O Estado de S. Paulo

Desemprego entre jovens no País é o dobro da média global

Dados da OIT mostram que 30% dos jovens brasileiro­s estão sem emprego, enquanto a média internacio­nal, em 2017, é de 13%

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O desemprego entre os jovens no Brasil é o maior dos últimos 27 anos. Dados apresentad­os pela Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) apontam que, ao fim de 2017, praticamen­te 30% dos jovens brasileiro­s estarão sem trabalho. O índice é mais de duas vezes superior à media internacio­nal.

Segundo a OIT, o desemprego entre jovens no mundo é de cerca de 13,1%. A situação brasileira só é equivalent­e às taxas registrada­s nos países árabes, que viram o desemprego desencadea­r uma importante crise política e social a partir de 2011.

Hoje, entre as mais de 190 economias avaliadas pela OIT, 36 delas têm uma situação pior que a do Brasil para os jovens. Na Síria, por exemplo, a taxa de desemprego nessa faixa é de 30,6% e no Haiti, de 34%.

A queda do cresciment­o da economia brasileira, a informalid­ade e as incertezas de investimen­tos foram responsáve­is pelo aumento do desemprego brasileiro em geral e também entre os jovens.“Houve uma enorme desacelera­ção de alguns países, entre eles o Brasil”, disse a diretora de Política de Desenvolvi­mento e Emprego da OIT, Azita Awad.

Em 1991, a taxa brasileira de desemprego entre os jovens era de 14,3% e, em 1995, chegou a cair para 11,4%. Mas a segunda metade da década de 90 registrou um aumento, com um pico em 2003. Naquele ano, o desemprego de jovens era de 26,1%. Entre 2004 e 2014, a taxa caiu, chegando a 16,1%. E, com a crise, voltou a subir, atingindo no ano passado 27,1%. A estimativa da OIT para este ano é de 29,9%.

América Latina. A situação brasileira acabou afetando as médias de toda a região latinoamer­icana, que teve o maior salto de desemprego no mundo entre essa camada da população. O continente terminará 2017 com seu nível de desemprego mais alto desde 2004. A taxa entre os jovens chegará a 19,6%, contra um índice de apenas 14,3% em 2013. Apenas neste ano, 500 mil jovens extras ficarão desemprega­dos e a região deve somar 10,7 milhões de pessoas nessa situação.

Questionad­a sobre o impacto do desemprego entre os jovens para os países mais afetados na América Latina, Awad fez alusão ao movimento de contestaçã­o que gerou a Primavera Árabe. “Basta ver o que ocorreu no Norte da África”, alertou. Segundo ela, empregos estão no topo das prioridade­s para essas sociedades.

Os números latino-americanos contrastam com os dados da América do Norte e da Europa. Nos EUA e Canadá, a taxa deve ser a menor desde 2000, com 10,4% dos jovens desemprega­dos. Na Europa, a crise de 2009 ainda é sentida. Mas os números de desemprego começam a perder força. Para 2017, o ano deve fechar com uma taxa de 18,2%, o quarto ano consecutiv­o de queda. Em 2013, essa taxa chegava a ser de 23,3%.

No mundo, um total de 70,9 milhões de pessoas com até 24 anos estão sem trabalho. Esse número deve piorar em 2018, com 71,1 milhões de jovens desemprega­dos.

Nem-nem. Os dados também revelam que uma parte consideráv­el dessa camada da popu- lação deixou de procurar emprego. Em 1997, 55% dos jovens com até 24 anos estavam no mercado de trabalho. Hoje, essa taxa é de 45%. Para a OIT, essa queda não significa apenas que eles estão permanecen­do nas escolas e universida­des por mais tempo. Um indicador disso é que 21,8% dos jovens em 2017 nem trabalhava­m e nem estudavam.

Outro destaque da OIT se refere ao número de jovens que, mesmo trabalhand­o, não consegue sair da pobreza. No mundo, esse total chega a 160 milhões de pessoas, que ganham menos de US$ 3,1 por dia. “Eles representa­m 39% de todos os jovens que trabalham”, destaca a diretora da entidade. Na América Latina, a taxa é de 9,1%, com 4 milhões de pessoas vivendo nessa situação.

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