O Estado de S. Paulo

No Chile, eleição presidenci­al terá segundo turno

Nova votação. Ex-presidente de direita não conseguiu obter os 50% dos votos necessário­s para ser eleito e voltará às urnas no dia 17 com o candidato de centro-esquerda; esquerdist­a Sánchez surpreende e conquista mais que o dobro estimado pelas pesquisas

- Pablo Pereira ENVIADO ESPECIAL / SANTIAGO

O ex-presidente Sebastián Piñera, de 67 anos, de direita, vai disputar o segundo turno das eleições presidenci­ais do Chile, em 17 de dezembro, com o senador Alejandro Guillier, de 64, de centro-esquerda. Com 98,6% dos votos apurados ontem à noite, Piñera tinha 36,6% e Guillier, 22,6%. A grande surpresa foi a votação de Beatriz Sánchez (Frente Ampla), com 20,2%.

Resultados parciais das eleições presidenci­ais do Chile indicavam ontem à noite que o candidato de direita Sebastián Piñera, de 67 anos, foi o vencedor, mas não conseguiu obter os 50% dos votos mais 1 para ser eleito no primeiro turno e disputará no dia 17 o segundo turno com o senador Alejandro Guillier, de 64 anos, de centro-esquerda, apoiado por partidos da coalizão governista.

Apurados 98,6% dos votos, Piñera tinha 36,6% e Guillier, 22,6%. A grande surpresa do dia foi a votação da jornalista Beatriz Sánchez (Frente Ampla), que obteve 20,2% – segundo as últimas pesquisas ela tinha 9,4% das intenções de voto. Emocionada, ela festejou o resultado, mas disse que vai exigir uma “explicação” dos institutos de pesquisa. “Se eles tivessem dito a verdade, talvez eu teria ido para o segundo turno.”

Os desempenho­s de Sánchez e do candidato de extrema direita, José Antonio Kast, independen­te, que obteve 7,9% dos votos, parecem ter “roubado” a vitória do ex-presidente no primeiro turno. Piñera chegou a ter 44% das intenções de voto durante a campanha acreditava que seria eleito ontem mesmo.

O ex-presidente reconheceu o segundo turno, mas disse que ganhou em 300 das 365 comunas na classe média e nas mais pobres e vulnerávei­s. “Tivemos uma grande vitória. Sobretudo abrimos portas que nos conduzirão a tempos melhores”, afirmou Piñera, confiante de vencer o segundo turno.

A primeira a adiantar apoio a Guillier foi a candidata da Democracia Cristã, Carolina Goic, que obteve 5,9% dos votos. “Já felicitei Beatriz Sánchez e Alejandro Guillier”, disse. “Para enfrentar Piñera”, acrescento­u. A presidente Michelle Bachelet fez pronunciam­ento oficial e saudou os resultados. Ela disse que os chilenos querem avançar com suas reformas sociais e econômicas, mas lamentou que “5 em cada 10 eleitores não foram votar”. Segundo o serviço eleitoral, apenas 6,2 milhões de eleitores – dos 14,3 milhões registrado­s – foram às urnas.

Em pronunciam­ento no fim da noite, Guillier mostrou-se confiante e disse que “a mudança está em marcha” e “outras forças progressis­tas vencerão o segundo turno”. Ele agradeceu os telefonema­s recebidos de Sánchez e Goic. “Precisamos reconstrui­r uma unidade profunda para vencer no segundo turno”, afirmou. Guillier recebeu também o apoio do ex-presidente Ricardo Lagos (PPD), ex-PS. Segundo Guillier, haverá também uma forte mudança na representa­ção no Congresso, cujos resultados devem ser divulgados hoje.

Logo pela manhã, Piñera votou, acompanhad­o pela mulher, Cecília, na Escola República da Alemanha. Vaiado por um grupo de manifestan­tes ao deixar o local de votação, Piñera defendeu a liberdade de expressão, mas condenou a violência. Pouco antes, um grupo de estudantes secundaris­tas havia invadido o comitê de campanha dele no bairro de Los Condes, de onde foi retirado pela polícia. “A democracia tem de ser uma festa na qual cada um possa expressar livremente suas opiniões, mas sem violência.”

Para o médico Jorge Veas, de 77 anos, que votou na mesma escola de Piñera, o Chile vive dias tensos. “Isso vai explodir. Isso está como placas tectônicas que vão se chocar”, disse Veas, acompanhad­o pela mulher, Cármen Rioseco, ainda antes de Piñera votar. Para ele, que votou em Sánchez “como protesto político”, o país vive clima de inseguranç­a nas periferias. “Eu voto em Guillier”, emendou a mulher.

Para Luz Soto-Aguilar, de 86 anos, a alta abstenção na eleição “é culpa desse governo”. Para ela, “o país tem de voltar a ter voto obrigatóri­o”. O advogado Luis Felipe Prats, de 33 anos, discorda e diz que é preciso haver liberdade de escolha. “Mas é preciso votar para poder cobrar medidas do governo.”

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REUTERS/CARLOS GARCIA RAWLINS Otimismo. Ex-presidente Piñera comemora com sua mulher, Cecília, membros da família e partidário­s o resultado eleitoral
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