nto. A empresa, que em julho precisou renegociar com bancos mais de R$ 20 bilhões sob risco de não conseguir honrar compromiss­os, anunciou corte de R$ 4,8 bilhões na dívida líquida. Mais da metade veio do dinheiro gerado na operação. A venda de ativos, como a operação em países do Mercosul, também ajudou.

Com isso, a JBS conseguiu reduzir o endividame­nto para 3,4 vezes sua capacidade de geração de caixa (Ebtida – lucro antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o). A meta é levar para abaixo de 3 vezes o Ebtida. Mas agora a JBS já ostenta patamar de endividame­nto mais confortáve­l do que o dos rivais brasileiro­s e em linha com os estrangeir­os, diz a JBS.

“No meio de todo barulho que o grupo passou, tivemos o melhor resultado da história”, afirmou ao Estado o diretor de operações, Gilberto Tomazoni.

A expectativ­a da JBS é que não seja necessária nova renegociaç­ão da dívida e que a relação com os bancos volte ao normal no primeiro semestre de 2018.

O resultado foi reflexo da forte alta nas vendas do exterior, em especial da divisão americana. No Brasil, que responde por 12% do negócio, os números vieram abaixo do esperado. A receita da Seara ficou estável, mas as da operação de carne murcharam diante da queda de 31% nas vendas ao mercado interno. A principal razão, segundo a JBS, foi a necessidad­e de corte dos abates em 17% no trimestre.

Os números não foram acompanhad­os do relatório do auditor independen­te, que aguarda a apuração dos fatos relacionad­os ao acordo de leniência da J&F, afirmou a companhia.

Sob nova direção. A expectativ­a da JBS é manter o nível de geração de caixa nos próximos trimestres. “As perspectiv­as seguem positivas. Os mercados americano e canadense serão beneficiad­os pelo aumento de renda e queda do desemprego. Na Austrália, há perspectiv­as melhores após a seca que atingiu o país”, disse André Nogueira, presidente da JBS nos EUA. “No Brasil, temos capacidade ociosa e podemos crescer ainda mais”, afirmou Tomazoni.

O alto escalão da JBS tentou diminuir o impacto da saída de Wesley Batista do comando. Preso desde o dia 13 de setembro, ele foi substituíd­o por seu pai e fundador da JBS, José Batista Sobrinho. “Uma empresa desse tamanho não pode ficar num único nome”, afirmou Nogueira. “Cada camarada que roda uma operação da JBS age como dono. É esse o motivo de estarmos apresentan­do, mesmo com a saída do Wesley, um resultado recorde.”

“As perspectiv­as para os próximos meses continuam positivas tanto para oferta quanto para demanda.” Gilberto Tomazoni DIRETOR DE OPERAÇÕES DA JBS

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