O Estado de S. Paulo

Cartolas tinham nomes de carro na lista da propina

Testemunha mostra no tribunal planilha com pagamentos feitos à dirigentes que formavam a cúpula da Conmebol

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Dirigentes ligados à Conmebol eram identifica­dos com nomes de montadoras de veículos numa lista de pagamentos de propinas referentes a contratos de direitos de transmissã­o de torneios de futebol. A revelação foi feita ontem por Santiago Peña, ex-executivo da empresa de marketing esportivo Full Play, em depoimento no julgamento do expresiden­te da CBF, José Maria Marin. Ele é uma das testemunha­s de acusação.

Também estão sendo julgados no Tribunal do Brooklin o ex-presidente da Conmebol, Juan Angel Napout, e o ex-presidente da Federação Peruana, Manuel Burga. De acordo com Peña, o paraguaio era identifica­do como “Honda” e o peruano como “Fiat”. Ele não fez referência a nenhum nome de dirigente brasileiro. A promotoria pediu a ele que identifica­sse entre os presentes no tribunal pessoas a quem pagou propina. Peña apontou Napout e Burga e não citou Marin.

Santiago Peña disse que os re- passes estavam ligados a acordos referentes a várias edições da Copa América, às Eliminatór­ias Sul-Americanas para as Copas do Mundo de 2014 e 2018 e Copa Libertador­es.

De acordo com a testemunha, o controle dos pagamentos era feito em um planilha de Excel. “Nós basicament­e decidimos criar nomes de fantasia para cada uma das pessoas envolvidas”, disse. Os pagamentos, de acordo com o ex-funcionári­o da empresa argentina, eram feitos para obter a “lealdade” dos presidente­s de confederaç­ões que também faziam parte da cú- pula da Conmebol.

O ex-executivo da Full Play afirmou que os dirigentes recebiam US$ 1 milhão pelas Eliminatór­ias e R$ 2 milhões pela Copa América. Assim, segundo seu relato, teve cartola embolsando pelo menos US$ 3 milhões em propina.

Peña detalhou quantias que, diz, também teriam sido destinadas ao codinome Honda (Napout): US$ 10 mil em ingressos para um show de Paul McCartney, US$ 68 mil em pagamentos de aluguéis de imóveis no Uruguai, e um anel para a mulher do dirigente no valor de R$ 2 mil.

Entre os codinomes descritos na planilha mostrada aos jurados, o ex-presidente da Federação Equatorian­a Luis Chiriboga era o “Toyota” e recebeu pagamento de US$ 500 mil; o expresiden­te da Federação Venezuelan­a Rafael Esquível, identifica­do como “Benz”, amealhou R$ 750 mil.

Nesse caso, ambos os pagamentos foram relacionad­os ao código “Q2022” que, tudo indica, está ligado à compra de votos para a escolha do Catar como sede da Copa de 2022. A votação ocorreu em 2010.

Há também dirigentes identi- ficados pelos codinomes “VW” (Carlos Chávez, da Federação Boliviana); “Kia” (Sergio Jadue, da Chilena); “Peugeot” (Jose Meiszner, secretário geral da Conmebol). O presidente da Federação Colombiana, Luis Bedoya, foi registrado como “Flemic”, referência a uma empresa de sua propriedad­e.

A Full Play é uma empresa argentina que tem como proprietár­ios Hugo e Mariano Jinkis, pai e filho. Eles chegaram a ser presos na Argentina, tiveram sua extradição pedida pelos Estados Unidos, mas foi negada no ano passado.

A empresa foi uma das formadoras da Datisa, junto com outra firma argentina da área de venda de direitos, a Torneos y Competenci­as, e a brasileira Traffic. Foi a Datisa que ficou responsáve­l por pagar aos cartolas as propinas referentes às quatro edições da Copa América citada por Santiago Peña em seu depoimento.

O julgamento, que entrou em sua terceira semana, segue hoje, no Tribunal do Brooklin. Depois os trabalhos serão interrompi­dos em função do feriado de Ação de Graças, e só vão ser retomados na próxima semana.

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MARY ALTAFFER/AP–17/11/2017 Maratona. Julgamento de Marin entra na terceira semana; sentença só sairá em dezembro

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