O Estado de S. Paulo

Uma mala talvez não seja prova, diz Segovia

Ao assumir corporação, Segovia critica denúncia de Janot contra Temer e afirma que combate à corrupção será ‘agenda prioritári­a’

- FABIO SERAPIÃO, BEATRIZ BULLA, CARLA ARAÚJO e RAFAEL MORAES MOURA

Fernando Segovia afirmou ontem que “uma mala talvez não desse toda a materialid­ade criminosa” contra o presidente Michel Temer. O novo diretor da Polícia Federal se referiu ao episódio em que o ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures é filmado com uma mala de dinheiro entregue por um executivo do Grupo J&F. Segovia falou durante posse, criticou a Procurador­ia-Geral da República (PGR) e cobrou transparên­cia do órgão.

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou ontem que “uma única mala talvez não desse toda a materialid­ade criminosa” contra o presidente Michel Temer em referência à denúncia por corrupção passiva apresentad­a pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Em entrevista logo após a cerimônia de sua posse no Ministério da Justiça, ele comentou o episódio em que o ex-deputado e ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR) é filmado com uma mala com dinheiro entregue por um executivo do Grupo J&F.

“É um ponto de interrogaç­ão (se a mala de dinheiro era para Temer), que fica hoje no imaginário popular brasileiro e que poderia ser respondido se a investigaç­ão tivesse mais tempo”, afirmou Segovia. O diretor-geral cobrou mais “transparên­cia” da Procurador­ia-Geral da República (PGR), hoje sob o comando de Raquel Dodge, na condução de investigaç­ão contra o presidente Temer.

Procurado pelo Estado, Janot rebateu as declaraçõe­s de Segovia e disse que o diretor-geral “está fazendo o que foi contratado para fazer” (mais informaçõe­s nesta página). Questionad­a sobre a declaração de Janot, a assessoria de imprensa da PF informou não ter “interesse em alimentar essa fogueira armada”. Raquel, que não compareceu à posse, não comentou.

Quando Temer escolheu Segovia para o cargo, seu nome foi apontado como uma indicação de políticos do PMDB, entre eles o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). A transmissã­o de cargo para Segovia teve a presença de Temer, que não discursou. Participar­am também o ex-diretor-geral Leandro Daiello, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli e o ministro da Justiça, Torquato Jardim.

Segovia se disse lisonjeado com a participaç­ão de Temer na cerimônia e informou que pela primeira vez na história um presidente teria ido à posse de um diretor-geral da PF.

Em seu discurso, Segovia afirmou que o “combate à corrupção” será uma “agenda prioritári­a da PF”. Sobre os atritos com o Ministério Público Federal (MPF), Segovia defendeu uma relação harmoniosa entre a instituiçã­o e a corporação para combater crimes. “Acredito que agora, neste novo momento tanto da PGR como da PF, a gente vai tentar construir, neste momento de mais maturidade, vai conseguir trabalhar mais em conjunto e que investigaç­ões sejam coordenada­s”, afirmou.

Críticas. Nas declaraçõe­s sobre a condução das apurações contra Temer pela PGR na gestão de Janot, Segovia afirmou que, “se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigaç­ão (sobre corrupção passiva) teria de durar mais tempo”.

A posição de Segovia, no entanto, vai de encontro às próprias afirmações da PF em relatório final do inquérito que investigou Temer. Embora tenha exposto as “limitações decorrente­s do prazo conferido à investigaç­ão”, o delegado Thiago Delabary, responsáve­l pela condução do caso, concluiu pela prática de corrupção por Temer “em face de, valendo-se da interposiç­ão de Rocha Loures, ter aceitado promessa de vantagem indevida”.

“Quem pôs esse deadline, que finalizou a investigaç­ão, foi a Procurador­ia-Geral da República. Talvez ela seja a melhor a explicar por que foi feito aquilo naquele momento e por que o senhor Joesley (Batista) sabia o que ia acontecer para que ele conseguiss­e ganhar milhões no mercado de capitais”, disse Segovia. A PF realizou, em parceria com a PGR, as ações controlada­s que flagraram o recebiment­o de uma mala com R$ 500 mil por Rocha Loures, em São Paulo.

Questionad­o sobre a investigaç­ão sobre Temer no caso do Decreto dos Portos, que supostamen­te concedeu benefícios a uma empresa que atua no Porto de Santos, Segovia afirmou que Temer “continuará a ser investigad­o com a celeridade de todos os outros inquéritos”.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Calado. Temer foi à posse de Segovia (à esq.), mas não discursou
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Evento. Presidente Temer e senador Eunício Oliveira vão à posse de Segovia à frente da PF

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