PF suspeita que Aécio tenha usado celulares de ‘laranjas’
Aparelhos estão em nome de ex-funcionários de irmã do senador, de agricultor e de empregado de empresa de construção
A Polícia Federal encontrou em um apartamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) dois celulares cujas linhas telefônicas estariam habilitadas em nomes de supostos “laranjas”. Um exmotorista e uma ex-funcionária da irmã do senador, Andréa Neves, um agricultor do interior de Minas e um funcionário de uma empresa de construção civil aparecem como responsáveis pelas linhas.
Segundo a PF, os celulares são de modelo “simples/descartáveis normalmente usados para conversas ponto a ponto (análogo a uma rede fechada) com pessoas determinadas/restritas de modo a evitar eventuais vazamentos do número usado na ligação, visando à maximização do sigilo das ligações”. Encontrados no apartamento que o tucano mantêm na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio, os aparelhos, de acordo com a PF, passaram por análise e, com informações obtidas nas operadoras de telefonia, foi possível mapear os titulares das linhas usadas.
As informações constam de relatório produzido no âmbito da Operação Patmos, desdobramento do acordo de colaboração premiada dos executivos do Grupo J&F. Aécio foi alvo da operação após ser gravado pelo empresário Joesley Batista solicitando R$ 2 milhões para arcar com os honorários de um advogado.
O celular Nokia 1280 estava em nome de um agricultor do interior mineiro de nome Laércio de Oliveira. “Uma pessoa simples, agricultor de café, que, em tese, não pertence ao convívio social do investigado senador Aécio Neves da Cunha, donde se infere que seus dados pessoais podem ter sido usados para habilitação da linha sem o seu consentimento”, diz a PF.
O LG A275, que seria usado em conversas ponto a ponto, tinha uma linha em nome de Mitil Ilcher Durão, funcionário de uma empresa de engenharia cujo registro de domicílio remete ao Estado do Espírito Santo. Em pesquisa solicitada à operadora Vivo, a PF descobriu que os números usados ao longo dos anos no aparelho foram registrados em nome de Valquiria Julia da Silva, que tinha vínculo empregatício com a irmã de Aécio, e de Agnaldo Soares, ex-motorista de Andréa Neves e funcionário da Assembleia Legislativa de Minas.
“Os titulares das linhas telefônicas acima referenciadas são pessoas simples e não há de se descartar a possibilidade de tais linhas terem sido habilitadas sem o consentimento deles. Há de informar também que os últimos registros de ligações realizadas por aqueles aparelhos não denotam ser de pessoas de convívio social de assinantes daquelas linhas, haja vista o ramo de atividades em que atuam”, diz o relatório.
Defesa. Em nota enviada à reportagem, a defesa do senador informou que “não teve acesso ao relatório citado e estranha que ele tenha sido tornado público antes que pudesse prestar os esclarecimentos necessários”. “Esses aparelhos não foram localizados na residência do senador, que fica em Brasília, mas sim em um apartamento no Rio que era usado desde a última campanha eleitoral”, afirma o texto.