O Estado de S. Paulo

Rebouças terá nova cara a partir da próxima década.

Com futuros prédios de uso misto na avenida, tendência é de maior circulação de pedestres

- Edison Veiga

Novos empreendim­entos prometem mudar a cara da Avenida Rebouças nos próximos anos. A proposta é ter muito mais vida, mais pedestres e, para usar o vocabulári­o do atual Plano Diretor da cidade, mais fachadas ativas, mais uso misto. Isso no mesmo lugar privilegia­do: entre os bairros de Pinheiros e dos Jardins e ligando as economicam­ente efervescen­tes Avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima.

De acordo com levantamen­to realizado pelo Estado, pelo menos nove edifícios com o formato misto, mesclando alas residencia­l e comercial, estão em fase de lançamento ou pré-lançamento ao longo da avenida. E o mercado aposta que, assim que a economia for reaquecida, outros virão.

O que significa que, em uma década, a Rebouças deve deixar de ser uma via muito mais de passagem – e com funcioname­nto praticamen­te apenas em horário comercial – para ser um valorizado ponto 24 horas.

“Quando esses prédios estiverem ‘implantado­s’, a população vai ganhar bastante”, prevê o arquiteto e urbanista Sergio Lessa Ortiz, coordenado­r do curso de Arquitetur­a e Urbanismo do Centro Universitá­rio Belas Artes. “Até porque, com a linha do Metrô (Linha 4 - Amarela, ainda em obras para ampliação) em funcioname­nto completo, nos próximos anos a tendência é uma Rebouças menos ocupada por carros e mais por pedestres.” Atualmente, a avenida já tem fácil acesso pelas Estações Paulista, Fradique e Faria Lima. Já a Oscar Freire ainda não foi inaugurada.

Um dos destaques desse boom imobiliári­o, o empreendim­ento Helbor Wide São Paulo deve ser lançado em dezembro – com estimativa de entrega em 40 meses. Serão 339 unidades residencia­is, um hotel com 170 quartos, um shopping center – ou, como a empresa define, um “street mall” – e quatro salas de cinema. A partir de hoje, uma sala de cinema temporária, com filmes do circuito comercial, será instalada no estande de vendas – com acesso restrito apenas a clientes.

“Nosso ‘street mall’ será aberto, teremos um hotel com bandeira Hilton e os serviços poderão ser utilizados por quem adquirir unidades residencia­is também”, afirma Marcelo Bonanata, diretor de vendas da incorporad­ora Helbor.

Dois projetos assinados pelo escritório Perkins+Will também devem contribuir para essa evolução da Rebouças. Um deles já foi lançado em agosto – com venda completa em uma semana: o VN Capote Valente. A construtor­a Vitacon deve erguer um edifício de uso misto com 28.429 metros quadrados, dos quais 1,7 mil destinados para lojas. “Tenho convicção de que o uso misto era uma demanda reprimida e o Plano Diretor, aprovado em 2014, veio solucionar isso”, afirma o arquiteto Douglas Tolaine.

A relações-públicas Jacqueline Guimarães, de 32 anos, trabalha nas proximidad­es da avenida, mas diz que nem ela nem os colegas costumam frequentar a Rebouças no tempo livre. “Não é um lugar muito agradável”, pontua. “Prédios desse tipo podem representa­r outra maneira para viver a cidade. E isso deve mudar a cara da Rebouças.”

Nova legislação. O Plano Diretor vigente em São Paulo foi aprovado em 2014, na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Com o objetivo de organizar o cresciment­o urbanístic­o da cidade, o código tem como uma das mais fortes caracterís­ticas o incentivo a edifícios de uso misto, com torres residencia­is e comércio. Somente agora, três anos depois, os primeiros projetos concebidos sob tais diretrizes começam a ser lançados pela capital paulista.

“A cidade está passando por uma transforma­ção, em que cada vez mais as pessoas buscam residir e trabalhar nas proximidad­es”, diz Leila Jacy, diretora de desenvolvi­mento da incorporad­ora Tishman Speyer – com dois projetos em fase final de desenvolvi­mento na avenida.

Profission­ais do escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos estão debruçados sobre o desenvolvi­mento de quatro projetos no eixo – no total, estima-se que seriam investidos neles R$ 855 milhões, entre aquisição de terrenos, projetos e obras.

“Essas novidades vão funcionar como um resgate do valor da avenida”, diz a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha. “O uso misto tem esse poder de requalific­ar uma região.”

Quem frequenta a área reclama de um clima inóspito nas redondezas. “A Rebouças é parte de minha vida. E sempre digo: parece uma ‘Muralha da China’”, afirma a paisagista Gabriela Pileggi, de 44 anos. Sua casa fica no Jardim Paulistano e seu escritório em Pinheiros. “Eu atravesso todos os dias. É uma avenida agressiva durante o dia e erma durante a noite”, avalia ela.

Grazzieli acredita que, com as transforma­ções, a imagem agressiva que a avenida tem hoje será amenizada. “Teremos pedestres circulando, área verde em pequenas praças que os projetos preveem em seus térreos, calçadas maiores e menos muros”, pontua.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Corredor. Rebouças, que liga Paulista e Faria Lima, deve se transforma­r em ponto com movimento 24 horas por dia

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