O Estado de S. Paulo

Varredura se concentra na busca de 2,1 mil toneladas de metal

- Roberto Godoy

Olimite de mergulho do S-42 San Juan é de 250 metros, mas nos testes a que foi submetido no Mar do Norte, antes da entrega, há pouco mais de 30 anos, o estaleiro alemão Thyssem teria levado o navio sob a água até além de meio quilômetro – o dobro da faixa de segurança, talvez um pouco mais.

Condições extremas: o casco de aço gemeu, os motores elétricos entraram na faixa vermelha e, ao final, a máquina de guerra aguentou. Esse fato, lembrado ontem por um capitão aposentado da Marinha da Argentina que esteve envolvido no processo de compra, entre 1983 e 1985, pode ser um facilitado­r na missão de localizaçã­o do submarino naufragado. A possibilid­ade de que haja sobreviven­tes é remota. Embora o San Juan conte com reservas de oxigênio e purificado­res químicos do ar, o fato de ter havido uma explosão interna e depois disso nenhum ruído, apenas silêncio, não é um bom indicador.

A varredura agora se fará na busca dos sinais indicadore­s de 2.100 toneladas de metal, perdidos em algum ponto no fundo do Atlântico Sul, ao largo da Península Valdés. Para hoje, os meteorolog­istas preveem para o quadrante um dia de sol, temperatur­a de 24 graus, vento fraco e mar calmo. O problema está nas caracterís­ticas do local, alertam as cartas do Serviço de Hidrografi­a Naval da Marinha Argentina. Ali, a plataforma continenta­l se estende por uma longa distância desde o litoral na profundida­de variável de 200 a 230 metros. Subitament­e, começa a cair como em um declive em níveis – para 2 mil metros, depois 3,2 mil e, finalmente, cerca de 6 mil metros.

O trabalho continua intenso nessa segunda fase. Ontem, a Rússia passou a integrar a força-tarefa que antes já contava com pessoal e recursos de 11 países, Brasil e Estados Unidos entre eles. O presidente argentino, Maurício Macri, falou diretament­e com seu colega russo, Vladimir Putin, para pedir apoio. O resultado chegou voando, a bordo de um gigantesco An-124, o quarto maior cargueiro do mundo, com asas de 60 metros e capacidade para transporta­r até 150 toneladas.

Dentro do “armazém”, como é chamada a seção interna da fuselagem, vieram a sonda robótica Pantera e a equipe técnica. A nave, não tripulada, tem 135 sensores e pode descer até 6 mil metros, embora a expectativ­a seja a de que não será necessário ultrapassa­r 1 mil metros.

A Rússia acumula ampla experiênci­a em procedimen­tos de salvamento e busca de naufrágios críticos. Em Moscou, o Ministério da Defesa emitiu uma nota informando que a Pantera pode entrar em operação 20 horas depois do desembarqu­e. Ou seja, esta tarde. O An-124 é comercial e o voo fretado na rota Rússia-Argentina não sai por menos de US$ 1,2 milhão. A conta será paga pelo Kremlin.

Perto dali, militares americanos e técnicos argentinos preparam o navio norueguês de suprimento­s Sophie Siem, de 2.465 toneladas e 73 metros, para receber um ou dois minissubma­rinos de um tipo especial, “com desempenho compatível com a missão”, capazes de chegar aos mil metros, segundo nota do grupo de resgate.

Foi necessário cortar e soldar uma parte da popa do Sophie Siem para dar acesso rápido aos veículos. O porta-voz da força naval argentina, Enrique Balbi, anunciou a entrada no Golfo de San George do navio ARA Puerto Argentino, equipado para realizar o mapeamento tridimensi­onal do fundo do mar. Novo, comprado na Rússia em 2015, ele utiliza equipament­os digitais.

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