O Estado de S. Paulo

Após três anos fechado, CCSP reabre Porão

Palco de montagens experiment­ais nos anos 1990, espaço Ademar Guerra estreia com ‘Pequenas Certezas’, mas ainda não funcionará com carga total

- Leandro Nunes

O desapareci­mento de Mario é um fantasma que assola a todas as personagen­s de Pequenas Certezas, texto da mexicana Bárbara Cólio que reabre o Porão do Centro Cultural São Paulo, nesta sexta, 1º. Tanta ausência cabe bem nos mais de 1 mil metros quadrados da sala Ademar Guerra, que estava interditad­a desde 2014, aguardando liberação de recursos para adequação a normas de segurança e a instalação de uma grelha cênica – aparato para fixação de refletores.

O convite para a direção de Fernanda D’Umbra tem relação mais que direta ao Porão. Nos anos 2000, o então curador de teatro do CCSP, Sebastião Milaré, indicou o espaço como opção para o projeto do Cemitério de Automóveis, grupo de Mário Bortolotto, do qual a diretora fazia parte. “Milaré avisou que não havia nada lá, apenas as paredes e o chão mesmo”, recorda D’Umbra. Em uma temporada de três meses, o grupo estreou 11 espetáculo­s. Em seguida, mais 26 peças, de terça a domingo, duas sessões diferentes por dia. “Vimos que as possibilid­ades do Porão eram imensas e queríamos fazer todo o possível lá. Na época, foi tudo sem apoio, com dinheiro emprestado, fazendo fiado e tudo.”

Nesse retorno, a diretora conduz a narrativa que une desafetos em torno do desapareci­mento de Mario (não o Bortolotto), um sujeito que burlou assinatura­s e deixou heranças para estranhos. “Trata-se de uma família abandonada, de pessoas que se apoiavam nele e agora não têm mais nada. A vastidão desse lugar aponta para o vazio encontrado em suas vidas”, explica ela. Mas nada disso significa contar uma história mal humorada e com figuras em depressão. Pelo contrário. “A autora une uma boa trama, com todos personagen­s interessan­tes, com bons diálogos, coisa rara de se encontrar em dramaturgi­as contemporâ­neas”, diz Fernanda. No fundo do Porão, as pilastras formam molduras para as muitas conversas entre as famílias interligad­as por Mario. A escuridão da sala é esculpida pela luz de Aline Santini, que conecta a dramaturgi­a a um elemento citado na peça o tempo todo. “Eles falam muito sobre foto como registro e documento”, conta a diretora. “Seja para aliviar a memória ou para provar algo. As verdades e mentiras nunca são expostas totalmente, mas também nunca estão ocultas por inteiro. Há sempre uma luz que as delimita.”

A boa notícia de reabertura do Ademar Guerra vem acompanhad­a da criação de três nichos cênicos para realização de temporadas – não simultânea­s – no Porão, já que o som pode vazar. No entanto, apenas o nicho de Pequenas Certezas está completo, incluindo arquibanca­das, cadeiras e toda infraestru­tura de luz e som. A ocasião também interdita, por enquanto, o uso do anexo Adoniran Barbosa, que recebeu peças como Cabras – Cabeças que Voam, Cabeças que Rolam (2016), A Macieira (2016) e O Corpo que O Rio Levou (2017).

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Subsolo. Sala com 1.074 m2²poderá abrigar três peças em cartaz em 2018

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