O Estado de S. Paulo

Pombas Urbanas celebra público de 20 mil por ano

Há 13 anos em um centro cultural na Cidade Tiradentes, grupo atende 10% dos moradores do bairro com peças e oficinas

- / L.N

Com um sistema de ruas conhecido como “espinha de peixe”, a Cidade Tiradentes, extrema zona leste, inspira que as fronteiras existentes sejam ambientes propícios para histórias. No bairro criado nos anos 1970 para dar conta de famílias desalojada­s por obras públicas, também existe, desde 2004, o Centro Cultural Arte em Construção, onde o grupo Pombas Urbanas encerra temporada de Cidade Desterrada, neste sábado, 2, e domingo, 3. “As ruas se conectam apenas com as avenidas, mas não entre si. No início, os moradores precisavam mostrar o documento da moradia para entrar e sair, como medida de segurança”, conta o ator Adriano Mauriz, integrante do grupo fundado pelo peruano Lino Rojas, morto em 2005.

Foi nessa mesma época que as ruas só recebiam uma linha de ônibus, deixando moradores reféns de transporte público. Um dia, cansados de tanto esperar, os passageiro­s prenderam o fiscal da companhia e alertaram à empresa responsáve­l que ele só seria solto quando liberassem mais ônibus para a região. “Nós descobrimo­s muitas histórias como essa em encontros com antigos moradores. Eles recordam das transforma­ções que o bairro sofreu.”

Em 2010, a população somava mais de 220 habitantes nos mais de 40 conjuntos habitacion­ais, um dos maiores projetos do gênero da América do Sul. A atriz Cinthia Arruda discorda do cálculo e isso também é discutido na peça que tem como parceiros o figurinist­a Carlos Alberto Gardin, de Castelo RáTim-Bum, e iluminação de Edgar Duprat, do Ballet Stagium. “Além das moradias, há muitas ocupações em terrenos que ultrapassa­m 200 mil pessoas. É difícil chegar a esses números, porque elas não têm endereço fixo e então não integram as estatístic­as”, afirma Cinthia. Em apenas um ano, o Centro Cultural já conseguiu atender quase 10% dessa população, entre flutuantes e fixos, ou seja, mais de 40 mil pessoas, em aulas de música, circo, dança, e serviços de biblioteca.

O antigo supermerca­do com 1.600 metros quadrados abriga a sede do grupo e outras três companhias. Hoje, serve de espaço para picadeiro, teatro, salas de administra­ção e biblioteca com mais de 10 mil livros batizada com o nome de Milton José Assunção, dramaturgo negro morador do bairro que trabalhava como ponto – profission­al que “soprava” as falas caso os atores esquecesse­m – no TBC, no Bexiga, e que escreveu mais de 20 peças. Entre os próximos projetos, o centro cultural quer montar uma sala multimídia, um teatro ao ar livre, e encenar as peças de Assunção.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO No galpão. Figurinos do criador de ‘Castelo Rá-Tim-Bum’

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