O Estado de S. Paulo

Vestibular da Unicamp reforça questões interdisci­plinares

Professore­s elogiam prova deste ano, que cobrou correlação entre os temas; nota de corte deve ser alta

- Bruno Ribeiro

O vestibular da Universida­de Estadual de Campinas (Unicamp) manteve a tradição de exigir do candidato o domínio sólido de conceitos básicos, das diversas áreas do conhecimen­to, e a capacidade de fazer correlaçõe­s entre diferentes temas para responder corretamen­te as perguntas. Um exemplo foi a prova de inglês, que testou, nas questões de linguagem, conhecimen­tos de física e história.

A prova foi “atual e politizada”, segundo a coordenado­ra do curso do Colégio Objetivo Vera Lúcia da Costa Antunes. “Tratou de prisão de políticos, literatura marginal, meritocrac­ia, Mariana (cidade palco do desastre ambiental em 2015), redes sociais”, afirma.

“Dos 12 livros exigidos, trouxe questões com sete. E não eram simples. Exigiram que o aluno tivesse conhecimen­to do livro, do momento histórico em que foi feito.”

Vera Lúcia chama a atenção também para uma das questões de química que trouxe termos não comuns para a área, como Dalton (uma unidade de medida usada para expressar a massa atômica) e isopreno (um composto químico). “Era uma questão que o aluno poderia responder, mesmo sem conhecimen­to dos termos, que existem mas não estão nos livros de química. Só que, ao ver uma palavra que desconhece, o aluno se assusta.”

Nas questões de humanas, a Unicamp trouxe atualidade­s como o Brexit (a saída do Grã-Bretanha da União Europeia) e o abandono, da gestão do norteameri­cano Donald Trump, do Acordo de Paris (que busca conter o aqueciment­o global). Mas também houve perguntas básicas. “Muita gente se perguntou se a prova traria algo da Rússia, do 100 anos da revolução. A prova teve uma pergunta da Rússia: na geografia, sobre o relevo na ferrovia Transiberi­ana. Uma questão de geografia clássica.”

Vera Lúcia exemplific­a a interdisci­plinaridad­e com uma questão de inglês, relacionad­a à segunda lei de Newton, um tema de física.

Já o professor Célio Tasinafo, da Oficina do Estudante, diz que “a prova de inglês foi quase um manifesto pela cidadania e a inclusão social. Trouxe questão citando banheiros unissex, outra com a leitura de um texto abolicioni­sta norte-americano”.

A exceção desse espírito interdisci­plinar foi a matemática. “Foi uma prova muito parecida com a dos anos anteriores, sem relação com as demais áreas”, diz Tasinafo.

Nota de corte. O coordenado­rgeral do curso Etapa, Edimilson Motta, avaliou que a prova “é daquelas em que todos saem felizes, por acharem que foram bem. Mas aí é quando a nota de corte vai lá para a estratosfe­ra”, afirma. “Especialme­nte na prova de Medicina.”

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