O Estado de S. Paulo

STF deve limitar alcance de foro privilegia­do de políticos

Maioria dos ministros do Supremo tende a restringir julgamento de autoridade­s dos três Poderes em corte especial

- Beatriz Bulla Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Em julgamento previsto para ser retomado nesta quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal deverá formar maioria pela restrição à abrangênci­a do foro privilegia­do. Quando o julgamento foi suspenso, havia quatro votos a favor da restrição – a maioria é formada quando se atinge seis votos, entre os 11 ministros. A tendência no STF é que prevaleça o entendimen­to de Luís Roberto Barroso de que políticos só devam ter direito a uma corte especial se o crime do qual forem acusados tiver sido cometido no exercício do mandato e for relacionad­o ao cargo que ocupam. Até agora acompanhar­am a posição de Barroso os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Nos bastidores, sinalizara­m que concordam com uma restrição ao foro os ministros Luiz Fux e Edson Fachin. Celso de Mello também é um crítico ao uso da prerrogati­va. Existe a possibilid­ade de a discussão ser novamente interrompi­da, por um pedido de vista de Dias Toffoli. Ontem, ele não quis falar sobre o assunto.

O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá formar maioria para restringir a extensão do foro privilegia­do, segundo apurou o Estado. A tendência do STF é a de que prevaleça o entendimen­to defendido pelo ministro Luís Roberto Barroso, de que os políticos só terão direito ao foro privilegia­do se o crime do qual forem acusados tiver sido cometido no exercício do mandato e for relacionad­o ao cargo que ocupam.

Previsto na Constituiç­ão de 1988, o chamado foro por prerrogati­va de função é um direito concedido a autoridade­s públicas de somente serem processada­s penalmente por uma corte especial – como o Supremo, no caso de políticos do Executivo e do Legislativ­o federal.

O julgamento está previsto para ser retomado nesta quintafeir­a, mesmo dia em que o plenário vai decidir sobre o pedido de liberdade do ex-ministro Antonio Palocci. Quando foi suspenso, havia quatro votos a favor da restrição. Conforme relatos, a discussão do foro privilegia­do poderá ser novamente interrompi­da, desta vez por um pedido de vista do ministro Dias Toffoli. Procurado ontem, Toffoli não quis falar sobre o tema.

Prevendo a possibilid­ade de uma nova interrupçã­o, ministros articulam a antecipaçã­o do voto para assegurar maioria no tema mesmo antes de o julgamento ser finalizado. Nos bastidores, sinalizara­m que concordam com uma restrição ao foro os ministros Luiz Fux e Edson Fachin. O decano da Corte, Celso de Mello, também é um crítico ao uso da prerrogati­va.

Em entrevista veiculada ontem pela BBC Brasil, Fux disse que “é o momento de rever o foro privilegia­do, porque os processos sobem e descem conforme o cargo exercido pelo acusado”. “Esse sobe e desce acaba gerando prescrição e sensação de impunidade. Essa regra constituci­onal certamente será interpreta­da, já tem quase que a maioria de votos, no sentido de que só ficam no Supremo os casos daqueles candidatos que estejam no exercício do mandato e cujo delito tenha sido praticado durante o mandato”, afirmou.

Para Barroso, relator do processo, o foro privilegia­do tem sido usado como instrument­o para garantir que os políticos sejam julgados no Supremo. Segundo o ministro, se a instância onde alguém fosse julgado “não fizesse diferença”, os políticos não se empenharia­m tanto em manter a prerrogati­va.

Até agora acompanhar­am a posição de Barroso os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, que antecipara­m o voto.

A incerteza agora é quanto ao alcance da restrição que será imposta e ao momento em que o julgamento vai se encerrar. A deliberaçã­o sobre o foro privilegia­do foi iniciada em 1.º de junho deste ano. No mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes pediu mais tempo para análise, interrompe­ndo a discussão.

Cálculo. Ao elaborar apauta de julgamento­s de novembro, Cármen Lúcia não pautou inicialmen­te a matéria, optando por dar prioridade a temas de repercussã­o social e ambiental. Desgastada perante a opinião pública depois do julgamento que abriu caminho para o Senado reverter as medidas cautelares que haviam sido impostas ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), a presidente do STF decidiu pautar o foro privilegia­do depois de calcular que o Tribunal deve formar maioria para apoiar Barroso. Internamen­te, o julgamento do foro é visto como uma maneira de o Supremo marcar posição frente ao Congresso Nacional.

A deliberaçã­o da Corte no caso de Aécio tem sido usada por políticos como justificat­iva para liberar parlamenta­res estaduais da prisão ou restrições ao mandato. Foi o que ocorreu na semana passada, quando a Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj) soltou os deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB. Cármen Lúcia lamentou a interlocut­ores próximos o fato de haver o que considera uma “confusão” entre o que foi decidido pelo STF e a situação no Rio.

Na sessão desta quinta-feira, a presidente deve reafirmar o seu voto a favor da restrição ao foro. Ricardo Lewandowsk­i não deve participar da sessão em razão de licença médica.

“P ensoque és empreimpor­t antejulgar, e não podemos ficar impression­ados coma conjuntura ”, disse o ministro Marco Aurélio Mel loa o Estado, ao ser questionad­o se o episódio da Alerj poderia sensibiliz­ar os ministros a acompanhar acorrente até aqui majoritári­a.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 1/6/2017 Sessão. Ministros no plenário do Supremo Tribunal Federal durante o julgamento sobre o alcance do foro privilegia­do

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