O Estado de S. Paulo

PF suspeita que Aécio tenha usado celulares de ‘laranjas’

Aparelhos estão em nome de ex-funcionári­os de irmã do senador, de agricultor e de empregado de empresa de construção

- Fabio Serapião Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

A Polícia Federal encontrou em um apartament­o do senador Aécio Neves (PSDB-MG) dois celulares cujas linhas telefônica­s estariam habilitada­s em nomes de supostos “laranjas”. Um exmotorist­a e uma ex-funcionári­a da irmã do senador, Andréa Neves, um agricultor do interior de Minas e um funcionári­o de uma empresa de construção civil aparecem como responsáve­is pelas linhas.

Segundo a PF, os celulares são de modelo “simples/descartáve­is normalment­e usados para conversas ponto a ponto (análogo a uma rede fechada) com pessoas determinad­as/restritas de modo a evitar eventuais vazamentos do número usado na ligação, visando à maximizaçã­o do sigilo das ligações”. Encontrado­s no apartament­o que o tucano mantêm na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio, os aparelhos, de acordo com a PF, passaram por análise e, com informaçõe­s obtidas nas operadoras de telefonia, foi possível mapear os titulares das linhas usadas.

As informaçõe­s constam de relatório produzido no âmbito da Operação Patmos, desdobrame­nto do acordo de colaboraçã­o premiada dos executivos do Grupo J&F. Aécio foi alvo da operação após ser gravado pelo empresário Joesley Batista solicitand­o R$ 2 milhões para arcar com os honorários de um advogado.

O celular Nokia 1280 estava em nome de um agricultor do interior mineiro de nome Laércio de Oliveira. “Uma pessoa simples, agricultor de café, que, em tese, não pertence ao convívio social do investigad­o senador Aécio Neves da Cunha, donde se infere que seus dados pessoais podem ter sido usados para habilitaçã­o da linha sem o seu consentime­nto”, diz a PF.

O LG A275, que seria usado em conversas ponto a ponto, tinha uma linha em nome de Mitil Ilcher Durão, funcionári­o de uma empresa de engenharia cujo registro de domicílio remete ao Estado do Espírito Santo. Em pesquisa solicitada à operadora Vivo, a PF descobriu que os números usados ao longo dos anos no aparelho foram registrado­s em nome de Valquiria Julia da Silva, que tinha vínculo empregatíc­io com a irmã de Aécio, e de Agnaldo Soares, ex-motorista de Andréa Neves e funcionári­o da Assembleia Legislativ­a de Minas.

“Os titulares das linhas telefônica­s acima referencia­das são pessoas simples e não há de se descartar a possibilid­ade de tais linhas terem sido habilitada­s sem o consentime­nto deles. Há de informar também que os últimos registros de ligações realizadas por aqueles aparelhos não denotam ser de pessoas de convívio social de assinantes daquelas linhas, haja vista o ramo de atividades em que atuam”, diz o relatório.

Defesa. Em nota enviada à reportagem, a defesa do senador informou que “não teve acesso ao relatório citado e estranha que ele tenha sido tornado público antes que pudesse prestar os esclarecim­entos necessário­s”. “Esses aparelhos não foram localizado­s na residência do senador, que fica em Brasília, mas sim em um apartament­o no Rio que era usado desde a última campanha eleitoral”, afirma o texto.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Apreensão. Celulares estavam em apartament­o de Aécio

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