Governo russo dá salvo-conduto para os cartolas da Fifa
Dirigentes receberam garantias de que não seriam extraditados para os Estados Unidos, onde vários são investigados
Enquanto um tribunal em Nova York se transforma em palco de um julgamento da estrutura do futebol internacional, Moscou vive um clima radicalmente diferente ao receber com pompa a cúpula da cartolagem mundial. Num esforço para demonstrar sua proximidade com a Fifa, o Kremlin garantiu aos dirigentes que, no país de Vladimir Putin, jamais seriam incomodados, muito menos extraditados para os Estados Unidos.
O tratamento que o governo russo planeja dar aos dirigentes da Fifa nos próximos dias é equivalente ao de chefes de Estado. Para o sorteio a ser realizado amanhã, seis mil convidados da elite econômica e política da Rússia estarão presentes. Já os cartolas, com a moral duramente afetada nos últimos dois anos, voltarão a ser colocados no centro das atenções. Percorrerão a cidade em carros de luxo, motoristas e um amplo aparato de segurança.
A retribuição é clara: apesar de o Comitê Olímpico Internacional (COI) apontar que o presidente do Comitê Organizador da Copa, Vitaly Mutko, foi quem organizou o doping de estado entre os atletas russos, a Fifa se recusa a investigá-lo. Mutko, entre os vários cargos que teve, também foi membro do Conselho da Fifa.
A relação privilegiada da corte russa com a aristocracia da Fifa vem já de 2010, quando Moscou surpreendeu o mundo e conquistou o direito de sediar o Mundial. Documentos obtidos pelo Estado mostram que, durante meses, os russos levaram até Moscou os cartolas com suas famílias. Passagens de classe executiva e hotéis de luxo foram oferecidos a Rafael Salguero, Amos Adamu, Jack Warner, Mohammed Bin Hammam, Hany Abo Rida e Chung Mong Joon, todos executivos da Fifa hoje banidos do futebol e indiciados em alguns países. Outros ainda ganharam ingressos VIP para o Bolshoi e tiveram a honra de ser recebidos individualmente por Putin.
Agora, para o sorteio, o Estado apurou que foi o próprio governo russo que deixou claro aos dirigentes que suas estadias em Moscou estavam blindadas de qualquer risco e que ninguém seria extraditado para os EUA.
Indiciado nos EUA e sem poder viajar para o exterior, Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, recebeu um convite para estar em Moscou como presidente de federação classificada para o Mundial. Mas, para viajar, teria de ter também garantias de que o voo não faria qualquer tipo de escala até chegar à Rússia. Nem por questões climáticas. Sobre isso, os russos não puderam dar garantias.