O Estado de S. Paulo

Sem recurso público, experiênci­a fica restrita a quem pode pagar

Fim do Ciência sem Fronteiras fez muitos estudantes universitá­rios abrirem mão do sonho de estudar fora do País

- / L.F.T, I.P, F.S, IGOR MORAES e MÔNICA BERNARDES/ESPECIAIS PARA O ESTADO

Sem recursos para custear sua estadia no exterior, a estudante de engenharia civil Sttefany Schiavone, 21, planejava fazer um intercâmbi­o por meio do Ciências sem Fronteiras quando ingressou na Escola Politécnic­a (Poli) da USP em 2015. O fim do programa, no entanto, a fez desistir da ideia. “Meus pais não têm condições financeira­s de bancar um intercâmbi­o. Então, ou era o Ciências Sem Fronteiras, ou não tinha outro jeito”, diz. Segundo a estudante, a faculdade até oferece convênio com universida­des estrangeir­as, mas a maioria exige investimen­to por parte do próprio aluno.

Esse é o caso de Ariane de Souza, de 20 anos, aluna do terceiro ano de Economia Empresaria­l, no câmpus da USP de Ribeirão Preto. Neste ano, ela conseguiu uma bolsa de R$ 20 mil para custear parte das despesas de um intercâmbi­o. A experiênci­a de seis meses na Bélgica, no entanto, só será possível com a ajuda dos pais. “O valor é insuficien­te para cobrir todos os gastos com passagem, alimentaçã­o, moradia, transporte. Felizmente eu tenho a ajuda dos meus pais e vou conseguir realizar meu sonho, mas muitas pessoas não conseguem ir mesmo com a bolsa”, diz.

Frustração. A estudante de Engenharia de Produção da Universida­de federal do Rio Grande do Sul Cristhine Borges, de 25 anos, se preparou por mais um ano e meio para realizar o sonho de estudar fora. Fez aulas de inglês, juntou documentos e prestou os principais exames de proficiênc­ia no idioma – TOEFL e IELTS. Mas quando foi tentar, em 2015, o programa havia sido encerrado. “Eu contava muito com isso para o aperfeiçoa­mento do meu inglês, na profissão e na questão cultural também”, conta.

Para ela, que pretendia ir à Austrália, a falta do intercâmbi­o vai impactar sua vida profission­al. “Afeta muito porque as empresas dão preferênci­a para quem tem vivência no exterior. A gente percebe isso nas entrevista­s e nas dinâmicas”, diz. A estudante conta que muito colegas que possuem o estudo fora do país conseguira­m bons cargos no mercado.

Prejuízo e frustração são as duas palavras usadas pelo estudante do curso de Engenharia de Produção da Universida­de Federal de Pernambuco , Felipe Veras, de 25 anos, para resumir o impacto causado em sua vida acadêmica pelo fim do programa Ciência sem Fronteiras. “Eu investi tempo, dinheiro e muita energia na busca por uma vaga para conseguir realizar o sonho que era estudar fora do Brasil e trazer de volta uma bagagem que certamente iria ter um peso grande para o resto de minha vida”, lamenta. Além da decepção, Felipe teve que arcar com o pagamento de mais de um ano de curso de inglês e as taxas para a realização do exame de proficiênc­ia na língua inglesa, exigida pelo programa.

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LUIS FELIPE MATOS/ ESTADAO Impacto. Para Cristhine Borges, da UFRGS, intercâmbi­o abriria portas no mercado

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