O Estado de S. Paulo

PT teme Lula ligado a Cabral em caravana

Dirigentes consideram ‘burrada’ evento de cinco dias no Rio, onde ex-aliado está preso

- Ricardo Galhardo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai visitar as obras do Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj), um dos principais focos de corrupção na Petrobrás investigad­os pela Lava Jato, na caravana pelos Estados do Espírito Santo e Rio, entre os dias 4 e 8 de dezembro. Dirigentes do PT, em conversas reservadas, dizem que Lula deveria cancelar a caravana para evitar que seu nome seja associado aos dos ex-governador­es do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e Anthony Garotinho (PR), ambos presos por suspeitas de corrupção.

Petistas ainda alertam para o risco de atrelament­o da imagem do ex-presidente ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que enfrenta uma crise financeira e administra­tiva sem precedente­s na história do Estado. O PT apoiou e participou dos três governos. Um dirigente classifico­u a manutenção da caravana como “uma burrada sem tamanho”.

Apesar dos protestos, Lula decidiu manter a viagem, marcada desde maio. Segundo o coordenado­r do evento, Márcio Macedo, um dos vice-presidente­s do PT, em momento algum a direção partidária cogitou desistir da caravana.

“Vamos mostrar que, nos governos Lula e Dilma, o Rio viveu seus tempos áureos”, disse o dirigente petista. De acordo com Macedo, a visita ao Comperj tem como objetivo denunciar o abandono da obra em função da Lava Jato, em sua opinião. “A obra tem de ser retomada”, afirmou o dirigente.

Anunciado em 2008 na esteira de euforia da descoberta do pré-sal como a mais ousada obra da Petrobrás e uma das maiores do País, o Comperj tinha previsão inicial de custo de US$ 8 bilhões e geração de 200 mil empregos. Passados nove anos os canteiros estão abandonado­s, 27 mil pessoas ficaram desemprega­das e o Tribunal de Contas da União (TCU) estima prejuízos de R$ 544 milhões em função da corrupção.

Lava Jato. Cabral, sua mulher, a advogada Adriana Anselmo, e outras cinco pessoas entraram na mira da Lava Jato. Delatores da empreiteir­a Andrade Gutierrez disseram que pagavam mesada que somou R$ 2,7 milhões ao ex-governador, que chegou a ser cogitado por Lula para ser o candidato a vice de Dilma em 2010.

O próprio ex-presidente é alvo da operação e foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. A direção do PT não admite que a visita ao Comperj seja uma forma de contrapor o discurso da Lava Jato, mas Lula em vários discursos tem repetido que a operação é responsáve­l pela paralisaçã­o de obras públicas e o consequent­e desemprego de milhares de pessoas.

Apesar da contraried­ade de setores do PT, Lula vai visitar dez cidades em quatro dias. É a terceira caravana do petista neste ano. As primeiras foram pelo Nordeste e Minas.

‘Legado’. No caminho Lula vai visitar universida­des que tiveram investimen­tos nos governos petistas, obras gestadas nas administra­ções do partido e beneficiár­ios de programas sociais, mas a maioria dos eventos é de caráter popular. “Esta é uma agenda de Lula com o povo”, disse Macedo.

No Rio, o petista vai se reunir com intelectua­is e participar de um ato em defesa da educação na Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que atravessa grave crise financeira.

Segundo o coordenado­r da caravana, Lula vai destacar o legado dos governos petistas, em especial a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, e comparar com o que chama de paralisia do governo Michel Temer.

Ao contrário de outras caravanas, quando Lula se encontrou até com integrante­s de partidos que votaram pelo impeachmen­t de Dilma, não estão previstos encontros com políticos de outras legendas.

“Vamos mostrar que, nos governos Lula e Dilma, o Rio viveu seus tempos áureos.” Márcio Macedo

COORDENADO­R DA CARAVANA DE LULA

 ?? MARCOS DE PAULA-ESTADÃO-24/10/2010 ?? Carreata. Cabral, Lula e Paes durante campanha da então candidata à Presidênci­a, Dilma Rousseff, em 2010, no Rio
MARCOS DE PAULA-ESTADÃO-24/10/2010 Carreata. Cabral, Lula e Paes durante campanha da então candidata à Presidênci­a, Dilma Rousseff, em 2010, no Rio

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