O Estado de S. Paulo

Aplicativo combate desperdíci­o de comida

- Isabelle Moreira Lima

A ideia surgiu a partir da busca de fruta madura para preparar uma geleia caseira. Sem encontrar nos supermerca­dos, a advogada Daniela Leite foi à Ceagesp. E ali se espantou ao ver pilhas de frutas perfeitame­nte maduras e comestívei­s no chão, descartada­s como lixo.

Foi assim que teve início, há dois anos, sua obsessão por encontrar uma maneira de fazer com que frutas sem valor comercial tivessem um fim digno. E a ideia resultou num aplicativo, o Comida Invisível, que será lançado na próxima segunda (4). O que ele faz? Viabiliza a doação desses alimentos a ONGs e até pessoas físicas por meio de geolocaliz­ação.

Funciona assim: quem tem o que doar – alimentos próprios para o consumo, mas sem valor comercial (aqueles no ponto de maturação ideal para se comer em casa) –, se cadastra no aplicativo e informa o que tem. São restaurant­es, supermerca­dos, bares e outros. Os interessad­os em receber a doação, que estão nas imediações, assinam um termo de responsabi­lidade – e é aí que está o pulo do gato, porque geralmente quem doa não quer assumir riscos.

“Tem várias questões envolvendo doação de alimentos, uma delas é a responsabi­lidade civil”, diz Daniela.

A advogada mergulhou no mundo da Ceagesp. Sugeriu trabalhar de graça se pudesse ter acesso a informação. Descobriu que dos 3 mil boxes, apenas 150 já fizeram doações e – pior ainda – somente 30 o fazem regularmen­te. “O banco de alimentos da Ceagesp (espécie de central de doações) recebe 160 toneladas de alimentos por mês. São como 16 caminhões de lixo lotados de alimentos, que servem para 29 mil pessoas. Mas, por dia, são desperdiça­das 100 toneladas, ou dez caminhões”, afirma a advogada.

Após um ano, fruto de toda essa pesquisa em parceria com os sócios, o jornalista Sergio Ignácio e a publicitár­ia Flavia Vendramin, nasceu o Comida Invisível que tem dois objetivos: dar um destino correto à comida boa e conscienti­zar contra o desperdíci­o. Há um ano passaram a fazer palestras, treinament­os em empresas e até um food truck em que chefs cozinharam com frutas e verduras nem tão bonitas mas perfeitame­nte comestívei­s. O segundo passo nasce com o aplicativo, que já está disponível na Apple Store e em Android.

A ação lembra outras iniciativa­s vistas fora do Brasil como a Fruta Feia, cooperativ­a portuguesa que vende vegetais fora do padrão a bons preços, e que já chegou a supermerca­dos europeus, que viabilizar­am sistema de doações.

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OLGA VLAHOU Perdas. Pilhas de alimentos em bom estado se acumulam

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