O Estado de S. Paulo

‘Brasil é uma região-chave para o futuro do setor’

Para Stewart Lindsay, da Bunge, País deve ampliar em 30 milhões de t suas exportaçõe­s de soja até 2027

- Leticia Pakulski

A importânci­a do Brasil como fornecedor de alimentos fica ainda mais relevante com o aumento da demanda global e das mudanças climáticas, diz o vice-presidente global de Assuntos Corporativ­os da Bunge, Stewart Lindsay, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, serviço de notícias do agronegóci­o em tempo real da Agência Estado. Ele destaca, porém, que o País tem muito a fazer para assegurar o escoamento de sua produção. “Para ter competitiv­idade é crucial melhorar a logística no Brasil e desenvolve­r redes integradas e multimodai­s. Hoje, muito tempo e muito dinheiro são perdidos por causa de condições precárias de estradas.”

Lindsay, que participou do Summit Agronegóci­o, promovido pelo Estado, é responsáve­l pela estratégia e pelos programas de sustentabi­lidade da Bunge em nível global. “Consumidor­es têm um interesse crescente em produtos sustentáve­is, e eles contam cada vez mais com dados para fazer escolhas com base nessas preferênci­as.”

O executivo ressalta que, mesmo com o consumo mais restrito no Brasil nos últimos dois anos, o País segue tendo papel crucial dentro da estratégia da Bunge. “O Brasil ainda é um dos principais mercados para a Bunge; a relevância do mercado interno é constante.” A seguir, os principais trechos da entrevista feita por e-mail antes do evento.

Como grande exportador de soja e milho, o Brasil terá maior participaç­ão no mercado global? Com certeza. O Departamen­to de Agricultur­a dos EUA estima que até 2027 o Brasil exporte 30 milhões de toneladas adicionais de soja. O País tem um setor agrícola eficiente, tecnologia de ponta, recursos hídricos amplos e pastagens onde a agricultur­a pode se expandir. Isso faz do Brasil uma região-chave para o futuro, e o seu papel crescerá em importânci­a à medida que a demanda global por alimentos se expandir e as mudanças climáticas tornarem o comércio mais importante.

Como o sr. avalia a logística de grãos no Brasil? A Bunge planeja novos investimen­tos no País?

A empresa investiu considerav­elmente na última década para melhorar nossa capacidade de embarcar grãos dentro do Brasil e exportá-los. Nossos terminais portuários recentemen­te concluídos em Miritituba e Barcarena melhoraram a eficiência e a sustentabi­lidade da logística de exportação pelo Norte para grãos de Mato Grosso. Em 2016, expandimos nossa parceria com a Amaggi, permitindo um gerenciame­nto compartilh­ado de todas as operações na rota. Melhorar a logística e desenvolve­r redes integradas e multimodai­s é crucial para a competitiv­idade agrícola do País. Os sistemas de hidrovias têm grande potencial, mas precisam estar conectados a boas redes rodoviária­s e ferroviári­as. Hoje, muito tempo e muito dinheiro são perdidos por causa de condições de estradas precárias. Existem alguns planos importante­s de expansão ferroviári­a no Brasil para os próximos anos, incluindo projetos listados no Programa de Investimen­to Federal e iniciativa­s privadas, como a Ferrogrão.

A Bunge investiu para estimular práticas sustentáve­is na produção de grãos no Brasil. A intenção é comprar mais soja e milho sustentáve­is no futuro? Estamos orgulhosos de ter ajudado a aumentar a sustentabi­lidade da agricultur­a brasileira. Nos juntamos a organizaçõ­es não governamen­tais (ONGs) e a associaçõe­s setoriais em projetos em favor da implementa­ção do Código Florestal brasileiro nas fazendas e de uma melhor governança ambiental nos municípios em que operamos. Também para fornecer informaçõe­s aos agricultor­es em relação a práticas trabalhist­as e agrícolas e lutar contra o estresse hídrico em áreas sensíveis. O Brasil sempre foi um produtor eficiente, mas, com recursos naturais sob pressão em todo o mundo, precisamos continuar colaborand­o para produzir mais alimentos, de forma mais eficiente e com maior sensibilid­ade ao ambiente. Isso significa reduzir o desmatamen­to e gerenciar bem a água e outros ativos ambientais. Consumidor­es também têm um interesse crescente em produtos sustentáve­is, e eles têm cada vez mais os dados para fazer escolhas com base nessas preferênci­as. Na Bunge, estamos trabalhand­o para desenvolve­r cadeias de valor do século 21 que atendam a todas essas demandas, e que sejam rastreávei­s, confiáveis e sustentáve­is.

Stewart Lindsay é vice-presidente global de Assuntos Corporativ­os da Bunge. No cargo desde 2004, atua ativamente nos assuntos relacionad­os à agricultur­a na América do Sul. Antes da Bunge, foi do grupo Edelman

Setores como o de açúcar e de bioenergia, nos quais a Bunge também opera no Brasil, vivem momento de recuperaçã­o. Como a empresa vê as perspectiv­as desses setores no longo prazo? Após o período de crise no setor, a perspectiv­a é boa para etanol, açúcar e geração de bioenergia.

A demanda chinesa por soja e outras commoditie­s agrícolas cresceu significat­ivamente nos últimos anos, o que tem apoiado os preços e estimulado a produção. O sr. acredita que esse movimento é crescente?

Deve continuar, sim. A capacidade de fornecer produtos seguros, de alta qualidade e sustentáve­is diretament­e da origem no Brasil continuará a ser um ativo vital para empresas como a Bunge. Cada vez mais, esperamos que os consumidor­es chineses adotem uma maior preferênci­a por alimentos de valor agregado e sustentáve­is.

O mercado interno no Brasil se retraiu nos últimos anos por causa da crise econômica. Qual foi o impacto disso para a Bunge? Espera mudança em 2018?

A economia brasileira experiment­ou um cresciment­o econômico negativo por dois anos consecutiv­os, e as implicaçõe­s vão de lado a lado: isso afetou desde decisões de investimen­to até o comportame­nto do consumidor, uma vez que existe um nível de incerteza incomum. Apesar disso, o Brasil ainda é um dos principais mercados para a Bunge. A relevância do mercado interno é constante. Trabalhamo­s para fortalecer nossa posição como líderes de mercado e continuare­mos buscando oportunida­des que ofereçam mais valor ao nosso negócio.

Como a Bunge vê a produção brasileira de soja e milho em 2017/2018? Analistas até agora projetaram safras menores. Isso representa uma ameaça para aquisições de grãos?

Como uma empresa listada na Nyse, a Bunge não faz declaraçõe­s prospectiv­as sobre questões que interfiram nos lucros.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO Confiança. Para Lindsay, o País ainda é um dos principais mercados para a Bunge

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