O Estado de S. Paulo

BC vai reter lucro de reserva internacio­nal

Comissão do Senado vota hoje alteração que impede transferên­cia de ganho com reserva internacio­nal

- Adriana Fernandes Fernando Nakagawa Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O lucro obtido pelo Banco Central com as reservas internacio­nais – atualmente em U$ 380,472 bilhões – não será mais transferid­o ao Tesouro Nacional. O ganho ficará numa espécie de colchão em separado no BC para ser “consumido” quando a variação cambial das reservas representa- rem prejuízo ao banco.

A equipe econômica pegou carona em projeto do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que deve ir à votação hoje na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, para incluir a mudança. O BC busca acabar com a polêmica criada durante o governo Dilma Rousseff sobre transferên­cias bilionária­s de lucros, que abriram caminho para operações da chamada “contabilid­ade criativa” e financiame­nto do Tesouro pelo BC, o que é proibido pela legislação.

Em 2016, muitos economista­s questionar­am que indiretame­nte a folga no caixa teria ajudado a pagar as chamadas “pedaladas fiscais”, o que foi negado oficialmen­te pelo governo na época, mas gerou debate no mercado e nos meios acadêmicos. A polêmica levou o então minis- tro da Fazenda, Nelson Barbosa, a fazer uma proposta semelhante, que não avançou por causa do processo de impeachmen­t da presidente Dilma.

Pela regra atual, o lucro obtido com a variação cambial das reservas tem de ser repassado ao Tesouro em reais depois de aprovado o balanço pelo BC. O prejuízo é bancado pelo Tesouro com a transferên­cia de títulos ao BC. O projeto de Ferraço barra as transferên­cias de grandes valores do Tesouro ao BC.

O banco vai reter o lucro numa espécie de colchão (a reserva de resultado) no caso de ele ser decorrente de ganhos com as reservas internacio­nais e operações de intervençã­o no câmbio com contratos de swap cambial.

Na exposição de motivos do projeto é alegado que esse modelo tem causado distorções. A pri- meira relacionad­a ao fato de que lucros e prejuízos das operações cambiais têm grande valor absoluto – pelo fato de o BC ter acumulado um grande volume de reservas – e são bastante voláteis. E, como o BC não vende as reservas, mantendo-as em seu balanço, esses ganhos e perdas não se realizam na prática.

Pelo projeto, quando as reservas gerarem resultado negativo, o buraco será coberto com os re- cursos do colchão. Se o dinheiro não for suficiente, o prejuízo será coberto com patrimônio do BC até o limite de 1,5% do seu ativo. Só em último caso, o Tesouro cobrirá o prejuízo com a emissão de títulos para o BC.

O lucro operaciona­l continuará sendo transferid­o normalment­e, assim como o prejuízo operaciona­l, será bancado pelo Tesouro. Segundo um integrante da equipe econômica, a proposta aumenta a transparên­cia. A mudança no relacionam­ento do Tesouro com o BC afasta o risco de utilização dos recursos para ampliar indiretame­nte o espaço fiscal para despesas.

Segundo Ferraço, que está licenciado do cargo, o projeto é terminativ­o, ou seja, depois de aprovado pela CAE não precisa ir ao plenário, segue direto para aprovação pela Câmara.

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