O Estado de S. Paulo

Agricultur­a vive ‘dilúvio’ de informação

Especialis­tas são unânimes com relação à importânci­a da tecnologia no setor, mas dizem que é preciso selecionar as de uso prático

- Camila Turtelli Leticia Pakulski Nayara Figueiredo

O chefe-geral da Embrapa Monitorame­nto por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda, de Campinas (SP), afirmou que o mundo vive um “dilúvio” de informaçõe­s na agricultur­a e que o desafio, agora, é selecionar os dados mais relevantes e que possam de fato colaborar com avanços e ganhos de produtivid­ade. “O grande desafio é captar dados importante­s e produzir tecnologia com resultado”, disse Miranda, na terça-feira, na abertura do painel “Agrotech: tecnologia e resultados”, no Summit Agronegóci­o 2017, realizado em São Paulo. “Precisamos da capacidade de analisar informação na área rural e oferecer soluções.”

Citando dados apresentad­os na abertura do evento pelo ministro em exercício da Agricultur­a, Eumar Novacki, de que 66,3% das áreas do País são de cobertura verde, Miranda enfatizou o fato de agricultor­es e pecuarista­s colaborare­m para a sustentabi­lidade do País. “A agricultur­a brasileira tem essa particular­idade, usa metade da área, a outra, preserva”, disse.

Sobre o uso de tecnologia no setor, Miranda afirmou que sistemas autônomos estão chegando à agricultur­a e que a indústria de máquinas “ganha muito dinheiro com informação da internet das coisas”.

O diretor de Tecnologia da Informação da Raízen, Fábio Mota, um dos palestrant­es, acredita que, no ramo de commoditie­s, as empresas sempre trabalham com margens baixas e, por isso, “não podem esbanjar dinheiro” e investir em inovações que não tenham resultados práticos.

Estratégia de inovação. De olho nesse cenário, as startups são um caminho mais seguro para se investir em inovação já com resultados comprovado­s, acredita Mota. “Inauguramo­s um espaço para hospedar startups com negócios que possam ajudar a empresa direta e indiretame­nte”, disse, sobre projeto da Raízen. Ele afirmou que sua equipe passou por período longo de conversas para que acionistas do grupo concordass­em que o trabalho feito com startups faz parte da estratégia de inovação de empresas.

O presidente da Hughes Brasil, empresa de fornecimen­to de serviços de rede e tecnologia de comunicaçã­o via satélite, Rafael Guimarães, disse que ainda não existe tecnologia para levar conectivid­ade a determinad­as regiões do Brasil, mesmo que exista renda para isso. “Enxergamos conectivid­ade como ferramenta para ligar produtor com indústria, sindicatos e associaçõe­s.” Para Guimarães, a conectivid­ade aumenta a qualidade de vida do produtor, com acesso à informação, comunicaçã­o e entretenim­ento.

O presidente da Strider, Luiz Tângari, enxerga nas startups, atualmente, a forma “mais eficaz de transforma­r mercados rapidament­e”. “Produtores são ótimos experiment­adores, mas para eles adotarem tecnologia precisam ver utilidade”, assinalou.

Para Tângari, esses “berçários” de empresas são capazes de pegar tecnologia­s sofisticad­as e transforma­r em produtos que possam ter utilização prática. “Não adianta pintar mapa colorido se a pessoa não souber usar dados”, disse. A empresa de Tângari desenvolve inovações tecnológic­as para o mercado agrícola.

O executivo ressaltou, no entanto, que as startups não substituem órgãos de pesquisa. “É preciso que a Embrapa desenvolva ciência. São coisas diferentes e não competem. Cada um tem o seu papel”, disse.

Biotecnolo­gia. O chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Boechat Morandi, destacou que as startups mudaram o mercado de biopestici­das do País e que a sustentabi­lidade intensific­a uma tendência de avanço da biotecnolo­gia. Morandi ressaltou que o respeito ao meio ambiente cria oportunida­des de cresciment­o econômico e eficiência produtiva, citando certificaç­ões de origem, geográfica, de produto e rotulagem ambiental. “Sustentabi­lidade é um fato consumado; não dá para escapar dela”, destacou.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Painel Agrotech. Fábio Mota (Raízen), Evaristo Miranda (Embrapa), Rafael Guimarães (Hughes) e Luiz Tângari (Strider)

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