Fantasma de Pinochet ainda ronda candidatos
Sete eleições após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), o Chile ainda não se liberou totalmente do extenso legado de seu regime, pondo em especial destaque a direita chilena, que está em vantagem para retornar ao poder.
Doze por cento dos chilenos consideram o ex-ditador – cujo regime levou à morte de mais de 3.200 pessoas – “um dos melhores governantes do país”, segundo pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP).
O surgimento repentino como candidato do deputado ultraconservador José Antonio Kast, que reivindica abertamente a ditadura de Pinochet, trazendo de volta sem pudores o ideário ‘pinochetista’, levou o ex-presidente Sebastián Piñera, que se diz de centro-direita, a “endireitar” seu discurso durante a campanha, quando se voltou a ouvir gritos de “Viva Pinochet!” em alguns de seus comícios.
Embora cada vez mais reduzido, o chamado “pinochetismo” ainda tem um imenso poder econômico e controla grande parte da União Democrata Independente (UDI), o maior partido político do país. “Piñera não é pinochetista, mas precisa do pinochetismo”, diz o analista da Universidade de Santiago, Raúl Elgueta, demonstrando a encruzilhada em que o empresário se encontra.
Contrário ao aborto, favorável a fechar as fronteiras aos imigrantes e ao porte de armas para enfrentar a criminalidade, Kast buscou captar o voto de direita radical chilena.
O “endireitamento” de sua campanha levou Piñera a sepultar momentaneamente suas tentativas de se erguer como o líder de uma direita renovada e despojada de toda herança da ditadura de Pinochet. O empresário votou “não” no plebiscito que decidiu, em 1988, pelo fim da ditadura e, durante seu primeiro governo, entre 2010 e 2014, criticou setores dentro da mesma direita, ao qualificar de “cúmplices passivos” os civis que apoiaram a ditadura.