O Estado de S. Paulo

Sem encomenda, estaleiro tem dívida de R$ 1 bi

Com apenas 5 navios na carteira, todos com entrega marcada até 2019, Estaleiro Atlântico Sul busca soluções para se manter em operação e poupar seus controlado­res, os grupos Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, responsáve­is pela garantia da maior parte do déb

- Renata Agostini

Com cinco navios para entregar até 2019, o Estaleiro Atlântico Sul busca alternativ­as para manter sua operação e salvar seus controlado­res. Se não conseguir novas encomendas, ficará com uma fatura de R$ 1 bilhão a quitar. Cerca de 80% das dívidas são garantidas pelos dois donos do estaleiro, os grupos Camargo Corrêa e Queiroz Galvão.

Empreendim­ento dos grupos Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, vive pressionad­o por um prazo pequeno e uma conta alta: se não fechar novas encomendas até 2019 restará ao negócio uma fatura de cerca de R$ 1 bilhão a quitar. Esse é o saldo que deve ficar após receber pagamento pelos cinco navios que ainda tem em carteira, cuja entrega será feita nos próximos dois anos.

O estaleiro corre, portanto, para não fechar as portas, mas também para poupar seus acionistas, dois grupos enrolados pela Lava Jato, de uma fatura salgada – por volta de 80% das dívidas são garantidas pelos dois donos, segundo fontes a par dos números do estaleiro.

Uma das principais articulaçõ­es transcorre em Brasília. Em agosto, uma medida provisória levou pânico ao setor naval, em especial ao estaleiro pernambuca­no que estava engajado em negociaçõe­s para fechar encomendas com potencial para render R$ 1,6 bilhão em receitas.

A MP do Repetro foi editada para definir regras de tributação da atividade de exploração de petróleo, mas um de seus artigos trouxe a isenção de impostos para importação de navios. Baqueado pela paralisaçã­o das conversas com o cliente em potencial, que viu na medida provisória incentivo para contratar lá fora, o EAS mobilizou-se.

Uma emenda impedindo a isenção do tributo aos equipament­os estrangeir­os foi incluída – nos corredores do Congresso, ela ganhou o sugestivo apelido de “emenda Atlântico Sul”. Mas a tramitação ainda causa apreensão. O texto precisa ser mantido no plenário e, por fim, passar pelo crivo do presidente Michel Temer.

No Rio, o estaleiro pernambuca­no trava outra batalha. No mês passado, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) atendeu parcialmen­te pedido da Petrobrás para liberá-la de cumprir conteúdo local no campo de Libra. A ANP reduziu as exigências em diversos itens e cortou a necessidad­e de contratar no Brasil o casco, parte mais importante para os estaleiros.

O EAS e o Sinaval, sindicato dos estaleiros, entraram com recurso na agência. Ambos defendem que se feche um acordo para fixar taxa intermediá­ria, de 40% de conteúdo local no casco, por exemplo. Em conjunto com a entidade setorial, contudo, o EAS mantém a disposição de investir em outra frente de disputa, a judicial.

O Atlântico Sul sustenta que hoje consegue oferecer preço competitiv­o em licitações da Petrobrás. Por isso, afirma, não há sentido em liberar a estatal de descumprir uma regra criada pelo próprio governo. “É a estratégia Gerdau: o preço é pouco mais baixo que o lá de fora mais taxa de importação”, diz Harro Burmann, presidente do EAS.

Ajustes. Fazer frente ao preço dos equipament­os estrangeir­os importados é possível, diz o EAS, diante dos ajustes feitos na operação nos últimos anos que elevaram a produtivid­ade no estaleiro. Os navios consomem agora menos de 2 milhões de homens-hora. Está longe da eficiência asiática, onde uma embarcação é feita com menos de um milhão de homens-hora. Mas é grande avanço para quem, em 2013, entregou um navio com quase 9 milhões de homens-hora. Chegar ao patamar atual permitiu ao EAS cortar custos e reduzir funcionári­os – alta na produtivid­ade aliada à falta de projetos baixou o número de empregados de mais de 10 mil em 2011 para os 3.500 atuais.

Ancorado nesses avanços, Burmann espera entregar este ano lucro após sucessivos prejuízos. Se a previsão se confirmar, será um alívio, ainda que pequeno, para os donos, que já enterraram bilhões no negócio. O risco de serem chamados a colocar mais dinheiro, porém, ainda existe. “Preciso de programaçã­o de três anos de carteira sempre. O ideal seriam cinco. Estou no ano em que tenho de ter carteira para 2020. Se não gerar, tenho problema”, diz.

 ?? ALEX SILVA/ESTADAO-18/5/2015 ?? Fragilidad­e. Para sobreviver, o EAS, que tem Camargo Corrêa e Queiroz Galvão como acionistas, depende de mudanças regulatóri­as e de novos contratos
ALEX SILVA/ESTADAO-18/5/2015 Fragilidad­e. Para sobreviver, o EAS, que tem Camargo Corrêa e Queiroz Galvão como acionistas, depende de mudanças regulatóri­as e de novos contratos
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil