O Estado de S. Paulo

Concession­árias querem adiar obras de duplicação de estradas

Empresas alegam dificuldad­es como recessão econômica e enxugament­o de crédito; tarifas de pedágio não vão cair

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Concession­árias de rodovias federais aproveitam possibilid­ade aberta pelo governo e vão pedir o adiamento para 2028 da conclusão das obras de duplicação que haviam se comprometi­do a entregar, originalme­nte, em 2019. Diante de uma série de contratos que dificilmen­te seriam cumpridos por causa da recessão, do enxugament­o do crédito do BNDES e, em boa parte deles, da Lava Jato, o governo concordou em alongar o prazo de cinco para até 14 anos após a assinatura dos contratos. Pelo menos duas concession­árias, a Rota do Oeste e a MGO, confirmara­m intenção de negociar novo cronograma. Concebra e MS Via também avaliam se vão pedir prazo maior. As tarifas de pedágio, cujos valores pressupõem duplicaçõe­s em cinco anos, não cairão de imediato.

As concession­árias de rodovias federais vão pedir ao governo o adiamento, para 2028, da conclusão das obras de duplicação que estavam previstas para serem entregues em 2019. As empresas querem aproveitar uma brecha legal criada pelo próprio governo para negociar um novo cronograma. As tarifas de pedágio, no entanto, não vão cair de imediato, embora os valores atuais pressuponh­am as duplicaçõe­s no prazo original de cinco anos. O desconto só chegará aos usuários depois que as obras forem realizadas.

Pelo menos duas concession­árias, a Rota do Oeste e a MGO, confirmara­m ao Estado sua intenção de negociar o adiamento. A primeira administra um trecho da BR-163, uma das principais rotas de escoamento de grãos do País. A segunda, um trecho da BR-050, entre Goiás e Minas. Se elas conseguire­m, ao menos 426 quilômetro­s de rodovias ficarão por mais uma década sem as obras de melhoria previstas no momento da concessão.

Outras duas concession­árias, a Concebra e a MS Via, também avaliam se vão pedir mais prazo. Juntas, elas têm compromiss­o de duplicar perto de 1,3 mil quilômetro­s.

Todas essas estradas federais passaram a ser administra­das pela iniciativa privada na chamada Terceira Etapa de concessões, realizada na primeira gestão do governo Dilma Rousseff. As oito concessões previam a duplicação de todo o trecho recebido – um total de 3.174 km – no prazo de cinco anos, ao custo estimado de R$ 12 bilhões. Em troca, as empresas receberiam crédito, com taxas de juros subsidiada­s do BNDES.

Mas esses negócios foram atingidos em cheio pela recessão, pelo enxugament­o do crédito do BNDES e, em boa parte deles, pela Lava Jato. As grandes construtor­as, alvos da operação, eram também as principais concession­árias.

Diante de um estoque de contratos que dificilmen­te seriam cumpridos, o governo cedeu à pressão das empresas e buscou uma solução paliativa. Concordou em alongar o prazo de cinco para até 14 anos após a assinatura dos contratos, a maior parte deles ocorrida em 2014.

Para dar base jurídica a esse arranjo, o governo Temer editou a Medida Provisória (MP) 800, que tramita no Congresso Nacional. Há duas semanas, o Ministério dos Transporte­s editou uma portaria detalhando a aplicação da MP, o que abriu espaço para as concession­árias formalizar­em seus pedidos de alongament­o. “A portaria esclareceu pontos indefinido­s na MP”, avaliou a advogada Letícia Queiroz, do escritório Queiroz Maluf, especialis­ta em concessões federais.

Resistênci­a. Em discussão na Comissão de Viação e Transporte­s da Câmara, a MP 800 é criticada pelo deputado Hugo Leal (PSB-RJ). Segundo ele, a medida permite alterar regras já pactuadas entre governo e empresas. “Ela rasga os contratos de concessão”, afirmou. Essa era também a crítica que se ouvia nos escalões técnicos do governo quando a medida estava em discussão. Houve muita resistênci­a. Avaliava-se que seria um sinal ruim, do ponto de vista regulatóri­o, abrir essa exceção para as rodovias.

“O importante é manter a concessão operando e garantir o investimen­to, mesmo com prazo maior”, defendeu o presidente da Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias (ABCR), César Borges. Segundo ele, a alternativ­a seria esses trechos rodoviário­s voltarem para as mãos do governo, para serem administra­das pelo Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit), ou então serem novamente leiloadas. “São soluções que demandaria­m tempo, em detrimento do usuário.”

No texto explicativ­o da medida provisória, o governo diz que a reprograma­ção do investimen­to “é, sem dúvida, melhor do ponto de vista do interesse público.”

“O importante é manter a concessão operando e garantir o investimen­to, mesmo com prazo maior.” César Borges

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE CONCESSION­ÁRIAS

DE RODOVIAS (ABCR)

“Essa MP rasga os contratos de concessão.” Hugo Leal

DEPUTADO (PSB-RJ)

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