Marcelo Miller admite que fez ‘lambança’, mas nega crime.
Ex-procurador é acusado de atuar em favor da J&F quando ainda estava vinculado ao Ministério Público Federal
Investigado há seis meses pela Procuradoria da República do Distrito Federal, o ex-procurador Marcelo Miller afirmou, ontem, que fez uma “lambança” durante as negociações do acordo de delação premiada e de leniência do Grupo J&F. Em aproximadamente seis horas de depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) da JBS, Miller admitiu o que chamou de “erro brutal de avaliação” por sua conduta no caso, mas negou que tenha cometido crime.
“De fato, eu comecei a ter contato com a J&F antes de a delação acontecer. Respondia perguntas, refletia sobre o caso, e não estou negando nada disso. Fiz uma avaliação e não cometi crime. Espero mesmo que apurem os fatos, mas eu cometi um erro brutal de avaliação. Eu fiz uma lambança”, afirmou Miller aos parlamentares.
O ex-procurador foi convocado para a oitiva porque está no centro da crise que atingiu a Procuradoria-Geral da República (PGR) durante o mandato do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Miller é suspeito de ter feito “jogo duplo” e beneficiado a J&F quando ainda era membro do Ministério Público Federal (MPF). Ele deixou o cargo de procurador no dia de 5 de abril e foi trabalhar no escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados, que tinha justamente a J&F como cliente.
Mesmo tendo obtido uma liminar que lhe dava o direito de ficar calado no depoimento, Miller respondeu a quase todos os questionamentos feitos pelos parlamentares. Ele explicou que não se “atentou para as interpretações” que seu comportamento “poderia suscitar”. “Tudo o que eu incentivava a empresa a fazer era o que eu faria se estivesse no exercício de minha função (na PGR). É o que eu diria a um amigo. Eu incentivava a empresa a se remediar”, justificou.
Miller chegou a ser alvo de um pedido de prisão feito por Janot, quando as suspeitas sobre seu comportamento no caso vieram à tona. Ele criticou essa medida. “O pedido de prisão foi um disparate completo, juridicamente, de parte do procuradorgeral da República”, disse. “Em primeiro lugar, eu não tenho foro, portanto o procurador-geral não tinha atribuição para pedir a minha prisão. Em segundo lugar, ele me imputou tipos penais que são completamente fora da marca. Organização criminosa? Espere aí”, disse o exprocurador.
Ainda assim, Miller negou que Janot e seu braço direito, o procurador Eduardo Pelella, soubessem das suas atividades junto à J&F. “Pelella não teve nenhum conhecimento da atividade preparatória que eu desempenhei, em fevereiro e março, junto à J&F. Janot menos ainda”, contou.
As explicações não pouparam Miller de receber críticas dos parlamentares. “Não sei se o senhor é culpado, mas o senhor não teve conduta ética”, disse o deputado João Gualberto (PSDB-BA). Miller ainda foi questionado se achava correta a atitude dele como procurador do Ministério Público Federal. “Acho impróprio e não ilícito”, rebateu.
Eike. Convocado pela CPI do BNDES do Senado para explicar seus negócios com o banco, o empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, voltou a defender a Operação Lava Jato, mas atribuiu a um “erro” a sua prisão. “Acho que o trabalho que está sendo feito é excelente, mas revoluções cometem alguns erros”, disse.