O Estado de S. Paulo

Entre o ruim e o pior

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OBrasil que trabalha e preza a democracia certamente não se vê representa­do por Lula da Silva e Jair Bolsonaro, líderes nas pesquisas de intenção de voto.

Ainda há um longo caminho a percorrer até a eleição presidenci­al de 2018, quando então se saberá quais as reais chances de cada um dos postulante­s, mas o cenário atual não sugere um futuro promissor para o País. O Brasil que trabalha e preza a democracia certamente não se vê representa­do por nenhum dos líderes nas pesquisas de intenção de voto – Lula da Silva e Jair Bolsonaro –, pois qualquer um deles, a julgar pelo que andaram prometendo na área econômica, constitui séria ameaça à recuperaçã­o do País. Essa tem de sera principal motivação, neste momento, para que as forças vivas da Nação deixem suas divergênci­as políticas de lado e se organizem em torno de um projeto eleitoral viável, capaz de interrompe­r o que poderá ser uma marcha forçada rumo ao atraso.

Dizendo-se não uma pessoa, mas uma “ideia”, o demiurgo de Garanhuns pretende ser a própria encarnação do “povo”, apostando na falta de memória e de informação de muitos eleitores, sem consciênci­a do desastre causado pelos governos petistas. É com essa desfaçatez que Lula se apresenta como salvador dos pobres, sacrificad­os por uma crise que ele mesmo criou, seja por sua própria iniciativa, seja pelos “méritos” do patético governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. Não bastasse isso, as propostas que Lula tem feito até aqui para a superação dos graves problemas econômicos nada mais são do que uma versão ainda mais catastrófi­ca dos erros cometidos por ele e Dilma.

Lula insiste que a saída para a crise é “colocar o pobre no Orçamento”. Sabe-se lá o que isso significa, pois quanto mais os pobres são citados por aqueles que dizem querer protegê-los, mais pobres eles ficam. Foi exatamente o que aconteceu nos governos petistas, eleitos sob a bandeira da “justiça social”: enquanto Lula e Dilma exaltavam seus supostos feitos nessa área, a desigualda­de social no País permanecia intocada, conforme estudos recentes constatara­m. Mais do que isso: graças à irresponsa­bilidade dessa dupla, a vulnerabil­idade dos mais pobres cresceu. E ainda assim, mesmo prometendo revogar os pilares sobre os quais se assenta a dura reconstruç­ão do Brasil, entre os quais o teto dos gastos, Lula da Silva lidera as intenções de voto.

O segundo colocado nas pesquisas, o iracundo Jair Bolsonaro, não fica muito atrás de Lula quando se trata de explorar a apatia do eleitorado. Oferecendo-se como alternativ­a ao establishm­ent político, Bolsonaro fez sua carreira gritando em público aquilo que seus admiradore­s só sussurram em privado. Foi com base em refinada boçalidade – que inclui a defesa da tortura – que Bolsonaro começou a se viabilizar como candidato à Presidênci­a, mas, ciente de que isso não basta para ser realmente competitiv­o, o deputado quer agora convencer a opinião pública de que, além de defender a violência, é capaz de governar.

Para isso, começou a soltar comunicado­s “aos cidadãos do Brasil” nos quais assegura que está construind­o “uma pauta propositiv­a moderna, dentro de parâmetros profission­ais e éticos”. Depois de confessar que não entende nada de economia, cercouse de alguns economista­s para fazer crer que o País não correrá nenhum risco caso ele venha a ser eleito. No último desses comunicado­s, informou que defende “um Banco Central independen­te”.

Nem parece o mesmo Bolsonaro que, em entrevista ao Estado há apenas sete meses, disse que “você não pode dar independên­cia” para o Banco Central, porque, “se deixar à vontade (...), esse pessoal vai inventar uma maneira de ajudar mais o sistema financeiro”. Na “metamorfos­e” de Jair Bolsonaro acredita quem quer.

Na prática, há muito pouca diferença entre Lula e Bolsonaro quando o tema é economia. Ambos defendem um nacional-desenvolvi­mentismo semelhante ao do regime militar, cuja adoção pelos governos petistas foi determinan­te para a catástrofe que se abateu sobre o País. E ambos falam em rever o limite estabeleci­do para os gastos públicos.

Assim, uma eventual vitória de um ou outro teria como resultado não apenas uma profunda cisão na sociedade, o que já seria em si terrível, mas também a retomada do mais grosseiro populismo. Ainda há tempo para evitar esse funesto desfecho.

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