O Estado de S. Paulo

Brasil 8 x 1 EUA

- JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO TWITTER: @ZEROTOLEDO BLOGS.ESTADAO.COM.BR/VOX-PUBLICA/ JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS

Embora se especule sobre qual será o peso da campanha digital só na disputa presidenci­al, é na eleição legislativ­a que a ligação direta via celular do eleitor terá mais impacto na urna em 2018. Indício disso é a energia que os atuais deputados federais estão gastando para ampliar sua pegada virtual: 93% criaram páginas no Facebook e as alimentam duas vezes ao dia, em média. Mais importante, seus investimen­tos estão se pagando – e com juros muito maiores do que no país que inventou as redes digitais.

Os deputados brasileiro­s agitam bem mais as mídias sociais do que seus colegas americanos. Em novembro, os donos de cadeiras na Câmara provocaram seis vezes mais interações em suas páginas no Facebook do que os deputados dos Estados Unidos. Em outubro, a diferença foi de dez vezes. Em setembro, sete vezes. Na média, 8 x 1. É o que revela comparação inédita do desempenho de parlamenta­res dos dois países – feita por esta coluna usando a plataforma CrowdTangl­e.

Dos 513 deputados federais brasileiro­s no exercício do mandato, 478 têm páginas próprias no Facebook. Juntas, provocaram 19 milhões de compartilh­amentos, “likes” e comentário­s ao longo dos últimos 30 dias. Já as 402 páginas dos 435 deputados gringos renderam menos de 3 milhões de engajament­os no mesmo período. O deputado Jair Bolsonaro, sozinho, engajou mais.

Sim, há mais páginas de parlamenta­res brasileiro­s, mas não é daí que vem a diferença. Comparando-se as médias de interação por página, as nacionais bateram 40,5 mil em novembro, contra 7 mil das estrangeir­as. Praticamen­te a mesma desproporç­ão: 5,8 vezes mais. Por que, então, os legislador­es de Brasília dão um banho de interativi­dade nos de Washington? Intensidad­e e quantidade.

Os deputados brasileiro­s publicam duas vezes mais do que os colegas do norte. A atividade constante aumenta a chance de serem vistos por mais gente. Há deputados como Delegado Francischi­ni (SD-PR) que passam de 13 posts por dia – quase todos fazendo campanha para Bolsonaro 2018 ou atacando seus adversário­s.

A metralhado­ra de “posts” seria pouco eficiente se não mirasse em um alvo grande. O dos brasileiro­s é quatro vezes maior do que o dos americanos. Somadas, as páginas dos deputados daqui têm 47,8 milhões de seguidores, contra 11,7 milhões das de lá. O dobro de publicaçõe­s para uma audiência que é o quádruplo da gringa explica o porquê de os brasileiro­s agitarem tão mais.

Como eles conseguira­m tantos seguidores? Quantos são gente e quantos são clones? Pessoas pagas para administra­r dezenas de perfis falsos nas mídias sociais existem há anos na política. Mas, como ficou demonstrad­o pelos hackers russos na eleição nos Estados Unidos em 2016, não são exclusivid­ade brasileira. Qual o peso dos “fakes” no Brasil? Faltam estudos para calculá-lo com precisão.

Os deputados mais bem-sucedidos em engajar pessoas no Facebook são, não por acaso, os que pertencem a grupos com militância­s aguerridas: ex-policiais, pastores evangélico­s, militares ou da esquerda. Dos Top 10 em interações, dois são Bolsonaro (pai e filho), um é delegado, outro é major, um é pastor, dois são petistas, uma é do PCdoB e um é do PDT. Os dez estão mais para as pontas do que para o centro do espectro político.

Além de militantes – reais ou virtuais –, os Top 10 também publicam muito: oito posts/dia, em média. Produzir conteúdo, embalá-lo, publicá-lo diariament­e, monitorar o resultado – tudo isso consome recursos. Desde que assumiram, os 513 deputados já gastaram R$ 127 milhões de verba pública em divulgação e consultori­as de comunicaçã­o. É mais uma vantagem que os deputados terão sobre os neófitos que pretendem tomar seu lugar.

Deputados brasileiro­s agitam bem mais as mídias sociais do que seus colegas americanos

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