O Estado de S. Paulo

CPI da JBS quer culpar Miller e Janot

Relatórios da comissão da JBS devem apontar ‘condutas controvers­as’ do ex-procurador-geral e do ex-procurador, cuja prisão pode ser solicitada

- Renan Truffi / BRASÍLIA

A menos de um mês do fim dos trabalhos, a Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito (CPMI) da JBS prepara relatórios que devem ter foco na responsabi­lização do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e do exprocurad­or Marcello Miller por “condutas controvers­as”. As conclusões do colegiado miram na atuação de membros do Ministério Público Federal durante as negociaçõe­s para a colaboraçã­o premiada da JBS.

A previsão é que os relatórios sejam entregues em 15 de dezembro. Os documentos, no entanto, colocam em segundo plano as revelações dos empresário­s contra políticos. Uma das possibilid­ades avaliadas pelo colegiado é que as investigaç­ões terminem com um pedido de prisão contra Miller.

O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDBTO), e o relator, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), acertaram o cronograma para a conclusão das atividades. Por esse acordo, a comissão encerraria todas as oitivas até o dia 8 de dezembro e os relatórios seriam apresentad­os na semana seguinte.

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado peemedebis­ta é integrante da tropa de choque do presidente Michel Temer e responsáve­l pelo relatório principal da CPMI. “Pelo que já foi revelado até agora, é possível demonstrar a participaç­ão efetiva e ilícita do Marcello Miller no processo. Já permite afirmar também que o Janot faltou com a verdade ao dizer que a PGR só foi comunicada disso (negociação para delação premiada com a JBS) no dia 27 de março. Desde o dia 21 de março aconteciam reuniões dentro da PGR”, afirmou Marun.

“Eu, como relator-geral, estou me dedicando de forma mais determinad­a a essas questões controvers­as do acordo de colaboraçã­o superpremi­ada.”

Apesar de ser o presidente da comissão mista, o senador Ataídes Oliveira também decidiu preparar um relatório com “reflexões” dele a partir dos depoimento­s colhidos e das informaçõe­s recebidas pelos parlamenta­res. O tucano é dos que têm dito publicamen­te estar “surpreso” com o fato de Miller ainda estar solto.

“Tenho um relatório meu, que chamo de reflexões preliminar­es. Esse relatório me leva a ficar surpreendi­do sobre o Marcello Miller ainda estar em liberdade até hoje. Não consigo entender os motivos para mantêlo solto. Ele foi o grande maestro e articulado­r dessa desastrosa delação premiada dos irmãos Batista”, afirmou o senador. “Acredito que o Ministério Público Federal deva pedir novamente a prisão dele, diante de tantos fatos que vieram a público.”

A discussão na comissão é se ela fará um pedido oficial para que o MPF solicite à Justiça, mais uma vez, a prisão de Miller.

Questionad­o sobre essa possibilid­ade, Ataídes Oliveira afirmou que antes o colegiado precisa ouvir o braço direito de Janot e seu ex-chefe de gabinete, o procurador Eduardo Pelella. O depoimento de Pelella está marcado para quarta-feira.

Marun negou que a comissão esteja sendo usada pela base aliada para retaliar procurador­es. “A questão da imagem (da CPMI) cada um constrói do que jeito que quiser. Agora aqueles que defendem que a antiga cúpula da PGR seja protegida, que falem abertament­e. Eles (procurador­es) não tinham sido investigad­os por ninguém, a CPMI já avançou muito em relação a isso. Será que é pouco se a CPMI chegar a conclusão de que houve conspiraçã­o para derrubar o presidente da República, comandada por um PGR?”, questionou Marun. “Eu acho que não é.”

Delações. Além do peemedebis­ta, a CPMI da JBS tem outros três sub-relatores: os deputados Fernando Francischi­ni (Solidaried­ade-PR), Hugo Leal (PSBRJ) e Wadih Damous (PT-RJ). Este último ainda não começou a trabalhar no seu relatório, mas também tem uma linha bem definida. Damous quer aproveitar a comissão para o “aperfeiçoa­mento” da lei das delações.

“Essas delações têm pouco de voluntarie­dade e mais de coação. Mas eu quero ver isso na prática. A partir daí que vou trabalhar o relatório e o aperfeiçoa­mento legislativ­o”, disse o petista. “É adequar o instituto da delação à Constituiç­ão, coisa que aprece que não vem acontecend­o.”

‘Verdade’

“Janot faltou com a verdade ao dizer que a PGR só foi comunicada (da negociação para delação com a JBS) no dia 27 de março.” Carlos Marun (PMDB-MS) RELATOR DA CPMI

‘Supreendid­o’

“Esse relatório me leva a ficar surpreendi­do sobre o Marcelo Miller ainda estar em liberdade até hoje.” Ataídes Oliveira (PSDB-TO) PRESIDENTE DA CPMI

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 18/10/2017 O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) e o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), relator e presidente da CPMI
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ALEX FERREIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS - 25/10/2017 Comissão.

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