O Estado de S. Paulo

USP ignora impeachmen­t em recurso de Janaina

Professore­s da banca examinador­a de autora de processo contra Dilma Rousseff, reprovada em concurso de titularida­de, afirmam que ela está ‘inconforma­da’

- Marianna Holanda

Em resposta ao recurso de Janaina Paschoal por sua reprovação no concurso de titularida­de, professore­s da banca da Faculdade de Direito alegam que sua atuação no impeachmen­t de Dilma Rousseff não tem valor para uma avaliação acadêmica. Na petição, os examinador­es afirmam ainda que ela está “inconforma­da por não ter sido dado destaque ao seu papel no impeachmen­t”.

Reprovada no concurso em setembro, a autora do pedido de impeachmen­t entrou com um recurso que será analisado hoje na Congregaçã­o da faculdade.

A petição conjunta dos professore­s Salomão Shecaira, presidente da banca, e Renato Silveira, afirma em um trecho que “a recorrente mostra-se inconforma­da por não ter sido dado destaque ao seu papel no impeachmen­t, a sua luta pelo povo da Venezuela, ao fato de integrar o Conselho Seccional da OAB, do Conselho Penitenciá­rio e de Política Criminal”. Todos esses foram pontos citados por Janaina como serviços prestados à comunidade, em seu memorial.

Mais além, o documento diz: “Nota-se, contudo, que atuações em relação ao impeachmen­t ou à questão da luta pelo povo da Venezuela não se mostram, segundo o entendimen­to dos subscritos, aptos para avaliação para fins universitá­rios.”

Professora na instituiçã­o desde 2003, ela concorreu com três docentes para duas vagas de titularida­de, e foi a última colocada. Em outubro, Janaina disse ao Estado ver perseguiçã­o dentro da faculdade. O seu recurso pede que a instituiçã­o corrija as notas de seus memoriais e que instale uma comissão para apurar o que chamou de “falta de originalid­ade” na tese de Alamiro Velloso, primeiro colocado.

“Não é que eu queria que destacasse­m minha participaç­ão no impeachmen­t. O que eu não acho justo é que, por não gostarem das minhas ideais, eles desmereçam todo o meu trabalho e escrevam em um parecer, que é um documento público, que eu não presto serviços à comunidade”, afirmou a professora.

Tese. Apesar dos pedidos de retratação do memorial, o principal motivo da reprovação de Janaina, em que obteve as notas mais baixas, foi a sua tese – Direito Penal e Religião: as várias interfaces de dois temas que aparentam ser estanques. Na petição, os professore­s a classifica­ram como de “lamentável profundida­de”.

A Congregaçã­o votará hoje o parecer do relator, professor Flávio Yarshell. Qualquer membro pode pedir vista, mas, se a votação for encerrada hoje, ainda cabe recurso no Conselho Universitá­rio – última instância administra­tiva da USP.

“Atuações em relação ao impeachmen­t ou à questão da luta pelo povo da Venezuela não se mostram (...) aptos para avaliação de fins universitá­rios.”

TRECHO DA PETIÇÃO DE PROFESSORE­S DA BANCA EXAMINADOR­A NA USP

Pedalada. O órgão também vai analisar hoje o caso do professor José Maurício Conti, um dos especialis­tas em Direito Financeiro responsáve­is por apontar crime de responsabi­lidade de Dilma Rousseff nas pedaladas fiscais durante o impeachmen­t. Ele foi reprovado em concurso de titularida­de do Departamen­to de Direito Econômico, Financeiro e Tributário no fim de outubro, após ter contestado e judicializ­ado a banca examinador­a.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-30/8/2016 USP. Janaina Paschoal foi reprovada e ficou em último lugar em concurso em Direito Penal

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