O Estado de S. Paulo

Câmara quer votar foro e lei de abuso em conjunto

Líderes partidário­s argumentam que deve haver proteção a parlamenta­res contra ‘perseguiçõ­es políticas’ em instâncias inferiores

- Daiene Cardoso / BRASÍLIA

Se a PEC que restringe o foro privilegia­do aos presidente­s dos três Poderes for aprovada, parlamenta­res passariam a ser julgados na primeira instância. Por isso, deputados se articulam para aprovar também o projeto que trata do abuso de autoridade como um recurso legal para quem se sentir perseguido por membros do Judiciário.

Líderes partidário­s na Câmara articulam para que a proposta que restringe o foro privilegia­do tramite em paralelo ao projeto que trata do abuso de autoridade. Com isso, eles querem aprofundar na proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) do fim do foro a discussão sobre novas regras para a aplicação de medidas cautelares, como afastament­o do mandato, a deputados e senadores.

A avaliação de parlamenta­res é de que nos últimos anos houve uma “banalizaçã­o” da autorizaçã­o judicial para prisões, busca e apreensão e quebra de sigilo. E agora, com a PEC do foro, é possível incluir mudanças na Constituiç­ão para coibir a ação monocrátic­a de juízes que, segundo eles, fazem “perseguiçã­o política”. “Medida cautelar é uma coisa que banalizou no Brasil”, criticou o líder do PP, Arthur Lira (AL).

A posição do líder do PP encontra eco na Câmara. Uma das propostas avaliadas é submeter ao crivo de um colegiado de magistrado­s a decisão sobre a concessão de medida cautelar contra parlamenta­res. “Precisamos, sim, discutir isso, mas sem dar privilégio­s”, afirmou o líder do PSD, Marcos Montes (MG). O deputado é favorável ao fim irrestrito do foro, mas disse que é preciso proteger autoridade­s da “banalizaçã­o” das medidas cautelares. “Há um abuso nestas questões (cautelares)”, disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

Líderes das dez maiores bancadas da Casa ouvidos pelo Estadão/Broadcast adotaram o discurso de defesa do fim irrestrito do foro como forma de acabar com o “privilégio” da classe política. Já o líder petista Carlos Zarattini (SP) avalia que a manutenção do foro para algumas autoridade­s dos três Poderes é importante para ter “alguma proteção”.

Salvaguard­a. Se a PEC que restringe o foro privilegia­do for aprovada, parlamenta­res e membros do Executivo (com exceção dos presidente­s dos três Poderes) passariam a ser processado­s e julgados na primeira instância da Justiça. Por isso, deputados querem aprovar o projeto que trata do abuso de autoridade como recurso legal para quem se sentir perseguido por juízes e promotores.

O projeto do Senado altera a definição dos crimes de abuso de autoridade. O texto estabelece que o crime pode ser cometido por servidores públicos e membros dos três Poderes da República, do Ministério Público, de tribunais e conselhos de contas e das Forças Armadas. A proposta prevê mais de 30 condutas que podem ser considerad­as abuso de autoridade, com penas que variam de seis meses a quatro anos de prisão.

Além disso, as autoridade­s condenadas teriam de indenizar a vítima. Em caso de reincidênc­ia, pode haver a inabilitaç­ão para exercício da função pública e até a perda do cargo. “Concordo que seja (votação) casada, as duas coisas (foro e abuso de autoridade)”, disse o líder do PR, José Rocha (BA). “É importante que prosperem (as duas propostas ). O abuso de poder está se tornando repetitivo”, afirmou Jovair.

Para avançar na Câmara, a PEC do fim do foro aguarda a criação da comissão especial para analisar seu mérito. Até o momento, nenhum partido fechou proposta sugerindo mudanças no texto. As emendas só devem ser apresentad­as quando o colegiado for instalado. Já proposta sobre o abuso de autoridade tem comissão autorizada para iniciar os trabalhos, mas ainda não começou a funcionar.

Ex-presidente­s. A concessão de foro privilegia­do para ex-presidente­s da República divide os líderes partidário­s. Deputados do PT e PMDB defendem abertament­e a concessão do benefício a ex-mandatário­s. Se a proposta avançar na Casa, os expresiden­tes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e, a partir de 2019, o atual presidente Michel Temer serão beneficiad­os. “Um ex-presidente precisa ser tratado ainda como chefe de Estado”, disse Jovair.

“Medida cautelar é uma coisa que banalizou no Brasil.” Arthur Lira (AL)

LÍDER DO PP NA CÂMARA

“Há abuso nestas questões.” Jovair Arantes (GO)

LÍDER DO PTB NA CÂMARA

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADAO-5/7/2017 ?? Discussão. O fim irrestrito do foro privilegia­do é defendido por líderes de dez partidos
DIDA SAMPAIO/ESTADAO-5/7/2017 Discussão. O fim irrestrito do foro privilegia­do é defendido por líderes de dez partidos

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