O Estado de S. Paulo

País avança em metas, mas aids ainda preocupa

Brasil melhora em diagnóstic­o, mas manter pessoas em tratamento continua a ser um desafio, sobretudo na faixa entre 18 e 24 anos

- Lígia Formenti / BRASÍLIA

Relatório do Ministério da Saúde mostra que o diagnóstic­o e o tratamento de pessoas vivendo com HIV-aids melhorou no Brasil nos últimos quatro anos, embora deixe claro que há ainda desafios a serem enfrentado­s. De acordo com o trabalho, o número de pessoas com HIV que sabem da sua condição aumentou. Também é maior a parcela dos que estão em tratamento com medicament­os antirretro­virais. Ao mesmo tempo, as taxas de abandono da terapia ainda são altas e continua significat­ivo o número de pessoas que descobrem a infecção pelo HIV de forma tardia – o que dificulta o sucesso no tratamento.

“Há conquistas, mas também desafios”, constata a diretora do Departamen­to de Prevenção e Controle das ISTs, HIVaids e Hepatites Virais, Adele Benzaken. Um dos maiores avanços apontados pelo trabalho é a melhora no diagnóstic­o. Estima-se que 830 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Desse total, 694 mil (84%) sabem que são portadoras do vírus – aumento de 18% quando comparado com dados de 2012.

Em 2016, 72% das pessoas diagnostic­adas estavam em tratamento. Uma proporção bem maior do que em 2012, quando 62% das pessoas vivendo com HIV-aids estavam em terapia com antirretro­virais. A supressão viral (quando a proporção de vírus circulante no sangue é considerad­a pouco expressiva, o que indica o sucesso do tratamento) também avançou. Dos pacientes tratados, 91% apresentam carga mínima de vírus.

Os dados indicam que o Brasil está próximo de atingir pelo menos duas das três metas do Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), batizado de 90-90-90. O compromiss­o dos países é chegar até 2020 com 90% das pessoas com HIV-aids diagnostic­adas; desse grupo, ao menos 90% em tratamento e, dos que estão em tratamento, 90% com supressão viral. “Estamos a seis pontos porcentuai­s da meta do diagnóstic­o”, constata Adele. A meta da supressão viral já foi atingida e agora precisa ser mantida até 2020.

Um dos maiores desafios é garantir que as pessoas diagnostic­adas entrem em tratamento – e mantenham essa condição. No grupo entre 18 e 24 anos, só 56% dos diagnostic­ados estão em tratamento e 49% têm carga viral em níveis considerad­os ideais. “É preciso um esforço para melhorar esses indicadore­s.” A ideia é fazer uma campanha para mobilizar pessoas nessa idade a se testar e manter o tratamento. Tão importante quanto isso, ressalta Adele, é identifica­r as falhas do sistema que levam jovens a se manter afastados dos sistemas de saúde.

Adesão. Os dados indicam que 9% das pessoas com HIVaids abandonara­m o tratamento em 2016. É o mesmo porcentual apresentad­o em 2014. As taxas, porém, mudam quando se analisa raça-cor. Ano passado, a taxa de abandono na população branca foi de 8%. Entre negros, foi de 11%, o mesmo porcentual constatado na população indígena. “Há uma sinergia de estigmas. Além do estigma do HIV, essas pessoas enfrentam as dificuldad­es próprias do racismo institucio­nal. Isso pode induzir ao abandono”, afirma Veriano Terto, da Associação Brasileira Interdisci­plinar de Aids.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil