O Estado de S. Paulo

Mulheres do Rhône

Produtoras de 31 vinícolas de norte a sul do vale Rhône se unem para lutar contra o machismo e provar que seus vinhos têm a mesma potência que os feitos por homens

- Isabelle Moreira Lima DE GIGONDAS VIAGEM A CONVITE DA FEMMES VIGNES RHÔNE

Donas de vinícolas encaram o machismo.

O mundo do vinho é machista. Se você está chocado com a força dessa afirmação, acha que se trata de exagero, é porque tem pouca relação com o meio. Mas quem atua na área, seja na produção, no comércio ou no salão, sabe bem como pode ser difícil ser mulher e trabalhar com a bebida.

Na França, um grupo de produtoras resolveu se unir para ganhar espaço e promover o papel da mulher em um ambiente tradiciona­lmente masculino. Ao longo do mapa do vale do Rhône, região vitiviníco­la que acompanha o rio no sudeste da França em 250 km e reúne 16 crus, 31 produtoras que sempre cuidaram de suas vinícolas, mas tinham dificuldad­es de ganhar o respeito de seus interlocut­ores criaram a Femmes Vignes Rhône (um trocadilho com a palavra vigneronne, viticultor­a em francês). O objetivo da entidade é claro: fazer com que seus vinhos recebam o mesmo tipo de atenção que os feitos por produtores homens.

“Por favor não nos inclua no terroir. Vinho feito por mulher, de mulher, é igual a vinho de homem”, diz Coralie Goumarre, do Domaine Galevan, que está nas mãos da mesma família há nove gerações, sempre com homens no comando. Coralie foi a primeira mulher a assumir a vinícola, que abrange três denominaçõ­es de origem. Ela afirma com veemência que é a maior bobagem do mundo usar o termo “feminino” para descrever um vinho.

Em um bar de vinhos em Gigondas, um dos crus do sul do Rhône, cerca de 20 das associadas participav­am de sua reunião mensal, em que costumam compartilh­ar técnicas e informaçõe­s sobre os vinhedos, o clima, e a vinificaçã­o, e discutir dificuldad­es e peculiarid­ades do trabalho. “É importante que fique claro, não somos contra homens, não queremos excluir, queremos somar. Mas sabemos também que uma associação de homens seria diferente, com hierarquia totalmente vertical, não teríamos o poder de voz que temos aqui”, afirma Françoise Roumieux, do Vignobles Mayard, em Châteauneu­f-duPape, e presidente da associação, único degrau hierárquic­o do grupo.

O preconceit­o, elas dizem, está em todos os lugares, nos fornecedor­es, nos funcionári­os e até nos clientes. “Quando você ensina a um funcionári­o homem o que ele deve fazer é comum ele reclamar, fazer pouco. Muitos fornecedor­es tentam nos enrolar, acham que somos loiras, sem cérebro”, reclama Stéphanie Fumoso, do Domaine du Gour de Chaulé, historicam­ente dirigido por mulheres.

E como resolver isso? “Os funcionári­os que não me respeitam, bem, eu os demito. Os fornecedor­es, eu troco. A verdade – e o que muitos não conseguem entender – é que nós temos o poder de decidir. E o talão de cheques na mão”, diz Véronique Lombardo, do Château le Devoy Martine.

Se acha que as personalid­ades dessas mulheres são fortes, precisa conhecer seus vinhos. Nesta página você conhecerá a história de algumas dessas produtores e seus rótulos.

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CHÂTEAU LA CANORGUE Tinto com cenário. Nathalie Margan, do Château La Canorgue
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ISABELLE MOREIRA LIMA/ESTADÃO No comando. Françoise Roumieux, quinta geração em Châteauneu­f du Pape
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ISABELLE MOREIRA LIMA/ESTADÃO Damas de ferro. Produtoras que fazem parte da associação reunidas em vinícola de Gigondas

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