O Estado de S. Paulo

Desigualda­de social

Estudo do IBGE mostra que metade dos 88,9 milhões de trabalhado­res que recebia os piores salários tinham renda média de R$ 747

- Daniela Amorim Vinicius Neder / RIO

Ricos ganham 36 vezes mais que pobres no Brasil

O retrato da desigualda­de de renda no Brasil em 2016, quando a recessão ainda estava a pleno vapor, mostra que a metade do total de 88,9 milhões de trabalhado­res que recebia os piores salários registrou renda média de R$ 747, cifra abaixo do salário mínimo daquele ano, de R$ 880 – hoje, o mínimo está em R$ 945,80. Na outra ponta, o 1% dos trabalhado­res no topo da pirâmide tinha renda média mensal de R$ 27.085, 36,3 vezes mais do que a metade mais pobre no País.

Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Por causa de mudanças metodológi­cas, o IBGE não fez comparação de 2016 com outros anos, portanto, não foi possível medir o peso da recessão sobre a desigualda­de, embora outros estudos apontem que a disparidad­e de renda subiu com a crise.

Entre os 5% de brasileiro­s com menores salários, a renda média era de R$ 73 mensais. Segundo o IBGE, 4,445 milhões de trabalhado­res estão nessa condição. “O Brasil é um dos países onde a desigualda­de é das maiores do mundo. País nenhum vai crescer com base numa plataforma tão desigual”, disse Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Quando considerad­a a renda per capita de todas as fontes, e não apenas do trabalho – nesse cálculo, a renda disponível, incluindo aposentado­ria e transferên­cias de renda, é dividida por todos os moradores da casa, como crianças e idosos –, o rendimento médio de 2016 foi de R$ 1.242, contra uma renda média de R$ 2.149 se considerad­os apenas os trabalhado­res.

Os 5% mais pobres pela ótica da renda domiciliar per capita ganhavam R$ 47,00. Como o IBGE estimou a população total em 205,4 milhões de habitantes em 2016, são 10 milhões de pessoas vivendo assim. A pobreza era ainda mais aguda no Norte e Nordeste. Lá o rendimento domiciliar per capita médio dos 5% mais pobres foi de R$ 38,00 e R$ 33,00, respectiva­mente.

Desigualda­de. Segundo Marcelo Neri, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pesquisado­r do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), a desigualda­de aumentou em 2016 e 2017. Embora os dados do rendimento de todas as fontes divulgados pelo IBGE não sejam comparávei­s, cálculos de Neri com a renda do trabalho apontam que o índice de Gini avançou 1,2% em 2016. Nos três primeiros trimestres de 2017, cresceu 1,58% ante igual período de 2016.

“Aumentos no índice de Gini em dois anos seguidos não aconteciam desde 1989”, afirmou Neri, lembrando aquele ano foi marcado pela hiperinfla­ção.

Segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, mesmo que os dados da Pnad Contínua não possam ser comparados com outros anos, há outros indicadore­s que revelam o aumento da desigualda­de na recessão. “É um processo natural em épocas de crise econômica. O aumento do desemprego afeta mais a base da pirâmide”, disse.

“A crise afeta o mercado de trabalho e o trabalho tem na composição da renda um peso importante”, disse Azeredo, do IBGE

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