O Estado de S. Paulo

Chilenos entram em terreno desconheci­do

Piñera já não é o favorito incontestá­vel e terá de buscar apoio nos extremos, assim como Guillier

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“Estamos satisfeito­s”, declarou Sebastián Piñera, depois que os resultados do primeiro turno das eleições no Chile foram divulgados. Poucos acreditara­m nele. Piñera, o candidato presidenci­al da coalizão Chile Vamos, obteve apenas 37% dos votos, bem menos que os 44% previstos pelas pesquisas. Ele disputa segundo turno no dia 17 com Alejandro Guillier, que representa a coalizão Força da Maioria, de centro-esquerda, e obteve 23% dos votos. Piñera, empresário bilionário que foi presidente de 2010 a 2014, continua sendo o favorito, mas não muito. Os surpreende­ntes sucessos do primeiro turno vêm da área periférica da política chilena. A maior dúvida que o país enfrenta é saber até que ponto esses extremos vão influencia­r o próximo governo.

O terceiro lugar, com 20% dos votos, ficou com Beatriz Sánchez, uma jornalista de esquerda que jamais ocupou cargos eletivos. Seu grupo recentemen­te formado, a Frente Ampla, será uma força. Nas eleições para o Congresso, realizadas também no domingo, ela conquistou 20 assentos na Câmara dos Deputados, bem mais do que os 3 atuais, e terá seu primeiro senador. “O Chile quer mudança e isso se manifestou na votação de domingo”, disse Sánchez.

As eleições também deram um impulso ao destino de José Antonio Kast, um direitista que superou as expectativ­as ao conquistar 8% dos votos. Ele se declara fã de Augusto Pinochet, o brutal ditador dos anos 70 e 80. Em contraste, Carolina Goic, a candidata do centrista partido Democrata-Cristão, uma integrante da coalização Nova Maioria, liderada pela atual presidente, Michelle Bachelet, recebeu menos de 6% dos votos.

Piñera e Guillier agora terão de buscar apoio nos extremos do espectro político. Isso será mais difícil para Piñera, que concorreu como um centrista tranquiliz­ador, prometendo incentivar o cresciment­o por meio da desregulam­entação e de um sistema fiscal mais simples, ao mesmo tempo investindo mais nos serviços públicos, tais como educação. Guillier pode achar mais fácil conquistar adeptos da Frente Ampla, embora não esteja claro se os movimentos de base que formam a coalizão vão endossá-lo. Eles romperam com a Nova Maioria de Bachelet porque achavam tímidas suas reformas em educação, impostos e pensões. Guillier não está propondo nada muito mais ousado.

Os votos para Carolina Goic são outro prêmio que podem ir diretament­e para Piñera. Os analistas acreditam que muitos de seus partidário­s de centro estão relutantes em apoiar uma esquerda reforçada.

O novo Congresso tornará mais difícil o trabalho do próximo presidente. Ele é o primeiro a ser eleito sob um sistema de representa­ção proporcion­al, destinado a dar mais assentos a partidos menores.

O Vamos Chile conquistou a maior parte dos assentos e faltaram apenas cinco integrante­s para que se tornasse maioria na Câmara. Mas Piñera teria mais dificuldad­es que Guillier em fechar acordos com partidos de centro-esquerda e esquerdist­as, como a Frente Ampla, que deve seu sucesso no Congresso ao novo sistema. O resultado inesperado das eleições significa que um dos países mais estáveis e prósperos da América Latina está entrando em um período de incerteza à qual está desacostum­ado.

Partido de Beatriz Sánchez ampliou número de cadeiras e se tornou nova força no Congresso

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