Vestibular da Unicamp reforça questões interdisciplinares
Professores elogiam prova deste ano, que cobrou correlação entre os temas; nota de corte deve ser alta
O vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) manteve a tradição de exigir do candidato o domínio sólido de conceitos básicos, das diversas áreas do conhecimento, e a capacidade de fazer correlações entre diferentes temas para responder corretamente as perguntas. Um exemplo foi a prova de inglês, que testou, nas questões de linguagem, conhecimentos de física e história.
A prova foi “atual e politizada”, segundo a coordenadora do curso do Colégio Objetivo Vera Lúcia da Costa Antunes. “Tratou de prisão de políticos, literatura marginal, meritocracia, Mariana (cidade palco do desastre ambiental em 2015), redes sociais”, afirma.
“Dos 12 livros exigidos, trouxe questões com sete. E não eram simples. Exigiram que o aluno tivesse conhecimento do livro, do momento histórico em que foi feito.”
Vera Lúcia chama a atenção também para uma das questões de química que trouxe termos não comuns para a área, como Dalton (uma unidade de medida usada para expressar a massa atômica) e isopreno (um composto químico). “Era uma questão que o aluno poderia responder, mesmo sem conhecimento dos termos, que existem mas não estão nos livros de química. Só que, ao ver uma palavra que desconhece, o aluno se assusta.”
Nas questões de humanas, a Unicamp trouxe atualidades como o Brexit (a saída do Grã-Bretanha da União Europeia) e o abandono, da gestão do norteamericano Donald Trump, do Acordo de Paris (que busca conter o aquecimento global). Mas também houve perguntas básicas. “Muita gente se perguntou se a prova traria algo da Rússia, do 100 anos da revolução. A prova teve uma pergunta da Rússia: na geografia, sobre o relevo na ferrovia Transiberiana. Uma questão de geografia clássica.”
Vera Lúcia exemplifica a interdisciplinaridade com uma questão de inglês, relacionada à segunda lei de Newton, um tema de física.
Já o professor Célio Tasinafo, da Oficina do Estudante, diz que “a prova de inglês foi quase um manifesto pela cidadania e a inclusão social. Trouxe questão citando banheiros unissex, outra com a leitura de um texto abolicionista norte-americano”.
A exceção desse espírito interdisciplinar foi a matemática. “Foi uma prova muito parecida com a dos anos anteriores, sem relação com as demais áreas”, diz Tasinafo.
Nota de corte. O coordenadorgeral do curso Etapa, Edimilson Motta, avaliou que a prova “é daquelas em que todos saem felizes, por acharem que foram bem. Mas aí é quando a nota de corte vai lá para a estratosfera”, afirma. “Especialmente na prova de Medicina.”