O Estado de S. Paulo

Padilha defende ‘projeto único de poder’ para 2018

Alianças. Ministro da Casa Civil diz que PSDB não está mais na base do governo; ele afirma que Temer não será candidato e procura um nome para defender seu legado

- / VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO, CARLA ARAÚJO e IDIANA TOMAZELLI

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) defendeu um “projeto único de poder” dos partidos aliados para a eleição presidenci­al e antecipou a saída do PSDB ao dizer que a sigla não faz mais parte da base de apoio do governo.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, defendeu, ontem, um “projeto único de poder” dos partidos aliados para a eleição presidenci­al de 2018 e antecipou a saída do PSDB da equipe ao afirmar que o partido não faz mais parte da base de apoio do governo. Padilha disse que o presidente Michel Temer não tem “pretensão” de disputar um segundo mandato e está à procura de um candidato para defender o seu legado.

Um dia depois de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – pré-candidato do PSDB à Presidênci­a –, pregar o desembarqu­e dos tucanos, o ministro adotou tom mais contundent­e. “O PSDB não está mais na base de sustentaçã­o do governo”, disse Padilha. “O partido tem os seus interesses políticos, que está procurando preservar. Nós vamos fazer de tudo para manter um caminhar conjunto, com um projeto único de poder para 2018. Mas o PSDB já disse que vai sair da base no dia 9”, argumentou ele, em uma referência à data da convenção do partido.

Ao ser questionad­o se não haveria constrangi­mento com a presença de três ministros do PSDB na Esplanada, Padilha disse que Temer pode manter auxiliares tucanos em sua “cota pessoal”. Mais tarde, à saída de um almoço da Frente Parlamenta­r de Comércio, Serviços e Empreended­orismo, o presidente fez sinal de negativo quando repórteres lhe perguntara­m se o PSDB estava fora do governo.

Alckmin deverá assumir o comando do PSDB na convenção marcada para 9 de dezembro, na tentativa de unificar o partido. Suas primeiras declaraçõe­s, no entanto, causaram extremo desconfort­o no Planalto. O governador disse que, se dependesse dele, o partido nem teria entrado na equipe de Temer, como sempre afirmara.

Foi por esse motivo que Padilha decidiu também elevar o tom. “Governar é gerir sob tensão. A tensão é permanente”, disse ele. O ministro, porém, combinou o jogo antes com Temer, que se reuniu ontem no fim do dia com o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

A nova tática do governo em relação ao PSDB é conhecida como “morde e assopra”, na qual o presidente aparece como o conciliado­r que articula uma “saída negociada” dos tucanos.

Até agora, apenas Bruno Araújo (PSDB) pediu demissão, entregando o comando do Ministério das Cidades, que passou para Alexandre Baldy, prestes a se filiar ao PP. O Estado apurou que o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, permanecer­á no cargo. O titular da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, tende a ser substituíd­o pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), mas pode ser deslocado para outra função. Luislinda Valois (Direitos Humanos) deixará o Executivo.

O governo tenta formar uma frente de centro-direita, integrada por partidos como PMDB, DEM, PP, PR, PSD e PTB, não apenas para aprovar a reforma da Previdênci­a, mas também para se contrapor às possíveis candidatur­as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC). Questionad­o sobre a possibilid­ade de aliança entre o PMDB e o PSDB na eleição presidenci­al 2018, Padilha afirmou duas vezes que o partido de Alckmin não fazia mais parte da coalizão.

Logo depois, porém, o ministro tentou contempori­zar. Questionad­o pelo Estado se estava descartand­o totalmente uma composição com os tucanos, ele respondeu que o governo não exclui ninguém “a priori” dessa frente. “Admitindo que o candidato do PSDB dissesse: ‘Vamos defender por inteiro o legado do governo’, abre-se aí uma possibilid­ade”, afirmou.

O chefe da Casa Civil ainda lembrou a posição histórica dos tucanos em defesa de mudanças na Previdênci­a. “E a gente conta que mantenha esses compromiss­os”, insistiu.

Votos. Padilha também disse que o governo não cederá a novos pedidos de alterações na proposta de reforma, nem às reivindica­das pelos tucanos. O Planalto, hoje, não tem os 308 votos para aprovar na Câmara as mudanças na aposentado­ria.

Diante da insistênci­a dos jornalista­s sobre a possibilid­ade de uma candidatur­a própria do PMDB, com Temer encabeçand­o a chapa, Padilha desconvers­ou. O ministro afirmou que Temer tem conversado com todos os partidos da base sobre um projeto de desenvolvi­mento para o País. “Ele disse que não tem nenhuma pretensão em disputar eleição, mas, sim, de cumprir bem o seu mandato para colocar o Brasil nos trilhos.”

Há, nos bastidores, uma articulaçã­o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que é filiado ao PSD e quer ser candidato à Presidênci­a e procura apoio tanto de Temer como do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“O PSDB não está mais na base de sustentaçã­o do governo.”

“Vamos fazer de tudo para manter um caminhar conjunto, com um projeto único de poder.”

“Ele (Temer) disse que não tem nenhuma pretensão em disputar eleição.” Eliseu Padilha MINISTRO-CHEFE DA CASA CIVIL

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Coalizão. Para Padilha, governar é ‘gerir sob tensão’

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